Maitê Padilha é muitas vezes confundida com Gaby, personagem que a catapultou ao estrelato. Mas ela não se importa, pelo contrário, fica feliz com a confusão. Protagonista da série Gaby Estrella, que contou com três temporadas no canal Gloob, ela voltou a interpretar a ídolo musical teen, agora na versão cinematográfica. É só conversar um pouco com Maitê – simpaticíssima, por sinal – para perceber o quanto esse universo a fascina, não apenas o de Gaby, mas o da atuação. No ano passado, ela fez sua estreia na TV aberta na novela O Rico e O Lázaro, da Rede Record. Da nova experiência na telinha só trouxe coisas boas e crescimento, conforme nos conta nesta entrevista exclusiva, concedida gentilmente em meio a apertada agenda de lançamento de Gaby Estrella: O Filme. Maitê, na iminência de entrar oficialmente na vida adulta, fala sobre o que verdadeiramente a apaixonou diante da possibilidade de levar Gaby às telonas, versa a respeito da própria carreira e de como faz para lidar com as ameaças da fama, um perigo sempre à espreita, além de comentar o cenário brasileiro dos chamados “filmes para toda a família”. Então, confira este bate-papo inédito com a jovem que, ao que tudo indica, ainda fará muito parte do nosso cotidiano, seja na televisão ou no cinema.
Artisticamente, o que mudou entre a Maitê pré-adolescente, que estreou na televisão, e a Maitê quase adulta, que chega agora aos cinemas interpretando novamente a Gaby?
Acredito que amadureci muito. Aprendi bastante coisa. Hoje em dia, entro em cena com mais segurança, pois tenho uma noção melhor, por exemplo, de posição de câmera, de marcação, entre outras particularidades. Além disso, possuo mais confiança no que faço. Tenho orgulho do meu trabalho, apesar de saber que ainda há muito a aprender. Então, uma das coisas que mais mudou foi, realmente, a segurança. De qualquer maneira, fazer o filme foi uma experiência completamente nova. Aliás, a cada trabalho percebo o quanto evoluo como atriz. Analiso onde tenho mais dificuldade e vejo como posso me aprimorar. Revi recentemente os primeiros episódios da série e os comparei com o filme. Consigo ver as diferenças, especialmente por conta da segurança que a gente vai ganhando.
O que te levou a voltar a encarnar a Gaby? O que mais gostou ao ler o roteiro do filme?
O que me levou a fazer foi o orgulho desse projeto e o quanto acredito no potencial dele. Apesar de ser um filme para criança, queríamos fazer algo com qualidade. Temos muitas coisas para explorar nesse universo da Gaby. Depois de ler o roteiro, vi que não era simplesmente uma continuação, percebi ser uma história nova, uma sequência, óbvio, mas com coisas novas a dizer. Em minha opinião, o roteiro é muito diferente de tudo o que é feito atualmente visando o espectador infantil. Falamos essencialmente de princípios, de valores, sem ser propriamente didáticos. As mensagens funcionam, ficam reais. Quis fazer algo com que os pais igualmente pudessem se divertir, que os deixasse satisfeitos. Desacreditamos muitas vezes do nosso próprio potencial, temos, de fato, poucos filmes feitos para toda a família. Realmente acredito que este seja um lonag-metragem de qualidade.
Há uma diferença grande entre a inocente Gaby e a maliciosa Natasha, sua rival. Que mensagem você acha que reside nessa discrepância entre a mocinha a vilã?
Fico feliz que você tenha captado a mensagem. Hoje em dia, por conta da tecnologia e/ou mesmo da superproteção, que é um efeito colateral até da violência, as crianças tendem a “crescer” mais rápido, elas quererem ser maduras antes. E isso pode ser ruim. Acho importante a criança ser criança, brincar com aquela inocência que hoje em dia acaba se perdendo precocemente. Existem valores e princípios morais que muitas vezes são perdidos por falta de contato familiar, de conversa. A própria Gaby, longe da família, perde a humildade. Ela recupera isso voltando a se conectar com as raízes. É importante, também, fazer o que se gosta. Natasha canta e dança pela fama, já a Gaby faz música porque gosta, não simplesmente em virtude do sucesso, nunca sem transmitir mensagem alguma. Elas são personagens completamente diferentes exatamente para mostrar a importância desse assunto, para dizer às crianças que elas não precisam crescer rápido, que elas podem ser crianças. Você tem de ser de verdade.
Gaby Estrela fala sobre a importância de se reconectar com as raízes, inclusive para lidar com a fama. Como você administra a fama, com isso de estar superexposta?
A fama tem de ser apenas uma consequência. Seria hipocrisia dizer que estou nem aí para o reconhecimento, mas quando esse é o objetivo, você inevitavelmente vai se frustrar. Nossa profissão é muito inconstante, numa hora você está lá em cima, todo mundo te chama para as festas, e no outro ninguém quer saber de você. É assim. Essa profissão é perigosa porque mexe muito com ego. Particularmente, acredito que atrapalha um pouco isso de mostrar a vida para todo mundo. Quando se dá abertura, as pessoas falam. Gosto de separar. Claro que sinalizo eventualmente onde me encontro, o que estou fazendo, mas torno público somente o que acho relevante. Acho desnecessário expor minha intimidade, pois isso pode ser um problema. Quanto mais você mantém a privacidade, melhor as coisas funcionam. Outro ponto. As pessoas ficam famosas e se esquecem de estudar, de aprender, e isso é ruim. É, também, muito importante a família. Minha mãe e minha avó estão sempre comigo, me ajudando a manter os pés no chão. É preciso ter muita força e, principalmente, discernimento entre querer ser ator ou famoso. São coisas completamente diferentes.
Você já declarou que deseja cursar Cinema. O que mais te chama a atenção na área cinematográfica?
Gosto muito de cinema. Sempre gostei de assistir a filmes e ficar arrepiada, impressionada. Às vezes, saía de uma sessão e não sabia direito o que tinha acontecido comigo. Acho isso tão excepcional que tive vontade de estudar, de saber como funciona. Tem tanta coisa que me interessa no cinema. Acho muito legal a fotografia cinematográfica. Acredito que ao fazer faculdade vou descobrir vertentes. É incrível como os filmes dependentem de muita coisa para dar certo, de tantos esforços. La La Land: Cantando Estações (2017), por exemplo, é impressionante. Precisou de tanta gente para aquilo funcionar. Quero aprender a fazer cinema, quero entender melhor sobre isso.
Como foi o trabalho em O Rico e o Lázaro, sua estreia na TV aberta, também num papel de bastante destaque?
Nossa, muito legal. Primeiro, eu estava nervosa. Tenho muito orgulho da Gaby, mas não queria que as pessoas me associassem apenas a ela, a vida toda, embora ame, de verdade, quando uma criança me chama de Gaby na rua (risos). Trabalhei com pessoas que foram muito fantásticas comigo, bastante generosas e dispostas a ajudar. Lembro que fiz uma cena na novela, a que mostra a morte dos meus pais, à qual estive o dia inteiro gravando embaixo do sol. Ao chegar em casa, vomitei, passei muito mal. Fiquei feliz (risos). Pode parecer estranho falar assim, mas para o ator é muito importante isso. Tive a sensação de ter atingido algo importante com aquela cena. A novela foi extremamente relevante para mim. Foi, aliás, uma benção. Até agora dei muita sorte de trabalhar com gente sempre disposta a ensinar, a me ajudar nesse caminho.
(Entrevista concedida por telefone, direto do Rio de Janeiro, em janeiro de 2018)
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