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João Moreira e Pedro Santo são as principais cabeças pensantes por trás de um verdadeiro fenômeno português do humor. Em seu verbete na Wikipédia, Bruno Aleixo, personagem por eles criado, é descrito da seguinte maneira: “Bruninho Constantino Ribeiro Aleixo é um indivíduo com parecença a uma mistura ambígua entre um urso de peluche e um cão, sendo de facto, um Ewok, apesar de ter sugerido tratar-se de ‘um Yorkshire terrier com sotaque de aldeias serranas do distrito de Coimbra'”. Figura que ganhou notoriedade na televisão de Portugal, ele também foi o protagonista de O Filme do Bruno Aleixo (2019), deliciosa maluquice condizente com um universo satírico e ácido que conta ainda com o alvo busto de Napoleão Bonaparte (Busto), a action figure da série O Homem de Seis Milhões de Dólares (1974-1978) (Homem do Bussaco), o Mostro da Lagoa Negra (Renato Alexandre), o médico invisível (Dr. Ribeiro) e o porteiro inocente e gente boa (Nelson). Em O Natal do Bruno Aleixo (2022), que ironicamente chega ao Brasil após o período natalino, Bruno Aleixo sofre um acidente e, em estado de coma, viaja pelas lembranças de inúmeros natais malsucedidos. Para saber um pouco mais sobre esta produção que chega na quinta-feira, 18, aos cinemas brasileiros pela Risi Film Brasil, conversamos remotamente com João Moreira e Pedro Santo. O resultado deste Papo de Cinema exclusivo você confere aqui.

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Pedro Santo e João Moreira – Foto: Mario Miranda Filho/Agência Foto

Parece uma sacanagem típica do Bruno Aleixo o filme natalino dele estrear aqui em janeiro, depois do Natal.
João Moreira:
Isso acabou sendo uma questão de distribuição, de disponibilidade das salas, acredito. Não foi uma escolha artística, não optamos por estrear aí em janeiro – nota da redação: o filme estreou na semana do Natal de 2022 em Portugal.
Pedro Santo: É, mas o Aleixo poderia responder que estamos vendo filmes do Napoleão em 2023, entre várias outras histórias que aconteceram no séculos 17 e 18. Ele nunca iria dar o braço a torcer (risos).

Como surgiu a ideia de utilizar como base Um Conto de Natal, do Charles Dickens?
JM:
A ideia surgiu do produtor do nosso primeiro filme. Ele sugeriu a realização de um filme de Natal. Isso veio mais ou menos junto com a pandemia, ou seja, estávamos todos isolados em nossas respectivas casas. Aí resolvemos fazer algo episódico que permitisse várias equipes trabalhando em paralelo. Tivemos cinco ou seis times separados, o que nos permitiu fazer o filme em cerca de um ano. O texto do Dickens era perfeito por conta dessa natureza episódica. Para quem conhece a história, o filme tem vários easter eggs.
PS: Outra questão importante do Um Conto de Natal é a natureza onírica, ideal para as animações. Queríamos que cada equipe trabalhasse um estilo diferente de animação. Nos dois filmes que fizemos, partimos do princípio de utilizar nossos personagens estáticos. No primeiro  tínhamos a interação com os atores de carne e osso e neste as animações com técnicas diferentes.

Vocês trouxeram ao roteiro muitas histórias pessoais de natais em família?
JM:
Sempre buscamos na memória um bocado de histórias. Já me aconteceu o mesmo que ocorre com o Bruno de, quando criança, receber roupas e livros enquanto a expectativa era ganhar brinquedos. O Bruno Aleixo trata de coisas da vida comum, embora seja meio urso, meio cão, meio ewok. Os diálogos e as ações poderiam perfeitamente acontecer na casa ao lado, algo que queríamos para gerar identificação com as situações, quer sejam as natalinas ou não natalinas.
PS: Sim, não são problemas que acontecem em Endor, a lua dos ewoks (risos). São problemas cotidianos, no caso do dia a dia natalício. Usamos como base coisas que aconteceram exatamente como no filme, às vezes apenas o lugar era o mesmo. Mas, com certeza, há muitas experiências pessoais em cena.

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E como é a relação de vocês com os fãs brasileiros do Bruno, personagem famoso por conta da televisão portuguesa, mas que acabou conquistando muita gente por aqui?
JM:
Os fãs brasileiros acabaram surgindo de modo orgânico, sem que nos déssemos conta. A avó do Pedro é brasileira e minha mãe praticamente também, pois cresceu em São Paulo. Temos ligações grandes com o Brasil, inclusive no que diz respeito ao vocabulário do Bruno. Não sei se isso ajudou, não faço ideia, mas cultivamos essa ligação com o Brasil, até porque faz parte da biografia do personagem. Quando o Bruno foge para operar a cara, ele vai ao Brasil, um país em que se sente abrigado, um porto seguro. Aliás, quem faz as vozes do segmento no Brasil é a Melissa Garcia, a dona da voz da Vovó Juju do Irmão do Jorel  (2014-).
PS: Não pensamos de início em dialogar especificamente com o público brasileiro, mas é algo que aconteceu organicamente e gostamos de cultivar, como disse o Moreira.

E como foi a experiência de fazer esse segundo filme, no caso uma animação, com o agravante de produzir durante uma pandemia?
JM:
Foi completamente diferente do primeiro filme. A nível de montagem, o processo é pensado a priori. Não é só chegar e filmar, pois as coisas devem ser escolhidas previamente. Além de ser um processo diferente, tivemos de desenvolvê-lo online, não nos encontramos com os animadores. Não é o ideal, mas foi o possível, dadas as circunstâncias.
PS: No primeiro filme, havia a magia do set de filmagem, desta vez éramos nós sentados no sofá esperando arquivos de 2, 3 gigabytes (risos). A fase que gostei mais neste segundo filme foi quando começamos a receber as imagens dos personagens em cada segmento, ajudando a escolher a estética e toda essa engenharia.

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Um Conto de Natal termina com uma moral da história, algo que vocês refutam. Não há redenção para Bruno Aleixo?
JM: Não há redenção (risos). Faz todo o sentido que não tenha uma moral da história. Para quem espera que Bruno se torna alguém melhor, adiantamos: ele continua o mesmo monte de esterco (risos).
PS: Como ele não é tão mau quando o Scrooge, nem precisa mudar tanto. Logo ele está pensando de novo em dinheiro e em como ganhar vantagem sobre o amigos.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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