Lucas Blanco nasceu na Argentina, em 1975. É diretor, editor e roteirista. Dirigiu os curtas Despedida (1996), La Belleza de Helena (1997), ¿De qué hablamos cuando hablamos de amor? (2002) e Todo en su Lugar (2005). Amor em Trânsito, seu primeiro longa, fala de dois homens e duas mulheres que envolvem-se em romances intensos e de futuro incerto. O longa, recebido com bastante elogios na Argentina em 2010, quando entrou em cartaz, foi exibido pela primeira vez no Brasil durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Agora, entra em cartaz no circuito comercial brasileiro num lançamento da Tucumán Filmes.
Como você começou sua carreira de cineasta?
Desde pequeno os filmes me fascinavam. Mas levei muito tempo para acreditar que poderia, eu mesmo, fazer uma. Para mim, que venho de uma família sem antecedentes artísticos, quem fazia cinema eram pessoas de outro planeta. Assim que, durante um período, fui um baterista medíocre de uma banda com amigos, até aceitar que o cinema poderia ser uma realidade profissional para mim. Em resumo: decidi estudar cinema e comecei a trabalhar em todos os espaços dessa indústria. Foi assim que aprendi como os filmes eram feitos, ao mesmo tempo em que ia me informando e me preparando para um dia, finalmente, poder fazer uma. O trabalho de um diretor, para mim, implica na obrigação em conhecer todas as responsabilidades e necessidades de uma produção. O cinema é, antes de mais nada, um trabalho grupal, e só pode se tornar interessante a partir de um trabalho de equipe.
No Brasil os filmes argentinos são muito elogiados, principalmente pelo roteiro. Mas como tem sido a aceitação das produções argentinas no próprio país, pelos argentinos?
Acredito que na Argentina a impressão geral é que a qualidade dos nossos filmes é muito boa. E, em sua maioria, o público argentino tem prestigiado estes trabalhos. Porém o problema é o mesmo de sempre, que é chegar até esse espectador, basicamente pelas dificuldades de lançamento. É realmente muito difícil hoje em dia conseguir espaço nas salas mais comerciais para os filmes nacionais, que estão sempre ocupadas pelas produções norte-americanas. E para comunicar ao público que determinado filme está em cartaz se gasta muito com publicidade – em alguns casos, é quase o mesmo que se gastou para fazer o filme! Como se pode ver, a situação do cinema argentino atual é bem desigual. O Instituto do Cinema (INCAA) está começando a aplicar medidas para defender os lançamentos nacionais. Algumas dessas iniciativas são a cota de tela (que obriga toda sala a ter uma porcentagem de filmes argentinos em exibição) e a aplicação da lei das mídias (que obriga os canais de televisão a investirem no cinema nacional). Mas na verdade, ainda segue sendo muito difícil para as produções locais que não possuem grandes destaques chegarem até o público final.
Você acumulou as funções de diretor e roteirista de Amor em Trânsito. Como surgiu a inspiração para esse filme?
Comecei a escrever – ou melhor, a pensar em – Amor em Trânsito em 2002. O que me incentivou foi a crise que estava submersa na Argentina, que me fez buscar o que fazer a seguir, refletindo o que a população estava preocupada. Meus amigos, parte da minha família e até vizinhos estavam pensando em deixar o país. E enquanto eu não decidia o que fazer, se ia ou ficava, me dispus a escrever uma das histórias de amor do filme, a que surge entre Ariel e Mercedes. Com esse argumento comecei a trabalhar no roteiro, ao lado de Roberto Montini, e o filme foi tomando forma. A verdade é que o filme não fala da crise, mas sim do amo e dos problemas de se apaixonar. Aquela crise econômica, que hoje queremos esquecer e torcemos para nunca mais se repita, foi a primeira inspiração e agora funciona como uma metáfora das relações afetivas dos personagens.
Como foi a escolha do elenco para o filme?
Para escolher os quatro personagens principais não foi nem preciso fazer uma seleção de elenco. Conhecia os quatro muito bem. Eu era muito amigo tanto de Lucas Crespi e de Damián Canducci, então só foi preciso propor o projeto a eles e acertar as datas das filmagens. E acredito não ter errado nessas escolhas. Na minha opinião os quatro fizeram um trabalho primoroso.
A primeira exibição de Amor em Trânsito no Brasil foi durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2009. Como foi a recepção do público na ocasião?
Sinceramente, foi incrível. Os quatro exibições em São Paulo foram todas com sala cheia e com gente sentada até nas escadas. E para a nossa maior alegria e surpresa da minha parte, depois da projeção quase todo mundo da audiência permanecia sentado para poder conversar conosco nos debates. Esse retorno foi muito sensível e carinhoso, e todas as recordações que tenho de exibir Amor em Trânsito no Brasil são incríveis. Portanto, estou muito feliz e com grandes expectativas com essa oportunidade de poder finalmente estrear comercialmente nosso filme aí no país de vocês. Torço para que se repita o mesmo que aconteceu em São Paulo e para que todos que forem assistir ao filme gostem do que assistirem e que se divirtam muito.
(Entrevista feita por email com o diretor no dia 08 de agosto de 2012)
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