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Escolhida pela revista Rolling Stone, em 2017, como uma das “25 Artistas com Menos de 25 Anos que estão Mudando o Mundo”, Hannah Marks começou cedo em sua carreira. Filha do ator Nova Ball e amiga de infância de Zac Efron (os dois nasceram no mesmo bairro), estreou como atriz com apenas 12 anos, no drama Danika (2005), no qual aparecia ao lado de Marisa Tomei. No mesmo ano já estava fazendo participações em séries como Numb3rs (2005) e Mentes Criminosas (2006), até conseguir um papel de maior destaque em Weeds (2008-2009). Sucessos como The Runaways: Garotas do Rock (2010) e O Espetacular Homem-Aranha (2012) não foram suficientes para dar conta de seu ímpeto criativo, e aos poucos começou a se aventurar também atrás das câmeras. Depois de alguns curtas-metragens, estreou como realizadora no formato longa com Depois de Tudo (208), selecionado para o SXSW Film Festival. Não Me Diga Adeus (2022) é o primeiro dos seus trabalhos a ganhar lançamento comercial no Brasil, tendo estreado diretamente na plataforma de streaming Amazon Prime Video. O Papo de Cinema conversou com exclusividade com a realizadora, que falou mais sobre o projeto. Confira!

 

Como nasceu o filme Não Me Diga Adeus?
Sempre tive interesse nesse tipo de filme cuja trama era centrada no relacionamento entre pai e filha. Foi muito excitante para mim ter essa oportunidade de explorar esse tema, pois penso que é um tipo de relação das mais importantes. Quando li o roteiro, isso foi uma das coisas que mais me chamaram atenção, o quão bem escrita estava essa história. Portanto, me senti com muita sorte por terem me oferecido a possibilidade de fazer parte desse projeto.

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Hannah Marks (ao centro) e elenco de Não Me Diga Adeus

Hannah, você tem também uma longa carreira como atriz. O que te dá mais segurança, estar em frente ou atrás das câmeras?
Acredito que depende muito de cada projeto. Se vai servir à história, me coloco à disposição da melhor maneira que me é possível. No final das contas, essa não é uma escolha que deve ser sobre mim, e sim sobre estar a serviço de uma narrativa e como posso me colocar diante dela de um modo que será mais efetivo. Ou seja, tanto pode ser eu no comando, como ajudando um outro alguém nessa mesma posição. No caso específico do Não Me Diga Adeus, não parecia fazer sentido me ver atuando. Parecia mais lógico estar apenas na direção e ao lado desses lindos atores que são o John Cho e a Mia Isaac.

 

Não passou pela sua cabeça se envolver também como atriz nessa história?
Sabe, não consegui pensar em nenhum papel que gostaria de fazer. Não conseguia me ver como parte do elenco. O único personagem, talvez, fosse a Annie, o interesse romântico de John, mas soou estranho pra mim me ver nesse lugar. Sem falar o quão problemático seria (risos). Não parecia ser a coisa certa a ser feita, isso com certeza!

 

Como a tua experiência anterior como atriz te ajudou na direção de Não Me Diga Adeus?
Ah, com certeza foi importante. Adoro conversar com atores, e esse filme é muito baseado no desempenho e nas interpretações. É totalmente a respeito desse relacionamento entre Max e Wally, e por isso foi ótimo poder contar com a minha experiência enquanto atriz para traduzir para eles o que estava esperando de suas atuações. Sem falar que é o primeiro filme de Mia Isaac, e espero tê-la ajudado nesse processo de ambientação e descoberta. Afinal, já passei por isso e sei bem como é.

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John Cho em cena de Não Me Diga Adeus

Como foi a escolha de John Cho e Mia Isaac para os protagonistas?
Sou muito fã de John Cho. Ele é ótimo, um grande ator. Tenho a impressão de nunca tê-lo visto nesse tipo de personagem, então foi uma oportunidade que me pareceu interessante. Outra coisa que descobri a respeito dele é que é um fantástico cantor, inclusive já foi parte de uma banda! Sem esquecer que também tem uma filha mais ou menos nessa idade na vida real. Então, por todos esses motivos, me pareceu ser perfeito para o papel. Teve aquele filme, o Buscando (2018), no qual também interpretava um pai com uma filha, mas não haviam muitas cenas deles juntos, exatamente o oposto do que acontece no Não Me Diga Adeus, quando estão juntos na maior parte do tempo. Fiquei impressionada com o desempenho dele nesse longa, foi quando percebi melhor a humanidade que traz consigo, mesmo atuando diante de uma tela de computador do início ao fim.

 

E quanto a Mia? Afinal, essa é a estreia dela.
Mia chegou até nós através de testes. Participou de audições ao lado de muitas outras garotas. Recebemos fitas de meninas de todos os cantos dos Estados Unidos. Ela nos mandou de onde morava na época, na Geórgia, se não me engano. E era simplesmente sensacional. Nunca havia atuado antes em um filme, e mesmo assim deixou a todos nós impressionados. A química dela com John foi incrível, mesmo através do zoom, quando os dois conversaram pela primeira vez. Depois disso tudo, a escolha era óbvia, e chegamos a conclusão de que tinha que ser ela a nossa Wally.

 

Temos nesse filme um casal inter-racial. É importante para você falar sobre diversidade no seu trabalho?
Bom, no caso específico desse filme, no roteiro, originalmente, se tratava de um casal caucasiano. Ao mesmo tempo, não sentíamos que essa era uma condição imprescindível, não havia uma necessidade implícita de que esses personagens fossem brancos. Então, o que nos moveu foi a vontade de escolher os melhores intérpretes para cada personagem, independente da cor ou raça do artista. A partir do momento que nos vimos com John Cho e Mia Isaac, obviamente, percebemos que a mãe precisaria ser uma atriz que refletisse essa condição familiar, principalmente em relação à etnia de Mia. No final, todos foram perfeitos, atendendo exatamente ao que esperávamos deles, e não seria uma questão como essa que nos impediria que tê-los em cena.

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Hannah Marks (de máscara) e Mia Isaac no set de Não Me Diga Adeus

A roteirista, Vera Herbert, é também uma mulher. O set de Não Me Diga Adeus refletia esse olhar feminino sobre essa história?
Com certeza. Adoro trabalhar com outras mulheres, e fazia sentido nos esforçarmos para termos uma equipe inclusiva e que representasse todos os aspectos de diversidade na nossa produção. Isso dito, não podemos nos esquecer que, em última instância, as escolhas precisam ser feitas a respeito de quem é mais adequado para cada função, e enquanto cineasta o meu trabalho é manter os olhos atentos a todas as possibilidades, dando às pessoas novas oportunidades.

 

Quando você chegou no projeto, esses acertos já estavam definidos ou você pode fazer parte do processo criativo, oferecendo sugestões ou até mesmo modificações e substituições?
Sim, algumas coisas acabaram sendo alteradas pois, com o andar da produção, pareceu fazer sentido trocá-las. A história, por exemplo, originalmente se passava em 2012 – se não me engano, Vera a escreveu enquanto estava na faculdade. O roteiro passou por várias transformações ao longo dos anos, e muita coisa precisou ser mudada. Eu fui apenas uma parte desse processo, e com muito orgulho. Foi um trabalho muito colaborativo entre todos os envolvidos. Afinal, todos os dias há coisas novas que surgem no set, e você precisa estar preparado para lidar com essas necessidades.

 

Não Me Diga Adeus pode ser considerado um road movie. Quais são as suas referências nesse gênero?
Eu adoro Pequena Miss Sunshine (2006). Penso que estávamos em ótimas mãos sob os cuidados de Peter Saraf, nosso produtor, que foi indicado ao Oscar justamente por Pequena Miss Sunshine. Ele é incrível, e sabia que poderia confiar nas escolhas dele a respeito de qualquer questão relacionada ao tema.

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John Cho e Mia Marks em cena de Não Me Diga Adeus

Você já esteve no Brasil?
Infelizmente, não. Aliás, adoraria ir ao Brasil.

 

E a respeito do cinema brasileiro? Lembra de ter assistido a algum filme daqui?
Oh, agora você me colocou uma questão difícil. Sabe que não tenho certeza? Mas uma coisa é certa: após essa nossa conversa, isso certamente entrará na minha lista de prioridades. Mas vou ter que procurar no Google e escolher alguns dos melhores, ao menos para começar. Tem algum em particular que recomenda?

 

Bom, adoro Central do Brasil (1998), que chegou a ser indicado ao Oscar, não apenas como Filme Estrangeiro, mas também como Melhor Atriz, uma artista brasileira maravilhosa, a Fernanda Montenegro. Cidade de Deus (2002), claro, também é uma boa pedida.
Uau, agora fiquei ainda mais impressionada. Muito obrigado pelas dicas. Esses dois entrarão de imediato na minha lista de próximos a serem vistos.

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Robledo Milani (editor-chefe do Papo de Cinema) e Hannah Marks (diretora de Não Me Diga Adeus) em conversa por zoom

Ótimo! Me diga depois o que achou deles. E já que estamos falando sobre isso, como você acha que o público brasileiro irá receber Não Me Diga Adeus?
Não tenho a menor ideia, me diga você! Eu nunca estive no Brasil, então não sei o que pensar. Acho que é possível que gostem, afinal, penso nessa como uma história universal. Por outro lado, sempre morei nos Estados Unidos, então vai ser uma surpresa. Fico feliz em saber que você gostou, e espero que essa mesma impressão se repita não apenas no Brasil, mas em qualquer outro lugar no mundo.

(Entrevista feita por zoom, entre Brasil e Estados Unidos, em junho de 2022)

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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