Referendo é um documentário sobre a questão do desarmamento em nosso país, um tema polêmico que trata de assuntos muitos sensíveis. No dia 23 de outubro de 2005 o Brasil votou em uma eleição incomum. Não se tratava de eleger partidos ou representantes para cargos legislativos ou executivos. A questão era responder SIM ou NÃO a uma única pergunta: “o comércio de armas e munição deve ser proibido no Brasil?” A discussão, que teve início na época, perdura até hoje, pois diz respeito a cada um de nós. O diretor Jaime Lerner é o responsável por propor essa troca de ideias mais uma vez, agora na tela de cinema e com revelações surpreendentes numa estrutura de grande debate. Lerner já dirigiu os longas Harmonia (2000) e Porto Alegre, Meu Canto no Mundo (2007), este co-dirigido por Cícero Aragon. E o realizador, nascido em São Paulo e que, após passar anos vivendo em Israel, escolheu Porto Alegre como sua casa, já tem um novo projeto em mente: Dyonélio, um docudrama sobre o escritor Dyonélio Machado com previsão de lançamento em 2013. Neste conversa inédita e exclusiva para o Papo de Cinema, Jaime Lerner falou sobre seu novo trabalho e sobre as motivações que o levaram a realizá-lo.
Jaime, o que lhe motivou a escrever e dirigir Referendo?
A virada. Assim como alguns personagens do filme, eu não podia entender o que realmente ocasionou a virada. Como o brasileiro abriu recuou na busca por uma maior pacificação, desarmamento físico e dos espíritos. Fazer o filme foi uma tentativa minha de lidar com essas questões.
Qual foi a maior dificuldade encontrada durante a produção?
Foram várias. Filmar dentro da prisão, criando um ambiente para que os presidiários pudessem falar com liberdade. Ter a participação de alguém da indústria das armas. Filmar com mente aberta para não tentar impor minhas teses ao filme e sim investigar de verdade.
Quanto tempo ocupou a pré-produção, entre pesquisas, entrevistas e busca de imagens? E durante as filmagens?
Foi um trabalho que demandou muita pesquisa, atenção aos detalhes e verificação de fatos e opiniões. Ao todo, levou em torno de 3 meses para podermos, finalmente, começar. Depois foram mais 14 dias de captação de imagens, que nos renderam uma material bruto de mais de 13 horas. Tudo isso precisou ser analisado com bastante calma durante a edição, até chegarmos ao formato de 90 minutos.
Como foi feita a seleção de depoimentos?
Eles foram feitos após a pesquisa que realizamos durante a pré-produção, tendo como guia um roteiro prévio e os eixos sobre quais trafegavam os personagens.
A votação do referendo do desarmamento foi em 2005, porém hoje, 7 anos depois, esse tema continua mais atual do que nunca. O que você espera que o documentário Referendo possa acrescentar a esse debate?
Acho que na época do referendo se perdeu a oportunidade de fazer uma reflexão, um debate profundo sobre a violência no Brasil. Espero que o filme contribua neste sentido.
O filme Referendo é bastante equilibrado em mostrar os dois lados da questão do desarmamento no Brasil. Essa era a sua intenção? Enquanto realizador, é possível assumir uma posição a favor de um lado e contra o outro ou acredita que, num caso tão polêmico quanto esse, o melhor seja a imparcialidade?
Não vejo o filme como imparcial no sentido de ficar em cima do muro. Creio que a opinião do autor está clara. O que me preocupa, no entanto, é expor as ideias, os fatos, os personagens e os elementos sem manipulá-los a favor de uma opinião, ou sem sacanear quem tem uma opinião que não me agrade. Além disso, o filme não é veículo de tese ou de imposição da minha opinião. Respeito demais as pessoas e quero com o filme sensibilizar, tocar, levantar questionamentos. Fazer isso sem mostrar os vários lados da questão seria fazer um panfleto, e não cinema.
Qual a sua expectativa em relação ao lançamento comercial de Referendo e o que espera como retorno do público que for conferir o longa nas salas de cinema?
Espero que o filme faça um bom público, dentro das possibilidades de um documentário sobre um assunto sério. Alguém que viu o trailer de captação um dia me disse que ele poderia ser o Tropa de Elite (2007) dos documentários, no sentido que tocava em assuntos a quais todos os brasileiros são sensíveis e que tratava estes assuntos de maneira contundente. Minha expectativa é que tenha a oportunidade de se mostrar ao público e que o público responda ao que o filme pretende provocar.
(Entrevista feita ao vivo com o realizador em agosto de 2012)
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