Depois de indicação ao Oscar e de várias premiações internacionais, o documentário O Sal da Terra poderá ser visto pelas plateias brasileiras. A estreia está marcada para dia 26 de março, mas o filme abriu a Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental, evento que acontece em São Paulo até o dia 29 de março.
“É um filme feito com dinheiro francês e brasileiro, e para a gente é importante lançar no Brasil, principalmente pelas questões ambientais”, disse o diretor Juliano Ribeiro Salgado durante coletiva de imprensa. “O filme tenta passar a ideia de que todos podem fazer pequenas diferenças para mudar muitas coisas.”
Juliano é filho do fotógrafo Sebastião Salgado, protagonista de O Sal da Terra. “Esse filme serviu para a gente se reaproximar”, confessa o documentarista. “Quando começamos, a gente tinha uma relação mais distante, só conversávamos sobre futebol e amenidades.”
O longa é codirigido por Wim Wenders, fã confesso do fotógrafo. “O papel do Wim no início era fazer as entrevistas que eu não podia fazer por não ser uma pessoa neutra”, explica Juliano. “Wim Wenders se deu conta de que o Sebastião é um fantástico contador de histórias.”
Por essa razão, os contos em torno das fotos de Salgado formam o núcleo do documentário. “Um filme sobre o Sebastião seria sobre a experiência dele”, disse Juliano. “Todo mundo pode ver as fotos e comprar os livros, mas as histórias são fantásticas.”
“Esse filme não é um making of”, relata o cineasta. “A gente não fez um filme sobre um fotógrafo, mas sobre uma testemunha. (…) O trabalho dele é de mediação entre os acontecimentos históricos e o público. É um papel muito político.”
O Sal da Terra foge das polêmicas acerca da ética do trabalho de Sebastião, acusado de “estetizar a miséria”, mas o assunto não ficou de fora da coletiva de imprensa. “Quando você pensa na questão, é se essas coisas são fotografáveis, mas acho importante trazer essas informações para fora”, opina Ribeiro. “A grande qualidade dele não é o preto e branco, o quadro; mas a relação que ele cria com as pessoas. O verdadeiro problema é que é muito difícil se proteger dessas fotos – é forte demais.”
Sebastião continua atuante em sua vertente social, mas com projetos menos desgastantes do que as longas viagens que fez à diversas localidades isoladas ao redor do mundo. “Hoje em dia ele não faz mais projetos de vários anos”, disse Juliano. “Ele está concentrado em projetos de curto prato, trabalhando com povos indígenas na questão da demarcação de terras. É uma mistura de Gênesis com o que ele fazia antes.”
(Entrevista feita ao vivo em São Paulo em março de 2015)