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Pense rápido: qual o último filme da República Dominicana você viu? Pois é, nosso mercado tem raríssimos casos de abertura ao audiovisual caribenho. O Homem que Cuida (2017) teve sua primeira exibição brasileira em 2017, no Cine Ceará. Agora, esta coprodução dominicano-brasileira (sim, ela é um pouquinho nossa também) está finalmente chegando aos cinemas brazucas pela Esfera Filmes. Para promover o lançamento, o cineasta Alejandro Andújar esteve no Rio de Janeiro, acompanhando de perto a movimentação em torno da função e, de quebra, conversando com o público. Com um currículo que inclui estudos em Cuba e na Espanha, Alejandro é um conhecido roteirista de comédias populares em seu país natal. Aqui, para o seu primeiro longa, virou completamente a chave, apresentando uma narrativa em que sobressai a luta de classes. Conversamos com Alejandro num charmoso hotel do centro do Rio de Janeiro, onde foram abordadas particularidades da produção, questões concernentes às possíveis comparações e à coprodução com o Brasil. Confira mais este Papo de Cinema exclusivo, agora com Alejandro Andújar.

 

Alejandro, como surgiu a ideia para o filme?
Bom, surgiu há muito tempo, precisamente quando visitei a casa de praia de um amigo. Lá conheci um desses “homens que cuidam” e fiquei intrigado com as suas rotinas. Além disso, minha família tinha uma casa de praia que eu frequentava bastante quando pequeno. Em Santo Domingo é normal essa pessoa que zela pela propriedade alheia, que aqui vocês chamam de caseiro, não é? Foi por aí a gênese do filme, uma mescla dessa observação com minhas memórias de criança.

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Quais foram os principais desafios, haja visto que é seu primeiro longa-metragem?
Eu já tinha uma grande experiência como roteirista. Mas o principal desafio ao assumir a direção pela primeira vez era o trabalho com os atores. Como estabelecer essa dinâmica, especialmente por conta da estrutura do filme, com poucos personagens e locações bastante específicas? Mas creio que deu tudo certo, no fim das contas.

 

E como você conheceu o Hector, o intérprete do protagonista?
Hector Aníbal é um ator essencialmente de teatro. Ele fazia musicais e não tinha tanta experiência no cinema. Nosso filme é pequeno, independente, de autor, embora eu não goste desta expressão. Porém, a ideia era trabalhar com atores que conseguissem transmitir uma naturalidade, uma espontaneidade essencial. Conheci o Hector num pitch e o identifiquei de imediato, até porque ele é um artista famoso em Santo Domingo. Fizemos alguns testes e cada um era melhor do que o outro. De repente entendi que seria fácil trabalhar com ele.

 

Você seguiu bastante o roteiro ou cedeu espaço a improvisações?
As improvisações ocorreram apenas nos ensaios. Tivemos três semanas de trabalho prévio com o elenco, sobretudo para entender melhor a evolução da história e apontar correções que poderíamos fazer. Durante a filmagem não houve tanta improvisação, pois seguimos basicamente o que havíamos conversado na etapa dos ensaios.

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No filme há ricos versus pobres. A luta de classes lhe interessava desde o princípio?
Uma das coisas que eu não queria enquanto escrevi o roteiro era justamente isso de cair na luta de classes, dessa velha questão dos ricos versus os pobres. Mas, em algum momento aceitei que isso aconteceria quase naturalmente. Testemunho desigualdades diariamente, então não teria como escapar disso, de fato. O que tentamos foi desenhar todos esses personagens como moralmente frágeis, absolutamente questionáveis. Não se trata realmente de ricos ruins e pobres bons. Creio que todos os personagens do filme são filhos da puta (risos).

 

Algumas críticas, e a própria divulgação, fazem relação do teu filme com Abbas Kiarostami
Olha, obviamente me encanta quando mencionam Kiarostami, Ingmar Bergman, Bela Tárr (risos). Mas, ao mesmo tempo, é uma coisa que sempre me dá medo. Critico isso das pessoas buscarem influências. Acredito que o filme tem de ser algo único. Mas, olha, se tem algo de Kiarostami talvez seja isso dos personagens pequenos, não talhados ao protagonismo, e o minimalismo. Mas, claro, que me comparar com Kiarostami seria muito pretensioso da minha parte (risos). Meu filme, na verdade, é bastante caribenho.

 

No filme existe uma lógica de submissão. Para você, esta palavra define bem aquelas relações?
Mais que submissão, eu diria conformismo. A América Latina é conformada com sua exploração estrangeira, por exemplo. Muita gente fala sobre revolução, mas a realidade que vejo diariamente no meu país aponta a um conformismo. Isso é algo perigoso, porque gera coisas como o Jair Bolsonaro, resposta radical de direita também a esse comodismo. A República Dominicana é um país excessivamente conformado e totalmente conservador.

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E esse retorno ao Brasil? Como está sendo lançar o filme comercialmente por aqui?
Me encanta tudo isso. O filme tem um DNA brasileiro, porque o som foi feito boa parte em São Paulo e trabalhamos com editores brasileiros. Chegar aqui é fechar um ciclo. A sensação é de que o filme cumpriu o percurso devido. Estrear no Brasil, para mim, é um sonho. Nosso filme é a primeira coprodução Brasil/República Dominicana da História. Oxalá venham muitas outras. Na República Dominicana não tivermos tanto público (risos). Uma pena. Assim como eu, todos que trabalharam no filme estão muito felizes dele ter chegando ao Brasil neste momento.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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