Eric Marlon Bishop, mais conhecido como Jamie Foxx, nasceu no interior do Texas, nos EUA, em 13 de dezembro de 1967. Após chamar a atenção participando de diversas produções, há dez anos o ator recebeu sua grande chance ao interpretar o músico cego Ray Charles, na cinebiografia Ray (2004). Resultado: um Oscar na prateleira. Por pouco não foram dois, já que no mesmo ele concorria como coadjuvante por Colateral (2004), ao lado de Tom Cruise. Prestes a completar 47 anos, o intérprete recebeu um novo desafio. Se em 2012 viveu o herói-título de Django Livre, faroeste de Quentin Tarantino vencedor de dois Oscar, desta vez Foxx passa para o lado do mal no papel de Electro, uma das ameaças que o cabeça-de-teia precisa enfrentar em O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014), novo filme do popular personagem da Marvel. Na pele do primeiro vilão de sua carreira, o ator entrou a fundo na psicologia do personagem para mostrar todas as nuances que o levam a ser tão maléfico – ou seria apenas efeito do bullying que sofreu a vida inteira aliado a uma latente loucura? É o que Foxx responde nesta entrevista que você confere a seguir, contando todos os detalhes de seu personagem. Confira!
Quem é Electro?
Antes de falarmos do Electro, você precisa começar com Max Dillon, o personagem dos quadrinhos. Ele é um cara de 42 anos que já foi casado, mas a mulher o largou. Ele é engenheiro elétrico, mora com a mãe, que o mima, mas não o deixa crescer. Então, ele tem uma certa idade e ainda não deu um rumo à sua vida. Contar com essa história pregressa foi fantástico para mim, porque quando você concorda em fazer um papel assim, a questão é: haverá momentos em que teremos a oportunidade de atuar? Mas, felizmente, Marc Webb, o nosso diretor, queria exatamente isso, pois sempre encarou os efeitos espetaculares e a ação explosiva como acessórios, não como a vida da história. Então, numa reunião com o Marc e os roteiristas, disse: “Ninguém jamais chama Max pelo nome, mas como nós podemos levar isso ainda mais longe?” Então, tivemos a ideia que ninguém se lembra do aniversário dele, nem a própria mãe, o que o magoa muito. Achei esse um ótimo ponto de partida para que Max Dillon se transforme no Electro, porque muitas vezes nesses filmes, em meio à ação, você realmente não sabe de onde vem tanta maldade e revolta. E nós registramos o fato de que ninguém jamais diz o seu nome e aí, de repente, o Homem-Aranha diz: “Ei, Max, você é meu amigo, você é meus olhos e ouvidos por aí”. Ele reage a isso como alguém que passou a vida toda no deserto e lhe dão um pouco d’água. Ou melhor, uma piscina inteira.
Como ele adquire esse poder?
Ele trabalha como engenheiro elétrico da Oscorp, montando redes elétricas. Mas realmente é só mais um empregado. Até cair num tanque gigantesco de enguias que a Oscorp provavelmente está usando como cobaias em experiências. Ele se torna poderoso e a sua jornada será aprender a usar sua força e como desenvolver esse novo poder em benefício próprio.
E você lia os quadrinhos quando era garoto?
Lia. A gente lia os quadrinhos. Uma coisa que nos chamava atenção era a série do Homem-Aranha, Electric Company, porque era ótima para crianças. Você sabe, a gente vê o Homem-Aranha lançar as teias e, à época, você pensa: “Nossa, como ele fez isso?” Aí você fica mais velho e vê que é, na verdade, alguém atirando uma corda e você pensa: “Como assim?” Mas eram personagens fantásticos.
Como é interpretar um vilão? Você não tinha interpretado vilões antes.
Eu nunca tinha interpretado um vilão de fato. Já interpretei antagonistas. Por exemplo, interpretei o antagonista em Dreamgirls: Em Busca de um Sonho (2006), e quando à época me perguntaram: “Devemos pegar mais leve com ele?”, disse: “Não. Quero que seja um cara real da música, e esses caras não estão nem aí para os artistas”. Mas interpretar um vilão como este significa fazer coisas fora do comum. Você tem falas muito legais. Pedi ao diretor para me deixar improvisar nas cenas e criei: “A dona aranha subiu pela parede, veio o Electro e a derrubou!” Então, disse: “agora vou tentar outra coisa”, e me virei e só assobiei a melodia. Ou seja, como vilão, posso fazer tudo isso, porque não há parâmetros. Como protagonista, existem limites, mas o herói fica ainda melhor quando o vilão é tão louco. Gostei muito disso, porque nem todos os vilões são tão cool. O terno que uso quase lembra uma Lamborghini, e só pensava: “Uau, isso é muito legal”.
E você está azul! O processo de caracterização do figurino e maquiagem era superlongo?
Era, especialmente no início, porque exigiu quatro tentativas para chegarmos à cor certa. Nós, finalmente, usamos o azul, e todos acharam que, a princípio, estava azul demais, mas a maquiadora disse: “acho que assim vai funcionar”. E essa foi a cor que todos realmente preferiram.
Parece que há alguma coisa no histórico do personagem que se relaciona à questão do bullying.
Sim, com certeza. Veja o mundo em que nós vivemos agora e como o bullying mudou o jogo. A minha filha trabalhou na campanha anti-bullying da sua escola de ensino médio. Se ela falava que alguém estava fazendo bullying, queria pegar meu carro, ir até a escola e resolver isso. E ela dizia: “Não estão fisicamente lá, pai, eles estão na internet”. Isso me deixava chocado. Quando era garoto, encarar os bullies afiou a minha habilidade cômica. Eu era o melhor comediante do mundo. Ou você faz o agressor rir ou você apanha.
Parece que o Max é um sujeito com o qual nós podemos nos identificar como alguém que já sofreu muito.
Sim, mas tem um outro aspecto. Tem alguma coisa errada com ele. Vejo quase como um questionamento aos deuses: “Por que todas as outras pessoas tiveram uma vida ótima e isso aconteceu comigo? Por que eu não era bonito? Por que não tive uma namorada?” Coisas simples. “Por que não posso ter o Pacote A Completo? Não preciso ser um superstar, mas posso ao menos ter isso“. É em outro nível. Ele é psicologicamente desequilibrado. Então, com certeza tem um bullying, esse é o catalisador, mas também tem alguma coisa acontecendo dentro do Max.
Como era o Marc como diretor?
Ele é ótimo. É um grande desafio lidar com o escopo e o orçamento deste filme – ter que contar a história de todas essas pessoas. O elenco e a equipe técnica exigiam dele o tempo todo e ele conseguia atender a todos, e também entender como será a trilha musical e tudo mais. E exigiu muito do meu desempenho. Não foi moleza, sabe. Ele realmente queria que me saísse bem. E achei isso fantástico para o filme, porque se você realmente consegue levar seus atores ao desempenho adequado, então, quando surgirem as explosões e tudo mais, isso é apenas a cereja do bolo.
Uma última pergunta. Fale um pouco sobre o trabalho com Andrew Garfield.
Andrew Garfield, cara, ele tem uma coisa ótima e o que torna tudo isso muito legal é o fato de que ele prioriza a interpretação. Não é só: “vou vestir o uniforme e deixar que o figurino fale”. Ele analisa detalhadamente as cenas; avança e retrocede até entender em que ponto nós nos encontramos, não apenas na cena, mas como ela se relaciona com o futuro e além, caso venham a rodar mais filmes no futuro. Então, é isso o que você quer — uma pessoa que não aceite tudo sem questionar. Porque já trabalhei em situações em que a atitude das pessoas era, “sou só uma mosca, cara”, e até funciona. Mas numa produção dessa magnitude, em que há tanto em jogo, você precisa de alguém que compreenda não apenas o lado externo, mas o interior dos personagens. E foi o que nós tivemos com o Andrew.
(Entrevista cedida com exclusividade no Brasil pela Sony Pictures para o Papo de Cinema e editada por Matheus Bonez)