Jeanne Boudier é uma atriz franco-brasileira em evidência no Festival Varilux de Cinema Francês 2024. Ela é uma das protagonistas de Madame Durocher (2024), longa-metragem que integra a programação do evento. Na trama, Jeanne interpreta a versão jovem de Marie Josephine Mathilde Durocher, mulher que chegou jovem ao Brasil, em 1816, acompanhada da mãe, uma modista francesa. Mais tarde, Durocher se interessaria pela medicina e se tornaria parteira, a despeito dos olhares tortos da sociedade machista da época.
Jeanne Boudier já havia se destacado há alguns anos em sua estreia numa produção brasileira. Em Deslembro (2018), sob muitos aspectos diferente de Madame Durocher, ela também interpretava uma garota lidando com o passado e as decisões dos pais. Jeanne conversou com o Papo de Cinema na sua passagem pelo Brasil para acompanhar o lançamento do filme. O resultado você confere logo abaixo.
Mais uma vez te vemos num filme brasileiro, em parte falado em francês, e ambientado no passado. Claro que entre Deslembro e Madame Durocher há muitas diferenças, mas acho curiosa essa coincidência…
Achei engraçado ser novamente convidada para um filme francês em português. É verdade que são duas produções voltadas ao passado e agora que você falou fiquei aqui pensando nas semelhanças. Interessante. No entanto, são dois papeis muito diferentes.
Como foi o jogo cênico com Marie-Josée Croze, atriz consagrada que interpretou a sua mãe no filme?
Foi muito legal esse encontro, especialmente levando em consideração que a direção nos deixava livres para improvisar. Esse jogo de cumplicidade era uma ótima maneira de criar conexão. E trabalhar com Marie-Josée foi incrível, ela é ótima atriz, muito profissional e generosa.
Trata-se de um filme que fala de machismo, feminismo e é dirigido por dois homens. Dentro dessa possibilidade de improvisação, você teve espaço para contribuir com um olhar feminino para construir a história?
Os diretores são muito sensíveis a essas questões e não ficam presos nos clichês, no male gaze. E em algumas cenas eles deram muito poder às atrizes. Eles nos deram abertura para ver as cenas depois de filmadas e opinar. Em alguns momento mais delicados, como o do estupro e os das intimidades, falei com eles quando a abordagem não me parecia justa. Propus alternativas e eles toparam. Os dois são incríveis.
Quando a sua personagem decide se vestir com roupas comumente masculinas, é como se ela estivesse colocando uma armadura. E você muda completamente a postura, o olhar a e atitude dali para diante, certo?
Para mim foi uma virada muito importante. Além da relevância do figurino, era fundamental essa alteração do semblante. O que tentei fazer era mudar a expressão facial. Por exemplo, no momento em que ela está na escola de medicina, tentei ter uma atitude mais dura e desafiadora, demonstrando menos medo e inocência. Esse era o objetivo, mudar o olhar e a atitude.
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