Ele é um entusiasta dos cineclubes, ajudou a fundar o Santa Maria Vídeo e Cinema e já contabiliza mais de 15 obras, entre curtas, médias e longas-metragens, em sua filmografia. Em 2018, o diretor gaúcho Luiz Alberto Brizola Cassol completa 20 anos de trabalho dedicado à sétima arte. Paralelamente, ainda, atua no segmento da publicidade com audiovisuais no ramo empresarial e produções para a web. Quase como um presente de aniversário não programado, o cineasta está prestes a embarcar para mais um Festival de Gramado, que desta vez contará com duas de suas produções – o curta Grito (2018) e o longa Grandes Médicos (2018) – um fato não tão corriqueiro na jornada de diretores que vagam pelos festivais à procura de espaço para seus filmes. E foi sobre esses novos trabalhos, que viajarão com ele para a serra gaúcha, que ele conversou, com exclusividade, com o Papo de Cinema. Confira a entrevista abaixo!
Olá, Luiz. Considerando que este é um feito difícil de acontecer, como está expectativa para apresentar não uma, mas duas obras, no Festival de Gramado 2018?
Olha, isso é mais do que especial, já que o Festival de Gramado é, na minha opinião, um dos maiores da América Latina. Portanto, participar dele é muito importante, já que eu, como realizador, me preocupo muito com a recepção do público. Os espectadores, aceitando ou não a obra, seja qual for a leitura que fizerem dos filmes, o importante mesmo é chegar até o espectador. Se isso acontecer, me sinto bem e acredito que o trabalho foi bem feito. Por conta dessa formação cineclubista que tenho, atingir a audiência é o maior mérito. Assim, posso dizer, com todas as letras, que completei o ciclo.
Você tem essa predileção por obras documentais, como mostra sua filmografia, mas chega a Gramado em 2018 para disputar um prêmio com um curta de ficção. Comente sobre ele. Como surgiu a ideia?
Tu sabes que em Gramado, especificamente, na mostra de curtas gaúchos, é a terceira vez que participo. Quase sempre estive envolvido com documentários. Chegar com uma ficção é bem legal, gosto mais de documentários, dessa narrativa, contar histórias e recortar algo especial, mas a ficção possibilita refletir sobre uma proposta diferente. Esse ano, com Grito (2018), é a despedida, um tema interessante no qual me pego refletindo faz tempo. Essa era uma ideia minha, surgiu da palavra mesmo. Como verbalizar isso? Como entender esse tempo? Dimensionar a temporalidade de um fim e focar no exato momento que nos despedimos. Foram essas as perguntas que me fiz para, então, me guiar na produção do roteiro. Logo após finalizá-lo, percebi quais eram os atores que queria: o Sirmar Antunes e o Clemente Viscaíno. Sou fã desses caras há anos. Tem como compreender esse momento de dizer adeus? Isso é que queria saber e espero que o público fique “mastigando” após o final da sessão.
Nos últimos tempos você esteve envolvido com temas relacionados a saúde. Como isso afetou tua vida pessoal e profissional? E como pensas que afetará no espectador?
Cara, juro que não tinha me dado conta disso (risos), juro mesmo. Assim, os temas surgiram meio que do acaso. Mas meditar sobre assuntos alusivos à saúde é sempre importante. Nesses trabalhos de pesquisa que fizemos, por exemplo, com Câncer: Sem Medo da Palavra (2007) e agora com o Grandes Médicos (2018), aprendi muito e recebi muito viés positivos das pessoas que os assistiram. Como a medicina é um tema que está em constante mudança, o que era bom antes, agora não é mais e vice-versa. Todos querem mais respostas diante de indagações do cotidiano relacionadas a doenças. É um assunto sério, não tem espaço para erros. Acho que isso é ponto fundamental para estabelecer bem esses filmes.
Você é um entusiasta do cinema cineclubista e um dos fundadores do Santa Maria Vídeo e Cinema. Imagino que seja porque se preocupa com a melhor qualidade de distribuição dos filmes. Atualmente, está muito difícil lançar novos filmes em âmbito nacional?
É difícil, mas acredito que há muitas janelas através dos festivais para curtas. Também por meio de cinematecas, salas de arte e internet. O curta consegue ter mais espaço, geralmente me surgem surpresas como mostras e outros eventos do gênero. Entretanto, é uma luta do realizador, buscar espaços e ir atrás, se inscrever. Já para o longa, é outro caminho e outra conversa, precisa passar por distribuidora e exige mais dor de cabeça, geralmente. Mas ainda consigo espaço. É importante ter uma conversa direta com os curadores, assessorias e manter boa relação com o meio cinematográfico. Apenas fazer o filme e largar na mão de um responsável e depois ir descansar, é algo muito Hollywood (risos), aqui o processo é mais braçal. E depende do tema também. Em 2018, por exemplo, estou passando por um momento interessante com Golpe (2018), novo filme que estou envolvido. Temos tido dificuldade para exibi-lo por conta do tema político, mas tem filmes com a mesma temática que estão sendo selecionados para festivais renomados. Portanto, passa muito pelos contatos, não tanto pela qualidade do filme, às vezes. Dialogar é interessante e necessário, se nós não debatermos e nos propormos fielmente a isso, o espaço não vai acontecer.
Já que mencionou a importância do espaço, como encara as plataformas digitais?
Muito relevante, principalmente se não estivermos ligados a uma grande distribuidora. O streaming é cada vez mais importante e também nos proporciona uma variação de trabalhos. Nesse momento, pensamos constantemente na tela grande e na pequena ao filmar algo. Grito (2018), por exemplo, fiz totalmente para a tela grande. Hoje o cineasta já faz o filme pensando onde ele vai veicular, eu pelo menos faço assim, já penso na janela. Até porque as linhas de incentivo e os editais estão mirando a TV, mas acho que ainda cabe ao realizador pensar no cinema em si, pois a tela grande não vai acabar.
Ao sair de Gramado, este ano, deixará duas mensagens com filmes diferentes. Quais são elas?
Grito (2018) é uma reflexão sobra a despedida e sobretudo uma homenagem pessoal ao Sirmar e o Clemente. Esses dois atores possuem uma longa trajetória, sou fã, são grandes artistas que o Rio Grande do Sul deve se orgulhar. O curta tem um tema que quero deixar, que me cutuca há muito tempo. Tem um plano sequência que me deu orgulho de ter feito. Na sinopse está o que acho mais importante: nem todo grito sai da boca. Já o Grandes Médicos (2018) teve pesquisa e tem outra proposta. Esses oito caras: Emílio Ribas, Adolpho Lutz, Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Manoel de Abreu, Juscelino Kubitschek, Zilda Arns e o Euryclides Zerbini deixaram um legado muito importante. Esses profissionais transformaram a medicina no Brasil e esse longa deixará uma reflexão e uma homenagem do ponto de vista cientifico. No corte final, foi essa a minha mensagem principal.
(Entrevista feita por telefone em Porto Alegre em agosto de 2018)
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