Uma das muitas fazendas agrícolas ao longo da estrada River Road, que sai de Nova Orleans seguindo o traçado do Mississippi, a Evergreen Plantation talvez seja uma das mais bonitas. Suas longas alamedas são emolduradas por carvalhos majestosos, cheios de delicados musgos pendentes. Ainda hoje uma fazenda produtiva de cana-de-açúcar, ela abriga 37 construções segundo o Registro Nacional do Patrimônio Histórico, incluindo 22 senzalas de escravos anteriores ao período da Guerra Civil, um testemunho dos verdadeiros horrores presenciados no sul dos EUA no passado.
O que cenário que se vê neste momento é um pouco diferente do habitual. Marchando em fila indiana, com os braços e pernas acorrentados, um grupo de escravos está sendo levado à “Candylândia”, a fazenda fictícia que serve como o principal cenário do novo filme de Quentin Tarantino, Django Livre. À frente do grupo, vestido num figurino completo de caubói e montado a cavalo, está Jamie Foxx no papel-título de Django, um escravo alforriado se passando por um mercador de escravos a fim de conseguir acesso à fortaleza do seu proprietário, Candie. Django Livre é isso, uma tentativa destemida do cineasta de contar um faroeste protagonizado por um escravo.
Estamos no meio das filmagens, e o calor é intenso. E entre uma espera e outra, conseguimos trocar algumas palavras com o ator vencedor do Oscar por Ray (2004), que se mostra bastante à vontade em liderar estes novos personagens pelo universo tarantinesco. Com a palavra, Jamie Foxx:
O que significa, no atual cenário americano, um filme como Django Livre?
Acima de tudo, trata-se de uma tentativa de se conectar às raízes que unem a maior parte da população afro-americana do país. Embora seja uma obra de ficção, havia gente assim na minha família. O meu tataravô foi condutor da ferrovia clandestina da época. Então, esses são personagens verdadeiramente históricos que há muito precisavam ser representados. E não de um modo asséptico, num filme ‘Ah, como isso é belo’, e sim num filme de ação corajoso e casca grossa do Quentin Tarantino!
Como lidar com a responsabilidade de viver o protagonista, ainda mais numa reinvenção de um icônico personagem?
Há muito tempo eu nutria o sonho de atuar num faroeste. Todo mundo quer ser um caubói, cara! Quando era garoto no Texas, tinha revólveres de brinquedo. Ganhei um cavalo no meu aniversário há quatro ou cinco anos, então, estou montando o meu próprio no filme. Só por viver experiências como essa já está sendo bom demais! E sobre o personagem… bom, o próprio Franco Nero está no filme, não é mesmo? Isso já quer dizer tudo, temos até a benção do cara! Isso tudo está sendo demais!
Este cenário lhe é bem familiar, não é mesmo?
Na verdade, cresci a uma distância de pouco mais de 8 horas de carro da Fazenda Evergreen, que está servindo de locação para as filmagens de Django Livre. Aquilo era… era tudo com o qual nós convivíamos. As coisas são assim. Até hoje, o modo como certas coisas acontecem no cenário das diferenças raciais é por causa disso. É porque há algo daquela mentalidade que ainda não foi totalmente apagado.
E como está sendo o trabalho com Quentin Tarantino?
Estou impressionado com a coragem de Tarantino. Ele é hip-hop, cara (risos)! Está sendo muito difícil fazer esse filme, mas a maneira como ele o está filmando e as coisas boas e agradáveis que ele está descobrindo serão fantásticas. É por isso que ele é o Quentin Tarantino. E é por isso também que tenho certeza que todo mundo que for ao cinema ver este novo longa irá se surpreender!
(Entrevista feita por Joe Utichi, nos Estados Unidos, e editada com exclusividade por Robledo Milani, numa cortesia da Sony Pictures do Brasil)
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