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Nascido em 1984 na cidade de Paso de Los Libres, na fronteira da Argentina com o Brasil, Gerardo ‘Papu’ Curotto é um dos novos nomes a surgir no cinema argentino recente. Formado em Cinema pelo Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales (ENERC – INCAA), é especialista em Desenho de Imagem & Som pela Universidade de Buenos Aires. Após trabalhar com publicidade e televisão, iniciou sua carreira como realizador cinematográfico com o curta Matías y Jerónimo (2014), selecionado para o Festival Internacional de Cinema de Buenos Aires. Logo em seguida, começou a trabalhar no seu longa de estreia, Esteros (2016), que teve sua primeira exibição no Brasil durante a mostra competitiva latina do 44° Festival de Gramado, de onde saiu premiado como Melhor Longa pelo Júri Popular. O drama, sobre dois amigos de infância que, anos depois, se reencontram e se descobrem apaixonados um pelo outro, foi exibido também no Festival Mix Brasil, no Toronto Inside Out Film Festival, no Outfest Los Angeles e no Hong Kong Lesbian and Gay Film Festival. E foi durante a passagem pela Serra Gaúcha que o Papo de Cinema conversou com exclusividade com o diretor argentino. Confira!

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Papu Curotto (ao centro, com o kikito) no Festival de Gramado 2016

Como foi a escolha do cenário e da ambientação da trama de Esteros, na fronteira entre Brasil e Argentina?
Eu sou de Passo de Los Libres, nasci e vivi lá grande parte da minha vida, até ir para a universidade. Esteros é o meu primeiro longa-metragem, e a ideia sempre foi filmar na minha cidade. Pra mim, os estuários são a zona onde passava os meus verões, quando era criança, e o campo, onde fizemos o filme, também frequentei muito. São lugares muito queridos para mim.

 

Como surgiu a ideia de uma coprodução entre Brasil e Argentina?
O projeto começou entre nós três – roteirista, produtor e eu. Nós temos uma empresa, a Hain Cine, e contamos com a parceria da Mulata Produções, que é argentina. Nós todos moramos em Buenos Aires, atualmente. Foram eles, portanto, que nos apresentaram ao pessoal da Latina Estudio, e foi assim que o filme começou a ganhar forma.

 

No filme, um dos protagonistas mora em Paso de los Libres, porém ele trabalha com cinema, desenvolvendo efeitos especiais. Isso é verossímil?
Com certeza. É preciso conhecer não apenas essa região, mas também quem desenvolve esse tipo de trabalho hoje em dia. Tudo é possível através da internet. Você pode estar em qualquer lugar do mundo, basta estar conectado. Essa era uma dúvida que nós também tínhamos, e achamos importante mostrar, pois essa mudança afeta a todos.

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Os meninos que interpretam os protagonistas de Esteros na infância

Essas parcerias para a produção, se estendem também à distribuição de Esteros?
Sim, com certeza. E vamos além. Esteros vai ser exibido em outros países também, como os Estados Unidos, por exemplo. Mas, para nós, antes de qualquer coisa, era importante ir sentindo o público, aos poucos. Por isso a passagem pelos festivais, como Gramado e o Mix Brasil, duas oportunidades que nos renderam um retorno incrível.

 

Esteros foi filmado no segundo semestre de 2015. É uma jornada fazer um filme, não é mesmo?
Tudo tem sido muito rápido para nós. Já estou trabalhando no meu segundo roteiro, que também será uma história de gênero, sobre o universo LGBT, mas, ao mesmo tempo, não poderia abandonar esse meu primeiro “filho”, é claro. Então, desde o surgimento da ideia, as filmagens, a finalização, passagens pelos festivais e, agora, entrando finalmente em cartaz, tem sido uma experiência e tanto. Para nós, foi quase como um respiro e, pronto, tudo isso aconteceu! E isso era importante, pois somente com o que aprendemos com esse é que poderemos planejar o próximo, entende? Tudo faz parte de um processo.

 

Além dos dois protagonistas – Ignacio Rogers e Esteban Masturini – que são argentinos, há também brasileiros no elenco, como o Felipe Titto e a Renata Calmon. Como eles entraram no projeto?
Pois então, a produção precisava de atores que soubessem falar tanto espanhol quanto português. Parece simples, mas não é. O próprio roteiro, para se ter ideia, havia nos dois formatos, em ambas as línguas. E não porque seria necessário decorar duas vezes todas as falas, mas porque a língua falada na fronteira é naturalmente uma combinação das duas, o conhecido ‘portunhol’. Então era importante ter esse domínio e fazer, cada um, a sua mistura. A Renata é carioca, então, para ela, foi mais difícil esconder o sotaque do Rio de Janeiro e convencer como gaúcha do que falando espanhol, pois essa fala misturada é naturalmente característica daquela região.

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Cena de Esteros

Chegaram a ter ensaios com o elenco antes das filmagens?
Sim, com certeza. Tivemos um tempo de preparação, apenas eu com os atores, e isso foi muito importante, ainda que curto. É complicado você ser apresentado a uma pessoa que nunca viu na vida e descobrir que ele é o seu namorado, logo vão estar se beijando, na cena seguinte vão transar, e assim vai. Então essa oficina que tivemos antes, um tipo de workshop, deixou todos muito à vontade para interagirem entre si e adquirirem uma liberdade maior entre si. Foi um tempo muito reduzido, mas de muita entrega entre todos.

 

A química entre os protagonistas é notável no filme. Isso precisou ser construído?
Os dois meninos, que os interpretam quando crianças, não são atores. Para mim, era importante também que fossem daquela região. Fizemos uma seleção em todas as escolas da cidade, porém sem dizer que era para um filme. Foi algo secreto, pois queríamos naturalidade. Somente quando já tínhamos algo mais ou menos definido, em vista daqueles que achávamos que serviriam para os papeis, aí, sim, fomos conversar com os pais, e eles é que explicaram para os meninos. Quando estava tudo claro, podemos dar início aos trabalhos, primeiro a partir dos olhos, do modo como cada um via o outro. Essa foi uma maneira de entrarem em confiança um com o corpo do outro.

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Cena de Esteros

E com os adultos?
Também foram escolhidos através de testes. O primeiro a ser escolhido foi o personagem de Matias, interpretado pelo Ignacio Rogers. Com ele em mente, fomos atrás de quem combinaria, e aí surgiu o Esteban Masturini, que interpretou o Jeronimo.

 

Esteros lembra um pouco Havaí (2013), filme argentino do Marco Berger. Você o citaria como influência? Quais foram tuas principais referências?
Eu gosto muito do Marco Berger, ele é, certamente, uma referência na Argentina, ainda mais no cinema LGBT. Mas não diria que foi uma influência direta para mim. Eu procurei algo mais pessoal, nas minhas próprias memórias, entende? Eu o conheço, é um cara muito legal, um excelente profissional. É uma honra ser comparado a ele.

 

Você comentou que já está trabalhando num próximo filme, que também será sobre a identidade sexual. O que pode adiantar sobre ele?
O filme vai ser chamar Leãozinho. E não, não é baseado na canção do Caetano Veloso (risos). Adoraria tê-lo na trilha sonora, mas não vai ser dessa vez. É a história de uma mulher brasileira que mora na Argentina. Ela tem mais de 50 anos e é casada com outra mulher, e juntas, tem um filho. De repente, sua companheira morre, e acompanhamos o drama da personagem da Julia, essa brasileira, tendo que lidar com a situação, procurando se recuperar da perda e decidindo o que fazer com o trabalho, com a família, e com a família de sua companheira. Ainda mais morando em outro país, que não é o seu.

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Os protagonistas de Esteros

Esteros já passou por vários festivais, muitos de temática LGBT. Qual a importância desses convites?
É muito importante, tanto os de gênero quanto os mais abertos. Como ter ido a Gramado, por exemplo, que nos ofereceu uma vitrine muito maior. É um filme muito importante, ainda mais nesse momento no Brasil. É muito delicado, trata da questão do amor dos protagonistas de uma forma tão bonita, é muito tocante. O mercado também está aberto, e a recepção, além de surpreendente, tem sido ótima.

(Entrevista feita ao vivo em Gramado em setembro de 2016)

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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