Gustavo Vinagre fala sobre Nova Dubai

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Robledo Milani

Gustavo Vinagre é formado em Letras pela USP. Lá estudou Português e Japonês. Dessa experiência afirma ter aprendido a relação que Eisenstein apontou entre a lógica dos ideogramas e a montagem cinematográfica – e assim nascia a paixão pela sétima arte. Especializou-se em Roteiro na EICTV de San Antonio de los Baños, em Cuba. É diretor dos premiados curtas-metragens Filme para Poeta Cego (2012) – premiado no Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira, em Portugal – e La Llamada (2014), que foi exibido nos festivais de Gramado e de Brasília. Dirigiu também o episódio Dykeland, que integrou o longa Fucking Different São Paulo (2014), que teve sua estreia mundial durante a sessão Panorama da 60° Berlinale. Nova Dubai, seu primeiro projeto de maior duração, tem circulado por diversos festivais internacionais, além de ter sido premiado recentemente com o Troféu Novos Olhares no 4° Olhar de Cinema – Festival Internacional de Cinema de Curitiba. Neste mês, integra a mostra Panorama Brasileiro, do Rio Festival Gay de Cinema. E foi sobre esse trabalho que o ator, diretor e roteirista conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!

 

Nova Dubai se apresenta como uma crítica ao crescimento imobiliário descontrolado nas grandes cidades. No entanto, o sexo é o elemento utilizado como forma de protesto. Por que você escolheu esse meio para levantar essa questão?
Acho que Nova Dubai é sobre muitas coisas, não apenas uma crítica ao crescimento imobiliário. Acredito que tenta retratar uma sociedade globalizada e extremamente individualista, que está perdendo espaços físicos, espaços de convivência, iludida pela liberdade do virtual – e pela falsa liberdade da propriedade privada. Acredito que Nova Dubai tenta levar para a realidade, para o outdoors (para usar um estrangeirismo que bem combina com esse filme), o que já vem sendo feito na internet, entre quatro paredes e uma tela. O sexo almejado e imaginado no virtual vai para as ruas. Os desabafos de um possível post de Facebook ou quem sabe de algum grupo de discussão de internet viram palavras na boca dos personagens, concretos (voz e imagem sincronizados), olhando para a câmera. Acho que é um filme sobre solidão, sobre trauma, sobre amor. 

Gustavo Vinagre (à esquerda) com atores de Nova Dubai

Você, além de dirigir e ter escrito o roteiro, é também o protagonista. E aparece sem medo, em situações bastante ousadas. Não rolou nenhum tipo de receio durante a realização do projeto em relação a repercussão que o filme poderia ter?
Medo sempre rola, e é parte da graça. Mas a minha equipe era muito parceira, amigos em que confiava muito, e isso só se fortaleceu nas filmagens. Claro, não tínhamos permissão para filmar nos lugares, e isso dava uma tensão, mas sabia que sempre havia alguém da equipe vigiando caso alguém aparecesse. Quanto ao medo da repercussão… Bom, acho que isso nunca chegou a ser um medo de fato.

 

Nova Dubai é uma obra de ficção, mas até por seu formato despojado muitos poderão associá-la a um estilo mais documental. Era essa sua intenção, confundir os limites entre realidade e ficção?
Digamos que eu goste de transformar sonhos em realidade.

 

Como tem sido a recepção ao filme nos festivais, tanto no Brasil quanto no exterior?
Tem me surpreendido muito. A recepção tem sido ótima. O filme tem passado em muitos festivais, seja como curta-metragem – caso de Roterdã – média-metragem, ou longa-metragem (caso do Olhar de Cinema, e do Rio Festival Gay de Cinema). Já foi apresentado como ficção, e já passou em festival só de documentário (como no Art of the Real, em NY). Mas é engraçado reparar em sutis diferenças na recepção. Na Itália, as pessoas riram do começo ao fim. Em algumas cidades do Brasil fica um silêncio meio tenso. Na Holanda, para minha surpresa, na primeira projeção 70% do público saiu, irritado. Não esperava isso da Holanda.

Cena de Nova Dubai

Qual a sua visão sobre o cinema de temática LGBT feito atualmente no Brasil?
Gosto cada vez mais do cinema LGBT brasileiro. Acredito que muitos filmes legais estão sendo feitos de uns anos para cá, e esse cinema tem me entusiasmado muito mais ultimamente do que nos anos anteriores.

(Entrevista feita por email em 03 de junho de 2015)

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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