Em 2013, o Dia dos Namorados de Daniel Boaventura será diferente: ele estará ao alcance dos fãs de norte a sul do país, como protagonista de uma das comédias de maior apelo de público do ano: Odeio o Dia dos Namorados, de Roberto Santucci. Afastado nas telonas desde 2005, quando participou de Coisa de Mulher, de Eliana Fonseca, Boaventura troca agora Adriane Galisteu (sua parceira na época) para fazer par romântico com Heloísa Perissé, neste novo trabalho do mesmo diretor dos campeões de público De Pernas Pro Ar (2010) e Até que a Sorte nos Separe (2012), ambos com mais de dois milhões de espectadores! Baiano de Salvador nascido no dia 19 de maio de 1970, Daniel é também cantor, com três CDs lançados, e presença frequente na televisão e nos mais badalados musicais apresentados no Rio de Janeiro e em São Paulo, como A Família Addams (2012), Evita (2011) e My Fair Lady (2006), entre tantos outros. E foi sobre todos estes trabalhos, e em especial seu último projeto no cinema, que conversamos nesse bate-papo inédito e exclusivo. Confira!
Como surgiu o convite para participar do filme Odeio o Dia dos Namorados?
Foi engraçado como tudo isso aconteceu. O convite, na verdade, veio no ano passado. Eu estava em cartaz, em São Paulo, com o musical A Família Addams, e durante um intervalo fui conferir meus e-mails e lá estava uma mensagem dos produtores do filme, que haviam me visto na peça e pensado em mim para esse papel. Quando li os nomes do Santucci, da Perissé, do Paulo Cursino (roteirista), nem tive mais dúvidas – eu precisava estar neste filme! E a sinopse que me enviaram só reforçou esse ideia, era tudo muito redondo, não havia muito o que pensar. Gostei da ideia de ser uma trama não tão cômica, no sentido de escrachado. É mais reflexivo. E o meu personagem transita de maneira discreta pela história, mas ao mesmo tempo tem seu momento de maior interesse. Fora o fato de fazer parte de um elenco tão forte, gente tarimbada na comédia, mas que se dá bem também no romantismo, tudo feito com muito esmero. Este é um retrato de milhares de pessoas que vivem nas grandes metrópoles do Brasil e do mundo, que só se dedicam ao trabalho, deixando a vida pessoal de lado. Quando vi tudo isso junto, sabia que precisava fazer parte.
O seu personagem passa por três momentos diferentes: no começo, 15 anos atrás, depois no presente e também no futuro. Como foi compor estas diferentes versões?
Esse foi o maior desafio. Foi difícil, exigiu bastante de mim, principalmente quando apareço no futuro, como o filho do personagem principal. Os dois primeiros foram mais tranquilos, eram versões bastante próximas da mesma pessoa, uma mais bruta, a outra mais lapidada, mas não tão distantes. A primeira sequência era única, apenas um recorte, não tinha muito o que ser elaborado, era só uma apresentação dos personagens. O cerne da história, onde o personagem está de fato, se dá no presente, e isso veio de leituras que fizemos com o diretor e com o roteirista. Foi a partir daí que começamos a delinear o Heitor. Graças a Deus encontrei no Santucci um diretor que conhece a técnica, mas gosta também de dirigir atores. Ele fica sempre próximo, não está nunca ausente. A ajuda dele foi fundamental. E para construir o filho, tantos anos depois, foi através de um exercício de imaginação: imaginar como aquele personagem seria, mas mais novo. Era preciso trabalhar a voz, que não poderia ser tão grave, tinha que ser num outro registro. Mas tudo veio do texto, minha tarefa principal era me concentrar ao máximo em cada situação proposta.
E como foi o trabalho com Heloísa Perissé?
A Lolo – como carinhosamente a chamo – é uma grande parceira e foi mais uma vez uma delícia trabalhar com ela. A gente estudou muito o texto antes, com o diretor e o roteirista, nos ensaios, num processo bastante colaborativo entre todos, que quando chegou o momento das filmagens não havia mais espaço para surpresas, improvisações, pois já estava tudo pronto. Eu e a Heloísa fizemos uma novela juntos anos atrás (Cama de Gato, 2009), somos bons parceiros. Conheço bem o estilo dela como atriz. Graças a Deus, em 2012 trabalhei com um número grande de atrizes muito fortes: Fernanda Torres, Andrea Beltrão, Marisa Orth, Drica Moraes, Gloria Pires… ou seja, estava tarimbado em ter colegas com velocidade e inteligência cênica impressionante. Trabalhar com a Lolo significa que você vai dar muita risada, principalmente quando a câmera estiver desligada. Na cena do restaurante, por exemplo, eu não conseguia me controlar, ainda mais com ela e o André Mattos na minha frente! Mas fora isso, tudo correu muito bem (risos).
Sua última aparição na tela grande foi em 2005, no filme Coisa de Mulher. Por que tanto tempo afastado do cinema?
Foi uma série de coisas que acabaram acontecendo, não foi nada planejado. Depois de 2005 fui trabalhar na TV Record, no ano seguinte entrei na Globo, depois fui chamado para fazer o musical My Fair Lady. Essas três coisas aconteceram quase em sequência, sem tempo nem pra pensar direito. E principalmente o musical toma muito tempo da gente, tem que ter ensaio, só isso levam meses, depois é estar todas as noites lá no teatro, o tempo todo em cena. É muito cansativo, eu adoro, mas não há como fazer mais nada ao mesmo tempo. E depois acabei emendando um musical atrás do outro! Até vieram outros convites para voltar ao cinema, mas o difícil era conseguir conciliar tudo. Outra coisa que surgiu nesse período foi a minha carreira como cantor, que comecei em 2007 e tem sido muito gratificante. Estou no meu terceiro CD, com shows todos os meses, percorrendo o Brasil inteiro. Parece que o convite para participar do Odeio o Dia dos Namorados veio no momento certo, quando a temporada do A Família Addams estava acabando, o CD já havia sido trabalhado… foi quando disse: é agora ou nunca! E adoro cinema, sou cinéfilo de carteirinha, sempre que posso to no cinema, adoro comprar e colecionar filmes.
Você tem trabalhado também como dublador. Recentemente, participou da versão nacional da animação Reino Escondido. Como foi esse trabalho?
Esse convite também chegou durante a temporada com A Família Addams! Em 2012 trabalhei como um burro de carga, haha (risos)! Duas produtoras da Fox foram ver o espetáculo e acabaram me convidando, ali mesmo, após a apresentação. Foi muito bacana. Dublei tudo em um dia, numa tarde. Foi fantástico, ver seu movimento em um outro corpo é algo inacreditável. A única coisa semelhante que fiz antes foi o longa de animação nacional Minhocas, que tem um roteiro super bacana do Marcos Bernstein. Fiz a voz do vilão e também a do herói, foi muito divertido – este será o primeiro stop motion nacional! Mas pra se ter uma ideia, gravei a primeira versão, em inglês, para o mercado internacional, em 2007, e em 2012 gravei tudo de novo, dessa vez em português! A previsão é que o filme estreie, finalmente, no final deste ano, de 2013. Sobre o Reino Escondido, quando li que era um projeto da Blue Sky, que tinha nomes como Chris Wedge e Carlos Saldanha envolvidos, isso me bastou. No meu primeiro contato li somente a sinopse, ainda sem os diálogos, que não haviam sido enviados. Esses só tive acesso no dia do único ensaio, que foi quando gravei o trailer. Foi quando tive o primeiro contato de verdade com o personagem. A emoção foi absurda!
Você concorda que rir é o melhor remédio? O que explicaria o sucesso que as atuais comédias brasileiras tem conquistado junto ao público?
Eu não sei explicar esse fenômeno… Sabe, adoro seriados americanos, já vi todos os episódios do Seinfeld, Friends, How I Met Your Mother… Sou fã também do Monty Python! Então, de uma forma ou de outra, sempre estive meio conectado com o riso, com a graça. Suspeito que essa atual onda nacional tenha sido gerada por causa dos sucessos dos artistas de stand up comedy, que meio que tomou conta do cenário artístico brasileiro de uns tempos pra cá. Talentos que antes eram ignorados começaram a se destacar, e para isso contaram com a internet, que ajudou bastante. O brasileiro é um povo com um senso de humor enorme, né? A risada é um remédio que ajuda bastante a levar a vida, e situações assim já se repetiram outras vezes, em lugares diferentes, como os filmes de humor que tanto sucesso fizeram no mercado britânico nos anos 1990, por exemplo. É algo cíclico. O que acho que esses filmes de agora tem em comum é uma habilidade de aliar humor com romance. Hoje em dia há espaço para tudo, para o escrachado, para o romântico. As linguagens se multiplicaram.
Qual a mensagem por trás de Odeio o Dia dos Namorados?
Acho que o fundamental é que esse é um filme para se divertir. Quem tem namorado vai gostar, quem não tem vai gostar mais ainda (risos). E é assim também na vida, há sempre os dois lados da moeda. Odeio o Dia dos Namorados não é só comédia, mas tem também situações estapafúrdias. É tudo muito orgânico, que se combina, cada reação dos atores está ali por um motivo. Esse é, ao meu ver, o grande mérito do filme. Tem um elenco bacana, especialista no gênero, uma galera muito talentosa. O público vai rir, e é capaz também de se emocionar – inclusive os homens, viu?
(Entrevista feita por telefone direto de São Paulo no dia 29 de maio de 2013)
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