Davi de Oliveira Pinheiro nasceu em Porto Alegre, no dia 28 de julho de 1979. Do sul do Brasil ele tem dado muito o que falar por todo o mundo nos últimos meses. É que seu filme, Porto dos Mortos, finalizado em 2010, percorreu um bem sucedido circuito de festivais e exibições alternativas no Brasil e no exterior até finalmente entrar em cartaz, dois anos depois. Fã de Era uma vez no Oeste (1968), o diretor e roteirista fez do seu primeiro longa-metragem um faroeste urbano, com um justiceiro que busca completar sua missão numa realidade pós-apocalíptica repleta de zumbis. Filmado inteiramente no Rio Grande do Sul, Porto dos Mortos já foi reconhecido em festivais como Chicago, nos Estados Unidos, e Havana, em Cuba. E foi sobre esse trabalho de estreia e sobre seus próximos projetos que o Papo de Cinema conversou com o realizador, num bate-papo inédito e exclusivo. Confira!
Como surgiu a ideia para o filme Porto dos Mortos?
Surgiu como resposta a alguns roteiros “fofos” que vinha escrevendo. Eram, em sua grande maioria, românticos, sem recortes de violência e com muito senso de humor. Queria fazer algo oposto ao que escrevia naquele momento e num “estalo” saí das comédias de situação e dramas de relacionamento. Foi quando surgiu Porto dos Mortos, em sua primeira versão. Creio que isso foi em 2003. Após, escrevi diversas versões diferentes, algumas muito bem humoradas, outras com recorte mais clássico, até chegar ao roteiro final, que tinha uma narrativa tradicional que foi se transformando durante o processo de realização. Quando vejo que uma década se passou entre a concepção e a realização final do filme, tenho um certo medo do tempo.
Quais foram as maiores dificuldades para a realização de uma produção desse gênero no sul do Brasil?
Creio que existe uma limitação autoimposta em relação aos gêneros cinematográficos aqui no Sul. Sai-se do pressuposto que existem alguns filmes mais impossíveis que outros de realizar. Não sei se essas dificuldades para realizar qualquer tipo de filme são de fato reais. Na sua concepção, toda obra audiovisual é impossível. Seja um diálogo em plano-sequência fixo com dois atores, ou uma trama épica. E realiza-los é uma reação a isso. Não se devia fazer filmes, porque eles brigam com o real para existirem.
Como os fãs e o público em geral tem recebido Porto dos Mortos?
Pergunta difícil. E uma pergunta que tem tão pouco a ver comigo, sabe? Não sou exatamente um cara popular e com uma necessidade de ser querido. E isso às vezes passa por arrogância. Gosto da humanidade em geral, consigo ver a beleza até nas pessoas de alma feia, por isso tem sido interessante ver as diferentes gamas de reação. No geral, tem sido bem positivo. O público aparenta curiosidade, entusiasmo, e creio que ainda não ouvi qualquer opinião parecida sobre o filme. Sempre descubro coisas novas, ideias que podem afinar meu olhar, nas conversas com o público, fãs e colegas que veem o filme. Creio que torna a experiência completa, assim como torna mais fácil a dissociação. No fim das contas, sou mais um cinéfilo a discutir aquele filme estranho.
Como você tem percebido o retorno internacional que Porto dos Mortos tem recebido em festivais e também junto à crítica especializada?
Algumas coisas realmente me empolgaram. Não por serem críticas positivas, mas porque li gente falando sobre o filme, preenchendo ele de ideias, criando textos, em alguns casos, que são obras de arte. É muito bom ver que o filme inspira as pessoas a conversarem sobre ele, a questionarem, a usarem a imaginação e criar.
Quais seus próximos projetos daqui pra frente?
No momento, trabalho para terminar um curta-metragem e um piloto de série. O curta-metragem é Tudo que Resta, uma ficção científica romântica que se passa no último instante da existência. O piloto é Jack Hammer e Os Demolidores, criação do Felipe Mônaco (que codirige), que trata de um grupo de velhos heróis de ação que, após anos de ostracismo, volta à ativa para novas aventuras. Depois disso quero partir para o novo longa-metragem. Vista para o Mar é o nome, e irá misturar uma bela dose de humor, ficção científica e romance.
(Entrevista feita em Porto Alegre em novembro de 2012)
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Este filme é muito ruim, inclusive tecnicamente.