Nascido no Rio de Janeiro no dia primeiro de julho de 1983, Fábio Porchat é um legítimo artista multimídia. Entre seus créditos estão funções como roteirista, humorista, apresentador, redator e, claro, ator. Apesar de ter feito pequenos papeis no cinema desde 2010, foi somente dois anos depois que descobriu uma verdadeira paixão pela sétima arte, emplacando, em menos de 112 meses, quatro projetos em sequência: Totalmente Inocentes (2012), Vai Que Dá Certo (2013), O Concurso (2013) e o recente Meu Passado Me Condena (2013), que chega agora aos cinemas de todo o país.
Conhecido também pelo trabalho no coletivo Porta dos Fundos, que semanalmente movimenta uma audiência incrível na internet, e em programas na televisão – seja como escritor ou como intérprete – Porchat está experimentando pela primeira vez o seu lado romântico nessa comédia sobre um casal em lua de mel que descobre segredos mútuos. E foi sobre esse personagem, e também sobre outros trabalhos, que o ator conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!
Fábio, o que do seu passado, se revelado, lhe condenaria?
Olha, tem muita coisa (risos)… Imagina, to brincando. Acho que o pior que podem descobrir a meu respeito é que fui um gordinho bem nerd que adorava ficar em casa jogando RPG. Sério, era viciado em Dungeons and Dragons e outros jogos assim. Era muito tímido – apesar de ninguém acreditar hoje em dia!
Como foi assumir um outro tom para o seu estilo de fazer comédia, do escracho de Totalmente Inocentes (2012) para o romantismo de Meu Passado Me Condena (2013)?
Não gosto de ficar preso somente a um estilo de humor. Creio que o importante é variar, e isso é algo que sempre busquei no meu exercício como ator. É muito legal poder fazer um traficante retardado num dia, e no outro um cara apaixonado em lua de mel. Essa variedade é que nos renova, e penso que é o grande lance do Porta dos Fundos, pois ali a cada semana somos um personagem diferente, dá para experimentar bastante. Tem vezes que somos mais ácidos, mas em outra fazemos algo apenas para curtir entre amigos, depende muito do tom do improviso. E tem também o fato de que não se produz muita comédia romântica no Brasil, então era algo que queríamos muito fazer. O brasileiro ainda está descobrindo o seu cinema, estamos conseguindo nos comunicar melhor e reconhecer o que é televisão e o que é cinema. Como já fazíamos Meu Passado Me Condena na televisão, como seriado, foi tudo mais fácil, tínhamos familiaridade com os personagens. Mas sempre respeitando as diferenças entre os meios e procurando essa adaptação necessária.
Percebe-se no Brasil uma forte ligação entre a televisão e o cinema. O que você acha dessa relação?
Acho ótimo, essa ligação é muito importante. O espectador brasileiro tá muito mais acostumado a se ver na televisão, então é fundamental que a gente faça junto esse caminho de um meio para outro. Está cada vez mais fácil fazer cinema no Brasil. Dez anos atrás era uma dificuldade, levava-se anos para fazer um filme, hoje em dia a questão é de meses. Gravamos Meu Passado Me Condena em março, e agora em outubro já estamos entrando em cartaz. É outra relação, e o público está dando o retorno à altura. Claro que, na televisão, você fala para um público de 40 milhões de pessoas, enquanto que no cinema se tiver um milhão, dois milhões, já é um sucesso incrível. Mas são outros parâmetros, e reconhecemos isso.
O seu público é muito forte também na internet, espaço onde as piadas podem ser bem mais fortes e abusadas. O que esse espectador pode esperar de Meu Passado Me Condena?
Pois tenho percebido que essa relação pode até ser o contrário. O cinema, sim, permite experimentar muito mais, dá pra ter ousadia, nudez, palavrão, cenas mais pesadas. É uma diálogo que se dá a partir do pagamento de um ingresso, o espectador sabe o que irá encontrar e investe para isso. Na internet não, é tudo de graça, tá ali na hora e daqui a pouco não está mais, é passageiro. O que é grátis não tem o mesmo valor, não é mesmo? A diferença é que no Porta dos Fundos faço de tudo, já fui super-herói, gay, membro da Klu Klux Klan, Moisés com os 10 Mandamentos. Na última semana, por exemplo, nosso vídeo – Gostosa – era sobre um casal, algo bem simples, discutindo a relação. Era um humor menos ácido, mas comum, menos crítico. É algo no estilo de Os Normais (2003), que é o que buscamos também no Meu Passado Me Condena.
Como foi interpretar um gaúcho em O Concurso (2013)?
(risos) Pois é, foi diferente (falando com sotaque gaúcho forçado)… Viu só, não sei fazer esse sotaque por muito tempo! Foi difícil porque o que tentei fazer com o personagem era algo muito específico, eu tinha que ser o chato daqueles quatro, o mais reprimido, o mais contido. Você percebe que ele nunca mexia o braço, sempre aquele fantasma do pai por trás (opa!). Era um cara que estava ali contra à vontade, não gostava daquelas pessoas, e que ainda se descobre gay… e pior, era um gaúcho falso, pois era de Santa Catarina! E mesmo assim tinha que fazer o público simpatizar com ele, e isso vem do humor, é o que ajuda e aproxima o espectador. A comédia é que faz a diferença.
Quatro filmes lançados em menos de um ano. Qual o segredo para manter essa produtividade em alta?
Na verdade sou assim na minha vida pessoal, não paro um só minuto. Tenho uma vontade louca de descobrir novas formas e outros para de fazer as coisas. Mas na verdade foi o cinema que me achou, e o que aconteceu foi que acabei gostando e indo atrás. Com o Totalmente Inocentes, a produtora Mariza Leão que me encontrou e me deu a chance de fazer algo muito diferente, um personagem que à princípio não tinha nada a ver comigo. Depois daquilo a coisa engrenou, as portas foram se abrindo… O Meu Passado Me Condena é um exemplo disso, voltando a reencontrar a Mariza na produção! Estamos muito felizes com o resultado!
Por qual dos seus personagens você tem mais carinho?
Nem fiz tanta coisa até hoje, mas tenho um carinho enorme pelo Fábio, do Meu Passado Me Condena, pois o conheço há um bom tempo, né? Nossa relação vem do seriado de tevê, e agora só aprofundamos isso com o cinema. A parceria com a Miá Mello foi muito boa, e o Fábio é meio burrão, infantil, tem uma ingenuidade que me atrai. Outra experiência muito boa foi com o Amaral, no Vai Que Dá Certo (2013), que foi outro filme que fez muito sucesso, um projeto coletivo, era todo mundo muito amigo. Tenho saudades dele, espero que a gente possa se reencontrar numa continuação… quem sabe?
(Entrevista feita por telefone desde o Rio de Janeiro no dia 21 de outubro de 2013)