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Ele trabalhou em Frankenweenie (2012), Minhocas (2013), Os Boxtrolls (2014), Minha Vida de Abobrinha (2016) e Kubo e as Cordas Mágicas (2016), isso para mencionar apenas as produções mais conhecidas. Especialista em stop motion, o animador brasileiro Matias Liebrecht integrou também a equipe criativa de Ilha dos Cachorros (2018), mais novo longa-metragem do cineasta Wes Anderson. De volta ao Brasil após 17 anos morando no exterior, ele é um dos convidados especiais do Anima Mundi 2018. Exatamente num espaço de convivência do evento, o maior da América Latina dedicado à animação, ele recebeu o Papo de Cinema para uma conversa entre bonecos do jovem Atari e dos cães protagonistas de Ilha dos Cachorros. Falamos sobre as especificidades da colaboração com cada cineasta e acerca do momento absolutamente efervescente da animação brasileira, cenário que o fez, inclusive, voltar a morar por aqui. Confira mais este Papo de Cinema exclusivo.

 

Como foi o processo de trabalho no Ilha dos Cachorros com o Wes Anderson?
O Wes Anderson é alguém que vê a animação não como gênero, mas enquanto técnica. Muita gente incorre no erro de pensar o contrário, aí reproduzem tudo aquilo de “bonequinho”, de achar que animação é coisa para criança. O Wes Anderson utiliza no stop motion os mesmos procedimentos do live-action. Ele trata os animadores como atores. Claro, não temos um trailer com maquiadores. Não é bem por aí (risos). Mas, a cabeça dele concebe o filme e pronto, independentemente da técnica.
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E como é isso para o animador profissional?
Como as técnicas são completamente diferentes, às vezes é um pouco frustrante, especialmente no começo, mas acaba se tornando um processo excelente. O Wes Anderson é um diretor que não perde o foco, algo essencial em stop motion, terreno em que é bem fácil desvirtuar-se, principalmente por conta do processo lento e estendido. É necessário investir muito tempo em cada frame. Então, é realmente fácil se perder. Isso o Wes Anderson não deixa acontecer.

 

Então, quais as diferenças básicas de trabalhar com um cineasta mais acostumado ao live-action e outro escolado na técnica da animação?
Ótima pergunta. Mas, na verdade, não sei explicar bem (risos). Talvez, o mais diferente seja a visão do todo. Tanto o Tim Burton quanto o Wes Anderson, por exemplo, têm uma imagem muito clara do que querem. É isso. Fim de papo. Claro que os diretores especializados em animação podem ter igualmente essa pegada, mas se distinguem por um olhar mais específico, exatamente, à técnica. O Tim Burton e o Wes Anderson são bastante preocupados com o estilo. A pergunta é realmente excelente, mas não sei se consegui responder (risos)

 

Conseguiu, claro.
Ah, então beleza (risos).

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Como você está percebendo esse atual cenário efervescente da animação brasileira?
Quando saí do Brasil, há 17 anos, realmente o mercado não era aquecido do jeito que está agora. O que acontecia bastante era publicidade. Hoje em dia, tem muita gente produzindo trabalhos de bastante impacto, importantes mundialmente. Isso é o máximo Então, sim, o Brasil está acontecendo. Aqui tem uma galera criativa e boa. Para mim, inclusive, é o momento certo de voltar para cá. Estou apostando no Brasil porque realmente acredito nele como um dos lugares onde atualmente isso é possível, em que estão os maiores potenciais.

 

Internacionalmente, qual é a reputação da animação brasileira?
Ah, isso depende. Tem lugares com tradições fortes. Por exemplo, a Inglaterra, onde trabalhei durante um bom tempo, possui um lastro no que tange à animação, especialmente stop motion. Então, naturalmente, o país é uma referência. Embora não seja um grande centro de determinada técnica, como a Inglaterra, o Brasil é reconhecido internacionalmente, as produções são vistas com respeito, sem dúvida.

 

Como profissional que passou boa parte da carreira no exterior, você acredita que tem uma espécie de responsabilidade de ajudar o Brasil a decolar nesse momento?
Realmente acho. Esse é o meu caminho. Esse é o Brasil no qual quero apostar. Na verdade, desejava voltar antes ao país. Estar há tanto tempo no exterior ajudou a me olhar de fora para dentro, ou seja, a reconhecer meus valores e defeitos como brasileiro. Mas sei da responsabilidade nesse momento.

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E como está sendo a experiência de participar do Anima Mundi?
Estou achando demais. Aliás, gosto muito da identidade visual do festival neste ano. Só para deixar registrado (risos). O Anima Mundi é um pool internacional. É uma honra estar aqui falando sobre animação. Há tempos ensaiamos fazer alguma coisa juntos. Em 2018 deu certo. Espero entregar a performance que o festival está esperando de mim (risos).

 

(Entrevista concedida ao vivo, no Rio de Janeiro, em julho de 2018)

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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