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O cineasta colombiano Mauricio Cuervo marca sua estreia em longas-metragens de ficção com Crônica do Fim do Mundo (2012), filme no qual assina a direção, o roteiro e a montagem. Realizador de cinema e tevê em seu país de origem, documentarista e curta-metragista premiado, Cuervo também é professor universitário. Seu trabalho anterior, o roteiro de Silencio en el Paraíso (2011), foi dirigido por seu amigo, Colbert Garcia, e venceu prêmios no festival espanhol de Málaga, incluindo Melhor Filme. Estreando no Brasil sua primeira produção como diretor, Cuervo teve seu trabalho exibido em primeira mão no país durante a 10ª Seleção de Filmes, mostra realizada em Porto Alegre, e conversou com o Papo de Cinema, por e-mail direto de Bogotá, na Colômbia, sobre sua obra.

 

Inúmeros filmes trabalharam o conceito do “final do mundo”, como os próprios personagens do seu longa-metragem comentam. No entanto, em Crônica do Fim do Mundo a abordagem é diferente. Qual foi a motivação para ambientar a história neste período em 2012 do tão falado Calendário Maia?
A ideia nasceu no fim de 2011, quando se vivia a febre midiática a respeito da profecia Maia. Então surgiu uma reflexão sobre o conceito do fim do mundo: o que significa realmente a nível pessoal, quantos “fins do mundo” são possíveis e quantos já vivemos, distante dessa coisa grande que sempre nos é mostrado por Hollywood. E também, que haveria alguém que realmente acreditaria, ao menos um pouco, que o fim do mundo estava próximo, surgindo assim o ajuste de contas com o passado, que acontece com Pablo.

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Cena de Crônica do Fim do Mundo

A direção de arte, principalmente da casa de Pablo, é muito bem trabalhada, fazendo com que acreditemos que aquele personagem não sai às ruas há tempos. Como foi a concepção daquele espaço, visto que o orçamento do filme não era robusto?
A locação é o apartamento da produtora. O estúdio do seu marido é o estúdio de Pablo. Lá já tínhamos uma biblioteca bastante rica, e acabamos levando alguns livros mais. Queríamos dar a impressão de livros e revistas que vão se acumulando através dos anos, como camadas geológicas, e um único espaço claro e brilhante, o do telefone, que seria o centro de suas atividades. Nos outros espaços do apartamento, pensamos em dispor objetos que pudessem parecer familiares para o espectador, o tipo de coisa que acumulamos durante a vida e que trazem lembranças. Um lugar também muito ancorado no passado, carregado de nostalgia.

 

Existem algumas interessantes passagens nas quais o celular é usado como meio de captação de imagens, substituindo a câmera padrão. Sabemos que cada vez mais as pessoas utilizam o aparelho para registrar os mais variados momentos. No caso do filme, é um meio que Felipe, o filho de Pablo, encontra para reintroduzir seu pai a um mundo exterior há tempos não visitado. Ou seja, o uso benéfico da tecnologia. Gostaria que você comentasse esta relação existente entre pai e filho no filme.
É uma relação que considero estar marcada por duas coisas. Primeiro, Felipe, o filho, é o vínculo que Pablo tem com o mundo. Através dele pode resolver os assuntos de mera sobrevivência, como a compra de mantimentos e solução de questões legais, e ver a cidade além de sua janela; neste sentido, Felipe se transforma nos olhos de Pablo. O pai de alguma maneira vive através do filho. E, segundo, é uma relação marcada por uma lembrança muito dolorosa, não mencionada, uma zona de silêncio. Penso também que por momentos, é uma relação invertida. O filho é o pai que protege. O pai é o filho que espera.

 

Uma das grandes forças do longa-metragem é a performance de Victor Hugo Morant, que interpreta um senhor cheio de mágoas e saudades. Como foi a construção deste personagem junto ao ator?
Victor Hugo Morant é um ator clássico da televisão colombiana, tendo feito também teatro durante décadas, escrevendo e dirigindo. Fez muitos filmes. Então partimos com alguém muito bom para o papel. Acertamos nisso. Creio, seguindo diretores como Billy Wilder, Woody Allen e Alexander Payne, que o personagem está no casting. Se você tem um bom ator, não há necessidade de fazer muito. Se você tem um ator ruim, não há muito que você possa fazer. O trabalho consistiu em leituras prévias e pequenos ajustes durante a filmagem, mas se o personagem funciona tão bem é mérito do talento do ator.

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Mauricio Cuervo, Victor Hugo Morant e Sandra Bustos

A equipe do filme foi enxuta e você foi responsável pela direção, roteiro e montagem. Quão importante é para você, como autor, ter para si estas três responsabilidades?
Crônica do Fim do Mundo tem um caráter muito independente, alternativo, e foi meu primeiro longa-metragem. Creio que por isso era importante assumir as três tarefas. Contudo, não é imperativo que eu tenha estas responsabilidades sozinho. Já fui roteirista de outro diretor e, no futuro, acredito que dependerá de cada projeto para decidir quais papéis assumir.

 

Crônica do Fim do Mundo recebeu o prêmio de Melhor Filme no Festival de Bogotá. Como tem sido a recepção ao filme nos demais festivais pelos quais o longa tem passado?
A recepção nos festivais tem sido muito calorosa, entusiasmada em alguns momentos, o que tem nos deixado surpresos e alegres. Pensávamos que seria um filme muito local ou muito arriscado e exigente para o público em geral. Porém, não foi nada disso. Temos recebido comentários generosos, de muitos espectadores que se identificam com os conflitos dos personagens. Tudo isso tem sido muito gratificante, até porque o filme foi feito com grande esforço.

(Entrevista feita por email direto de Bogotá em Dezembro de 2013)

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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