E o Rio de Janeiro continua lindo. A cidade que será palco de alguns dos mais importantes jogos da próxima Copa do Mundo e sede das Olimpíadas de 2016 também é o destino preferido de 10 entre 10 astros internacionais que chegam ao país para promoverem seus novos filmes. Nos últimos anos a capital carioca recebeu nomes como Tom Cruise, Bradley Cooper, Will Smith, Vin Diesel, Colin Farrell e muitos outros. E nessa semana foi a vez dos dois principais atores do aguardado RoboCop, filme que marca a estreia em Hollywood do diretor José Padilha. Remake do original de 1987 dirigido por Paul Verhoeven, a nova versão do policial do futuro tem como protagonista o sueco Joel Kinnaman, enquanto que Michael Keaton responde pelo papel de Raymond Sellars, o dono da OmniCorp e responsável pelo surgimento deste homem metade máquina, metade policial. O Papo de Cinema foi um dos veículos oficialmente convidados pela Sony Pictures do Brasil para estar presente nas coletivas e entrevistas com a imprensa, momento em que conseguimos conversar com exclusividade com Keaton, que falou sobre seu personagem, sobre como foi trabalhar com o cineasta brasileiro e também sobre as comparações entre o novo RoboCop, agora num visual preto e sombrio, e um outro Cavaleiro das Trevas que interpretou. Confira!
Como você se sente em fazer parte de um RoboCop mais tático e preto, com um visual muito dark, sombrio, assim como foi em Batman (1989)?
Sabe, acho que o Sellars vê o potencial comercial nisso, mas acho que também vê a estética nisso. Acho que ele tem uma sensibilidade artística. O Tim Burton começou com esse visual e o look foi sendo diluído e aproveitado por outros diretores, de maneiras diferentes. Mas o tom desse gênero, o primeiro a fazer isso foi o Tim, com o Batman (1989), baseado na obra do Frank Miller, principalmente em O Cavaleiro das Trevas. Além do uniforme escuro, cinza carregado, um azul fechado, tem um tom, um subtexto negro, sombrio nele. E o visual ficou muito legal, não? Acho que Sellars era fã do Batman, por isso a escolha por este estilo.
E o que você achou do filme e qual foi sua primeira reação quando recebeu o convite para fazer parte deste remake?
Um elemento que é muito interessante em RoboCop é que o personagem é emocionalmente surpreendente. É um filme que coloca o personagem principal completamente exposto e, ao mesmo tempo, coberto por muitos níveis de interpretação. A profundidade que atinge é surpreendente, é relevante socialmente, politicamente, filosoficamente muito bem desenvolvido, sem ter que dar na cabeça das pessoas para alcançar todas estas camadas. Ele é entretenimento, apesar de isso tudo. O Batman não estava nesse nível, era algo muito mais pesado com o que lidamos naquela época. Gostaria de ter pensado, naquela época, sobre as perguntas que tenho respondido agora com esse novo projeto, pois tenho lidado com muitos questionamentos que não ocorreram antes.
Como foi representar o vilão do filme? E um vilão que não é estereotipado, que tem muitas nuances…
Este seria o único tipo de papel que eu poderia assumir em uma produção como essa. Na verdade, o personagem já tinha sido desenvolvido pelo José, e quando chegou até mim já estava nesse caminho. Eu falei “é isso o que vejo” e o Padilha disse “também vejo isso”, e por isso me senti confortável para levá-lo ainda mais longe nesta direção. Existem tantos vilões tão bons, tão perfeitos. Um exemplo para mim é o Gene Hackman, em Superman: O Filme (1978), que é surpreendentemente engraçado! Quem diria que Gene Hackman poderia ser engraçado? É um ator tão bom, tão perfeito, e ainda assim consegue brincar com seus personagens. Mas o José e os roteiristas tinham desenvolvido muito bem o personagem. O Sellars toma decisões ruins, mas é um cara complexo, sem estar interessado em se mostrar complexo. Este é o grande segredo dele.
Você é um fã do RoboCop original?
Pra falar a verdade, preciso confessar: nunca vi o primeiro filme. Aliás, nenhum dos três filmes originais – o estúdio pode ter esquecido das sequências, mas elas existem! Vi apenas algumas partes, mas isso não é descaso algum… nem os meus próprios filmes eu costumo assistir!
Você já conhecia o trabalho do José Padilha?
Não, infelizmente, não. Mas assim que ouvi falar dele, fui atrás dos filmes, principalmente dos dois Tropa de Elite. E uma coisa que me chamou muita atenção nestes filmes é como são boas as atuações de todo o elenco. Acho que isso é algo que as pessoas esquecem de mencionar quando se fala destes filmes, se focam tanto na violência, no sucesso, nos prêmios e não percebem como o Padilha é um bom diretor de atores. Todos estão ali completamente entregues, envolvidos na história, de coração aberto. O Wagner Moura – Capitão Nascimento – é excepcional.
O Samuel L. Jackson disse, em uma entrevista, que quando foi convidado para fazer RoboCop não havia ficado interessado, mas que mudou de ideia quando soube que quem iria dirigir seria o José Padilha…
Comigo foi o oposto (risos). Todo mundo diz isso, o Joel, a Abbie Cornish… até o Gary Oldman entrou nessa. Eu, não, assumo: queria ser o vilão de um grande filme! Mas quando me falaram desse diretor quem ninguém conhecia, pensei “o que esse brasileiro tá querendo?” (risos). Mas, sem brincadeiras, trabalhar com Padilha foi um dos grandes prazeres deste projeto!
Qual foi a sua motivação para fazer o filme?
Foi por causa do Padilha. Acho que fui a última peça do quebra-cabeças que foi montar esse elenco. Já era fã do Joel por causa do seriado The Killing, o Gary Oldman é um cara que admiro muito, o Samuel… nossa, essa é o terceiro ou quatro filme que fazemos juntos! Ou seja, o elenco por si só já era um grande atrativo. Este foi um fator decisivo para fazer parte desse projeto. Quando um projeto tem um grande diretor, é interessante. E o Padilha é incapaz de fazer algo comum, está no DNA dele. Se ele fizesse Débi & Lóide, vocês sairiam do cinema pensando “hum, a estupidez até que é interessante…”.
(Entrevista feita ao vivo no Rio de Janeiro em 18 de fevereiro de 2014)