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A identidade visual do 13º Festival Varilux de Cinema Francês é realmente muito bonita. O azul e amarelo dos cartazes, banners e afins fazem alusão à Ucrânia – país que segue sendo bombardeado pela Rússia numa guerra que vem se arrastando há algum tempo. A imagem principal dessa identidade visual mostra os atores Romain Duris e Virginie Efira dançando abraçados. Essa cena é tirada de Esperando Bojangles (2021), um dos destaques da programação do evento que acontece no Brasil entre os dias 21 de junho e 06 de julho e movimenta espectadores em cerca de 50 cidades do país. Na trama, um homem e uma mulher frequentemente celebram o seu amor singular dançando Mr. Bojangles, canção interpretada por Nina Simone. Esse relacionamento tem espaço apenas para diversão, amores e amigos. Mas, algo coloca em risco a festa perpétua e o filho pequeno do casal testemunha uma derrocada desse paraíso feito de sons, cores e poucas preocupações. De passagem pelo Rio de Janeiro, integrando a comitiva francesa que veio especialmente para o festival, o cineasta Régis Roinsard concedeu uma breve entrevista para o Papo de Cinema. Na pauta, a construção desse conto de fadas às avessas e o trabalho com o elenco. Confira.

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O filme inverte a lógica dos contos de fada, pois começa na felicidade e vai ficando cada vez mais denso e melancólico. Como foi trabalhar essa oscilação com Romain Duris e Virginie Efira?
De fato, o filme começa muito bem para esse casal e, ao longo da trama, acontecem diversos momentos de loucura com os dois. Às vezes as coisas vão bem, noutras elas caminham muito mal. Foi um trabalho bastante exigente para os atores, pois demandou inúmeras conversas em grupo para encontrarmos o tom de como tudo seria feito e conduzido. No fundo, gosto de fazer algo que fique sobre o fio da navalha, ou seja, quando os personagens são obrigados a se equilibrar sobre algo que os pode cortar. Mas, de fato, foi uma construção bastante árdua.

Mas, no todo essa produção parece muito exigente…
Sem dúvida. A direção de arte, os figurinos, tudo demandava. Mas, era imprescindível que não perdêssemos de vista uma coisa: precisávamos soprar vida para dentro disso tudo. Isso era vital para que o casal funcionasse em cena. Gosto muito das mudanças de tom, para mim, elas dão um toque realista nas histórias que vemos no cinema. Por exemplo, aqui na nossa entrevista, agora. Estamos num momento leve, tranquilo, mas alguém simplesmente pode cair de uma hora para outra. Esse é o verdadeiro drama, essa imprevisibilidade. Sinto que às vezes falta um pouco disso em alguns dramas nos quais é construída uma evolução lógica, mas as coisas às vezes acontecem num estalo.

E você tem dois atores consagrados como protagonistas, mas o desempenho do pequeno Solan Machado Graner como o filho desse casal é também impressionante. Como foi o processo dele?
Na verdade, o Solan nem iria fazer o teste para o papel. Ele apenas acompanhava o seu irmão mais velho no processo do casting. Solan não queria participar, mesmo quando o notamos e o convidamos. Até que ele acabou aceitando. Fez uma primeira cena e prontamente levou todo mundo às lágrimas. Mais tarde, precisamente três dias depois, fizemos uma nova cena e novamente todo mundo foi às lágrimas. Sabíamos ali que Solan era o garoto ideal para esse papel tão exigente. Na verdade, no fim das contas, ele foi escolhido entre as cerca de 1500 crianças que testamos.

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Régis Roinsard nos bastidores com Solan Machado Graner. Foto/divulgação

E como foi a integração desse estreante com o Romain Duris e Virginie Efira?
Para começo de conversa, era essencial que o menino conseguisse realmente estabelecer uma dinâmica familiar com os intérpretes de seus pais. Já nas leituras, isso estava acontecendo quase naturalmente. O Solan realmente tinha encarnado o espírito de como representaria o filho deles. Nessas dinâmicas de ensaio ele já encarava o Romain e a Virginie como pai e mãe. Para se ter uma ideia, em determinado dia estávamos rodando  uma cena da qual o Solan não faria parte. Nela não havia o personagem do menino. Era uma cena do casal principal com o melhor amigo deles. E Solan permaneceu no set. Disse para ele “você pode ir para seu camarim, não precisa ficar aqui de plantão”, e ele disse “não, preciso assistir aos meus amigos”. Aí respondi “o Romain e a Virginie?” e ele replicou “não, o Georges e a Camille”, ou seja, estava imbuído das energias de seu personagem mesmo nos momentos de folga.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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