O cinema cristão tem se destacado cada vez mais nas telas brasileiras. Filmes como Deus não está Morto (2014), Ressurreição (2016), Milagres do Paraíso (2016) e A Cabana (2017) tem atraído os mais diversos públicos, tanto na plateia como, também, entre os astros que estão se envolvendo nestes projetos. Um bom exemplo foi Rodrigo Santoro, que viveu ninguém menos do que Jesus Cristo na nova versão do épico Ben-Hur (2016). E agora chegou a vez de duas estrelas gospel adentrarem nesse universo. Cristina Mel é um dos maiores nomes da música cristã, indicada quatro vezes ao Grammy Latino. Já lançou diversos álbuns, no Brasil e no exterior. Já Vini Rodrigues é um fenômeno na internet, sucesso com vídeos no YouTube e também nos palcos, em apresentações no estilo stand up comedy, sempre focado no mundo cristão. Em comum, os dois estão estreando como dubladores no cinema com a animação A Estrela de Belém. E a gente conversou com eles para saber um pouco mais sobre essa experiência. Confira!
Esse é o primeiro trabalho de vocês no cinema? Como surgiu o convite?
Cristina Mel :: Eu fiz outro trabalho como dubladora, na série Os Vegetais (2007), mas já tem muitos anos, e foi lançado direto em DVD. Ou seja, no cinema foi a primeira vez, mesmo. Amei a experiência. Faço questão de prestigiar todas as pré-estreias do filme. O cinema cristão merece o nosso apoio. Quando lançaram o drama Em Defesa de Cristo (2017), fui na pré-estreia e disse: “olha, numa próxima vez, lembrem de mim”. E não é que lembraram?
Vini Rodrigues :: Sim, foi o primeiro. Existem três personagens muito bem humorados no filme, e queriam influenciadores do meio gospel, que trabalham com humor, para estes papeis. Foi quando chegaram ao meu nome.
Vocês chegaram a fazer testes?
CM :: Uma coisa bacana foi contar com o Manolo Rei como nosso diretor. Ele é incrível, me senti muito segura. Quando me chamaram, era apenas para um teste. E foi logo naquela cena, quando o anjo aparece para Maria. De cara, acharam minha voz muito parecida com a da atriz original. Isso também contou a meu favor. Aconteceu, então, que na hora decidiram! Fiquei muito feliz!
VR :: Fiz um teste no Rio de Janeiro, para ver se minha voz se encaixava com o personagem. À princípio, me convidaram para fazer o pombo, o Davi, que até tem uma participação mais intensa e isso seria muito legal. Mas a dublagem desse personagem iria exigir uma carga horária muito alta, e não consegui encaixar na minha agenda. Foi quando surgiu o Felix, que me deixou muito feliz.
Falem um pouco sobre os personagens de vocês.
VR :: O Felix é um camelo bem distraído, sem noção, faz piada com tudo. Não pensa antes de falar. É o piadista. São três camelos, as piadas são divididas entre eles, quase como num jogral. Os três juntos formam a piada.
CM :: Eu faço a Maria, só que é uma versão mais moderna. É uma mulher obediente ao ouvir a mensagem de Deus, claro, grata pela missão que recebe, mas que também questiona. Ela declara: “faça de mim o seu querer”. Só que não deixa de ser corajosa, ainda mais naquela época, pois aceitar viver uma situação destas era um risco, era preciso ser forte. Sou meio parecida com a Maria, até fisicamente. Sou descendente egípcia, e tenho alguns traços daquela região, como a sobrancelha, por exemplo. Ela é tão linda! Foi uma honra muito grande. O filme aborda temas tão maravilhosos, como amor, amizade, união e obediência. É uma verdadeira mensagem de Natal. E este é o significado desta data, muito mais do que o comércio pode oferecer.
A Maria é muito decidida, né?
CM :: Quando houve o censo, ela e José percebem que precisam ir até Belém. Como José e o Bo, o burro, vivem implicando um com outro, ela não pensa duas vezes e vai andando. Ela é uma mulher prática, valente e guerreira. Foi uma experiência incrível ter tido a oportunidade de dublá-la. Eu, por exemplo, nunca gerei. Minha filha é de coração, pois a mim não me foi permitido gerar uma criança. Então, como não vivi essa fase, através da Maria consegui viver esse momento lindo de uma mulher.
Cristina, você faz a voz da Maria, uma personagem central na trama. Houve algum preparo especial?
CM :: Não, apenas fui de coração aberto. Quando terminou, não sabia se chorava. Só fui assistir ao filme inteiro na pré-estreia, para ter uma ideia. Contei muito com a orientação, de Deus e do Manolo. Ele me deu muita segurança. Tanto que, ao invés de levarmos dois dias para gravar tudo, como haviam planejado, encerramos em apenas três horas! Foi muito natural. Sou muito grata à Deus por essa oportunidade. É um filme grande, e minha personagem tem vida própria, dona de muita personalidade. Agora, quando assisto ao filme, até esqueço que fui eu que fiz.
Você é cantora. No entanto, Maria não canta. Mas no filme há uma égua cantora, que acha que é estrela pop. Não deu vontade de trocar de personagem?
CM :: A eguinha é incrível! Até pensei em pedir para fazer uma participação especial como ela, também. Mas, não, acabaram escolheram outra atriz, e ficou muito bom. Mas, olha a minha presunção, o que tive muita vontade, mesmo, era de fazer outra coisa. Caso fossem fazer a tradução da música-tema em português, gostaria muito de ter feito a versão. No original, quem canta é a Mariah Carey, e está lindo. Mas não houve tempo, e acabou que a música do filme lançado no Brasil está na versão original, mesmo.
A Estrela de Belém, apesar dos personagens humanos, é todo narrado pelo ponto de vista dos animais. O que vocês acharam dessa mudança?
CM :: Acho que trouxe um frescor novo. É a história do primeiro Natal, porém contada pela ótica dos animais. E isso foi uma sacada incrível. Amo animais. A ovelhinha Ruth, por exemplo, quando chama todo o rebanho, dá uma ótima demonstração da força da união. Estão todos focados num mesmo objetivo. São ensinamentos como este que servem para a criança viajar na história. Visualizar o que aconteceu sob uma ótica mais leve e, ainda assim, irresistível.
VR :: Achei bem legal. Uma coisa que me atraiu era ser mais voltado para o público infantil. Sem falar que sou apaixonado por animações. Poder participar de um filme, voltado para as crianças, e falando do nascimento de Jesus, foi realmente uma experiência única. E acho que ficou muito legal. Sou muito crítico, analiso muito. No que diz respeito à Bíblia, o filme é muito fiel, trata tudo com bastante respeito. Não houve distorção da palavra. A única mudança é que são animais falando. Tá muito legal. Tenho certeza que o público cristão vai se divertir.
Vini, o Felix é realmente uma figura. Você chegou a dizer que “não tinha personagem melhor para mim”. Por quê?
VR :: Sou bem espontâneo. Brinco com tudo. Falo coisas quando não devo, sem pensar antes. O pombo, por exemplo, é engraçado, mas é um humor diferente do Felix. O pombo faz piadas mais elaboradas. Não é meu estilo. Sou mais sem noção, mesmo. Ele é bem atrapalhado, como eu.
Houve espaço para improvisos durante as gravações, para que o Felix tivesse mais a tua cara, ou o roteiro era bastante objetivo no que precisava ser dito?
VR :: O diretor, o Manolo, foi muito gente boa. Como era a minha primeira vez, ele teve muita paciência. Às vezes, quando julgava que cabia, até dava uma ou outra dica, de acordo com o meu ponto de vista. Algumas foram acatadas, até para alinhar melhor o vocabulário do meio cristão. Até as desafinadas que dei acabaram entrando. O Manolo foi bem flexível, e isso nos ajudou muito.
O que vocês acharam dos colegas de dublagem?
CM :: O Vini é maravilhoso, curti muito o trabalho dele, claro. Ele é, naturalmente, muito engraçado. Já o Caíque Oliveira, que faz o Tadeu, ficou ótimo como o vilão. Até a turma do mal tem uma nova oportunidade, um recomeço, uma chance de perdão neste filme. São valores que vão falar muito.
VR :: Assisti ao filme todo no último fim de semana, e o Caíque é show de bola. Com dublagem, é também a primeira vez dele, mas ele tem uma história incrível. É um ótimo profissional, sempre trabalhou com teatro. Ele até criou uma voz diferente da dele para esse cachorro vilão. Foi um grande exemplo. Já a Cris é muito talentosa, logo quando assistir ao primeiro trailer, pensei: “a melhor participação é a dela”. Ficou incrível.
O que representou para vocês fazer parte do elenco de dubladores nacionais de A Estrela de Belém?
CM :: Foi um privilégio muito grande. Deus me escolheu para ter esse momento. Sou muito grata. Ao assistir ao filme pela primeira vez, minha filha sentou ao meu lado. Quando os cachorros vieram atacar a Maria, ela achou que iam me atacar! Foi incrível. É o bem vencendo o mal, levando esperança para as pessoas. Estou muito feliz por toda essa experiência.
VR :: Significa muito. Sou apaixonado por animação, como falei. E pelo fato de ser voltado para as crianças, representou muito. O mundo em que vivo, dentro de Deus, falar do nascimento de Jesus, foi importante para mim. Fiquei muito grato, pela oportunidade. Também, olhando pelo lado espiritual, fiquei muito feliz, realmente grato de poder participar.
(Entrevistas feitas na conexão Porto Alegre/Fortaleza/São Paulo em novembro de 2017)