Pelas ruas de Cabul, no centro do Afeganistão, vive um garoto abandonado pela família. Ele não tem casa, e trabalha com a venda de ingressos ilegais de cinema, enquanto sonha em participar de uma produção de Bollywood, repleta de números musicais, roupas coloridas e belas mulheres. Um dia, o regime soviético abre um orfanato na região, onde Qodrat é levado contra a sua vontade. Aos poucos, ele descobre o mundo adulto e novas maneiras de se relacionar.
O Orfanato (2019) tem aparência de fábula, mas deriva da história real de Anwar Hashimi. Quando a diretora Shahbanoo Sadat conheceu o colega, ele o encorajou a escrever esta trajetória um diário pessoal. Resultado: 800 páginas de uma drama de passagem à fase adulta que atravessa 40 anos de transformação política no Afeganistão. Leia a nossa crítica.
Depois de ser exibido no Festival de Cannes, o filme chega ao público brasileiro diretamente em streaming. O Papo de Cinema conversou em exclusividade com a jovem cineasta afegã, que concebeu O Orfanato como a segunda parte de uma pentalogia dedicada à vida de Hashimi:
Como descobriu o diário não publicado e decidiu adaptá-lo?
Eu encontrei Anwar Hashimi na televisão, há doze anos. Ele trabalhava no departamento de notícias, e eu, na produção. Nós nos encontrávamos durante a pausa do café. Ele me disse que queria escrever sobre a vida dele, que era bastante dramática. Anwar não viveu com a família durante a infância. O pai morreu quando ele tinha oito anos de idade, e a meia-irmã decidiu acolhê-lo, mas ele não se integrou bem na casa dela. Por fim, terminou num orfanato, de onde também tentou escapar. Por isso, quando chegou à instituição, mentiu sobre o nome, a família, a religião, a origem étnica. Anwar não pretendia ficar, muito pelo contrário. Aos poucos, no entanto, se apaixonou pela escola e fez amigos importantes. A ideia de fugir do orfanato passou, e ele permaneceu por oito anos.
Então os Talibãs tomaram o poder, ele imigrou para o Irã e para o Afeganistão. Desde o orfanato, ele não conseguia se desfazer da história falsa que criou para si mesmo na instituição. Ele nunca voltou a reencontrar a família, nem a cidade de origem. Eu o conheci aos 40 anos de idade, quando ele tinha certo desejo de resgatar suas raízes por meio da escrita. Ele conversava comigo sobre estas questões com certa dificuldade. A história era tão extrema que parecia uma mentira, por isso ele precisava escrevê-la. Mesmo assim, não tinha confiança em suas habilidades de artista. Ele não queria publicar o texto, mas teve a coragem de compartilhar comigo. Eu o encorajei a escrever oito páginas por dia e me enviá-las por e-mail diariamente. Ele pensou que oito páginas seriam demais, no entanto, às vezes me enviava dez páginas ou mais. Em pouco tempo, coletei 800 páginas de material sobre a vida dele.
“Quando segurei as 800 páginas do diário, percebi que tinha ouro nas mãos”
Aquele ano foi muito especial para mim: eu tinha leitura nova todos os dias, e aguardava ansiosamente para olhar meus e-mails e descobrir a sequência do texto. Ele era um bom amigo, mesmo assim, eu não o conhecia em detalhes antes. Só passei a conhecê-lo de fato através do texto. Nem ele sabia que era capaz de escrever tão bem. Era uma escrita muito simples, porém com uma honestidade belíssima. Era um tom muito pessoal, e ao mesmo tempo, bastante político. A história de vida de Anwar representa os últimos 40 anos da história do Afeganistão. Eu tenho 20 anos a menos que ele, nasci em 1991. Não conhecia o passado do Afeganistão tão bem, e pensei que essa fosse a minha geração, ou culpa minha por não estar interessada. Através desse diário, eu me reconectei com o passado de uma maneira que nunca imaginaria. Redescobri o cotidiano de Cabul, que era muito diferente de hoje. Isso me deu uma bela perspectiva sobre aquele período. Quando li o texto, disse a Anwar que este material mereceria ser adaptado num longa-metragem.
Na minha cabeça, o diário atravessava cinco períodos diferentes da História do país, e pensei que deveriam ser cinco filmes independentes. No final, as cinco obras teriam certa conexão quando colocadas lado a lado. Ele consentiu, mas não disse nada a mais. Na época, eu não era cineasta, não tinha feito nem um curta-metragem sequer! Ele deve ter pensado que eu estava exagerando só para encorajá-lo a escrever. No entanto, estava falando a verdade: quando segurei as 800 páginas do diário, percebi que tinha ouro nas mãos, mas ele pensava de maneira oposta à minha. Anwar estava envergonhado do próprio texto, e não enxergava qualquer valor literário naquelas páginas. Para mim, o interesse na jornada íntima no Afeganistão era imenso – sempre gostei dos retratos de pessoas comuns. Eu me apaixonei por aquelas páginas, e em 2016, filmamos a primeira parte, sobre a infância, chamada Lobo e Ovelha. Terminamos O Orfanato, e agora estamos trabalhando na terceira parte, sobre como ele conheceu a esposa no trabalho. Será uma comédia romântica.
Então pretende dedicar seus próximos três filmes às sequências deste projeto?
Sim, com certeza. Já tenho a quarta parte pronta, inclusive. Tenho muitos projetos pela frente, e quero terminar esta pentalogia. Faz sentido que eu siga em frente e continue com as cinco partes: sempre fui interessada em estruturas narrativas sequenciais. Além disso, quando eu terminar os filmes, pensei em publicar o diário como livro, para que as pessoas possam ler o diário e depois assistirem ao filme. O Orfanato não é uma adaptação fiel da história dele: eu apenas me baseio nestas vivências para torná-las minhas. Esse foi o caso de Lobo e Ovelha, quando eu sequer tinha um personagem principal dentro do orfanato. O texto dele é muito focado no ponto de vista subjetivo. No terceiro filme, teremos um protagonista definido.
Qodrat não controla a história. Os fatos acontecem apesar dele, não por causa dele. Essa é uma estrutura interessante.
Estudei documentários, e sempre gostei muito do cinema de observação. Os filmes do cinema direto me fascinam. Mesmo assim, depois de estudar muito os documentários, decidi me consagrar às ficções. No entanto, levo estes elementos do cinema direto à ficção, por causa do meu interesse pelas pessoas comuns, pelo dia a dia e pelas narrativas sem grandes reviravoltas. Meu cinema de ficção se aproxima do cinema direto neste sentido. Além disso, eu não gostava dos filmes que em feitos sobre o Afeganistão. Nós não tínhamos uma indústria cinematográfica, mas o país era famoso como cenário de produções estrangeiras. Diretores já ganharam Oscars e rodaram festivais falando sobre o Afeganistão.
No entanto, morando aqui no país, acredito que estas produções sejam superficiais, muito distantes da vida cotidiana em Cabul. São dramas repletos de clichês sobre um país em guerra, algo que o mercado adora ver. Não consigo me identificar com estes filmes, e acredito que o Afeganistão mereça ser representado de modo verdadeiro. Diretores internacionais também fazem filmes sobre outros países como o Irã, entretanto o Irã tem sua própria indústria. Embora ainda existam retratos estereotipados da vida iraniana, os espectadores podem assistir aos filmes iranianos feitos por iranianos. O espectador tem liberdade para se confrontar a pontos de vista diferentes.
“Acredito que o Afeganistão mereça ser representado de modo verdadeiro”.
No caso do Afeganistão, não temos uma produção própria capaz de falar por si mesma. Sempre fomos definidos pelo olhar estrangeiro. Agora, ironicamente, jovens cineastas afegãos começam a fazer filmes, e também se inspiram dos clichês sobre o país. Ao invés de fazerem filmes sobre a sociedade em que vivem, acreditam que o mercado só aceitará este retrato estereotipado, e sucumbem ao olhar de fora. Quando eu assisto aos poucos filmes afegãos – chegamos a um filme por ano, no melhor dos casos – vejo que tivemos produções em Veneza, Berlim, Toronto. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer rumo a uma indústria cinematográfica.
Os novos cineastas deveriam ser mais corajosos, sem tentarem seguir os gostos do mercado. Eles precisam contar suas próprias histórias e acreditar no valor de suas vivências. Eu conheço esses diretores pessoalmente, e sei que têm histórias de vida fascinantes: eles vieram de outros países, viveram sob o regime Talibã. Nossa única riqueza no Afeganistão são as histórias. Mas essas histórias ainda são mal contadas de modo geral, porque os diretores estrangeiros nos observam de fora. Precisamos desse olhar interno e destemido.
O acesso aos meios cinematográficos no Afeganistão é diferente para homens e mulheres?
A divisão de gêneros não exerce um peso muito grande no cinema afegão, neste aspecto. O cinema não é uma atividade popular, e as pessoas só conseguem aprender sobre a formação audiovisual na Faculdade de Belas Artes, dentro da universidade pública. Mesmo assim, apenas os estudantes mais preguiçosos, e com as piores notas, terminam na faculdade de Belas Artes afegã. Isso é uma tragédia, porque depois da graduação, ninguém encontra trabalho na área. Estes profissionais são obrigados a aceitar emprego em outras áreas. O único objetivo desta formação é conseguir o diploma: o ensino é tão ultrapassado e antiquado que eu mesma decidi abandonar. Estudei durante algum tempo lá, mas percebi que não valia a pena seguir em frente.
Os poucos cineastas começam a fazer curtas-metragens e documentários, porque são muito mais baratos. Vale lembrar que não temos qualquer tipo de financiamento público, nem contratos de coprodução com outros países. A política e a guerra dominam o debate político, e as autoridades não se importam de fato com a cultura. Por isso, neste caso, a diferença de gêneros não tem um papel relevante: nem homens, nem mulheres conseguem filmar. No meu caso, como sou mulher, talvez eu tenha mais liberdade. Ao escolher o elenco de O Orfanato, fiz testes com mais de dois mil alunos. Enquanto isso, fazia demandas formais no Ministério da Cultura e no Ministério da Educação, além de vários colégios.
Se eu não fosse uma diretora mulher, talvez não me deixassem seguir adiante com essas demandas. Como eles menosprezam as mulheres com frequência, acreditaram que meu projeto não tinha muita importância. Não me levaram a sério e assinaram rapidamente os pedidos para se livrarem de mim logo. Quando fui à faculdade, os outros alunos e os diretores não prestavam atenção no que eu estava fazendo, porque não acreditavam que o trabalho de uma mulher pudesse render frutos. Éramos eu e minha assistente, e de certo modo, fico feliz por ter ficado invisível. Era exatamente disso que eu precisava. Neste aspecto, me sinto livre por ser mulher.
Como as pessoas reagiram ao teor político de O Orfanato?
Esta talvez seja outra vantagem inesperada da invisibilidade feminina. Além disso, existe uma grande máfia no Afeganistão, não apenas para a política, mas dentro da cultura. Há cerca de 50, 60 pessoas que controlam todos os debates na televisão. Eles dirigem os festivais de cinema, empregam uns aos outros, visitam o Presidente. Estes são os rostos público do cinema afegão, mas não é fácil pertencer a esta máfia. Quando você fica de fora do grupo, é como se não existisse: o governo simplesmente o ignora. Muitos diretores afegãos iniciantes se esforçam bastante para ser aceitos por esta máfia, porque este é um caminho de reconhecimento mais fácil. É uma loucura. O dinheiro continua inexistente, trata-se apenas de status e popularidade.
Obviamente, eu não faço parte desse grupo. Sou independente, trabalho a partir de fundos europeus, com produtores europeus. Os espectadores dos meus filmes são principalmente estrangeiros, e mesmo os afegãos que assistem às minhas produções estão no exterior, seja nas salas de cinema de outros países, ou nos festivais. Por isso, eu me encontro numa situação particular: sou uma diretora afegã, porque vivo no país e ele constitui a minha realidade. Minha vida está no Afeganistão, e a da minha produtora também. Por outro lado, por trabalhar com financiamento europeu, algumas pessoas me tratam como uma cineasta europeia. No meu país, para os olhos desta máfia, não sou uma diretora afegã. Ao mesmo tempo, por causa desse contexto, eu me arrisco muito mais, e não dou a mínima para a censura. Posso falar sobre o que eu quiser, porque não me importo com a opinião dos líderes afegãos sobre minha visão política.
“Temos uma lei que nos proíbe de falar da guerra civil”.
Temos uma lei que nos proíbe de falar da guerra civil. Se um cineasta famoso da máfia fizesse um filme sobre esta mesma época, ele se tornaria um grande sucesso em Cabul. Como eu não faço parte do grupo, fui independente para dizer o que quisesse e mostrar o resultado sem medo de represália. Mostramos o filme entre julho e setembro de 2019 num pequeno cinema montado sobre um restaurante. Tinham apenas 100 lugares, mas ele ficou em cartaz durante bastante tempo. Não recebi respostas boas dos poderosos, nem dos críticos locais. Mas quando O Orfanato esteve neste cinema, ele foi visto por espectadores comuns, que adoraram o filme. Participei de quase todas as sessões ali. A sessão dura 90 minutos, mas em geral tivemos debates durando mais 90 minutos! Foi impressionante: as pessoas tinham muitas perguntas, queriam conversar bastante a respeito.
No Afeganistão, temos apenas três cinemas restantes do período soviético. Eles estão sob controle do governo, e é preciso pagar muito caro para exibir seu filme nesse circuito. Mesmo assim, ninguém vai às sessões, porque não existe no país o hábito de ir ao cinema. Meu amigo construiu este cinema novo, o que foi muito emocionante para todos nós. Muitas pessoas choravam, e me diziam que era a primeira vez assistindo a um filme em Cabul, e a primeira vez assistindo a um filme afegão. Eu chorei pelo mesmo motivo: essa também foi minha sessão de cinema em Cabul, com meu próprio filme!
Viajei pelo mundo inteiro exibindo O Orfanato, e tinha feito a mesma coisa com meu filme anterior. No entanto, no caso de Lobo e Ovelha, não tive a oportunidade de vê-lo na minha própria cidade. Sou uma diretora afegã, e tenho orgulho de fazer filmes para os espectadores estrangeiros, inclusive os afegãos morando fora do país. Eu ainda não tinha tido a oportunidade de exibir meus filmes no Afeganistão, para afegãos. Foi incrível. Algumas pessoas me disseram que apenas a parte de Bollywood era boa, mas o resto era uma droga. Muitas pessoas falavam alto durante a sessão inteira. Isso trouxe uma nostalgia para o público que viveu aquela época em Cabul, pré-guerra. Os espectadores tornaram vivo o sentimento de estar numa cidade sem conflitos. Eles não sabiam deste orfanato construído pelos russos, por exemplo.
É surpreendente que a crítica local não tenha apreciado o filme.
Fui criticada principalmente por não filmar em meu próprio país, e sim num país vizinho. Para os críticos, isso era inaceitável. No entanto, esse argumento não tem muito sentido: filmei duas produções no Tadjiquistão, mas ninguém conseguia perceber que aqueles cenários não pertenciam ao Afeganistão. Eu nunca especificava algum bairro de Cabul, ou alguma região do país. Nem a minha família conseguia reconhecer que aquele cenário não vinha do Afeganistão. Sou muito dedicada nesse aspecto: levei oito anos para concluir Lobo e Ovelha, não por problemas de produção, e sim por escolhas de narrativa. Eu estava obcecada com a ideia de filmar no centro do Afeganistão, mas meu produtor conversou muito comigo a respeito. O país não estava muito seguro, e ele me disse que não dava mais para esperar que as condições melhorassem. Era a hora de filmar, senão, não filmaríamos mais.
Então aceitei. Procurei por locações em todos os lugares, do Irã ao Uzbequistão, passando pela China, e em todos os outros países possíveis. O mais próximo que encontrei da nossa paisagem afegã estava no Tadjiquistão, ao norte. Hoje, os diretores afegãos estão presos a esta ideia do cinema afegão, e têm dificuldades de defini-lo. Eles sugerem que, se o filme não foi filmado no país, não pode ser considerado afegão. Fico irritada quando criticam o uso de fundos de outros países, porque estas pessoas pressupõem que, a partir do momento que você obtém ajuda estrangeira, vai contar a História do jeito que estes países querem. Isso não é verdade. Você pode ter uma história pessoal e conseguir financiamento internacional, sem qualquer influência no roteiro. Esse preconceito é absurdo.
O processo para financiar O Orfanato foi muito longo. Tive respostas de possíveis financiadores para quem a história dos soviéticos não era fiel aos fatos, e que consideraram o projeto uma propaganda dos russos. Mas eu não fiz um filme político. O Orfanato não é um filme político, apenas a história de um garoto que vai a um orfanato, recebe três refeições por dia, faz amigos. Não é sobre política, nem sobre a minha opinião dos políticos. É sobre Qodrat e a experiência do garoto. Ao mesmo tempo, os soviéticos tinham tanto um lado sombrio quanto um lado positivo. O próprio orfanato foi um grande investimento deles, tendo abrigado muitas crianças. Mesmo assim, eu não estava falando sobre comunismo, socialismo, nada do tipo.
Me disseram que minha responsabilidade seria retratar as belezas
do Afeganistão. Mas eu não quero falar sobre isso!
Este orfanato representou um ponto de virada na vida de Qodrat. Ele foi uma criança sem família, morando pelas ruas e trabalhando em frente a uma sala de cinema, vendendo ingressos para produções de Bollywood. Ele fez isso por três anos, sem ninguém no mundo para cuidar dele. Este estado de fragilidade poderia facilmente tê-lo transformado num Mujahidin, a exemplo de diversas crianças. No entanto, ele foi acolhido e recebeu educação. A vida dele mudou depois deste momento, e eu queria retratar este episódio específico. Eu pensava antes que apenas diretores afegãos repetiam esses clichês desgastados sobre o país, mas o público funciona da mesma maneira: eles não querem ver a si mesmos nas telas. Eles buscam as figuras de heróis ou vítimas. Alguns espectadores disseram que minha responsabilidade, enquanto cineasta com acesso ao público internacional, seria retratar as belezas do Afeganistão. Mas eu não quero falar sobre isso! Sou uma diretora, eu deveria ter voz própria! Me disseram também que o filme era bonito, mas eu não deveria falar sobre belezas, e sim aproveitar esta oportunidade para mostrar ao mundo como estamos sofrendo com a guerra.
Críticos de jornais afegãos disseram que O Orfanato poderia ser bom, mas as cenas de Bollywood o destruíram. Eles pensavam que eu estava fazendo um entretenimento fácil, o que estava longe do meu objetivo. Toda a sociedade afegã ainda é muito influenciada por Bollywood. Se você vier a Cabul, e caminhar pelas ruas, pelas lojas, pelos restaurantes, vai escutar principalmente as músicas indianas de O Orfanato, que vêm dos musicais dos anos 1970 e 1980. Os filmes de Bollywood são um grande sucesso aqui, e os indianos representam o único país ao qual temos acesso livre enquanto estrangeiros. Muitos afegãos viajam à Índia para conseguir tratamento médico, e graças as filmes, aprenderam a língua deles com fluência. Para mim, Bollywood e os cenários do orfanato eram típicos do Afeganistão contemporâneo. Antes, qualquer filme estreando em Mumbai tinha uma estreia no dia seguinte em Cabul. Essa época de ouro se passou, mas eu não desenvolvi isso da minha cabeça: talvez as cenas musicais sejam as mais realistas do filme inteiro! Mesmo assim, os críticos pensaram que eu estraguei o tema ao investir no musical.
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