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Carolina Dieckmann é uma das maiores estrelas da televisão brasileira. Nome frequente em novelas e programas especiais, começou a chamar a atenção do grande público na minissérie Sex Appeal (1993), ao lado de nomes como Camila Pitanga e Luana Piovani. Depois veio uma participação em Malhação (1995-1997) e em folhetins de sucesso, como Laços de Família (2000) e Senhora do Destino (2004). O cinema no entanto, entrou tarde em sua agenda. Só em 2008, quando participou de dois projetos bem diferentes: a comédia Sexo com Amor? e o autoral Onde Andará Dulce Veiga?, este baseado na obra de Caio Fernando Abreu. De lá pra cá foram poucos outros filmes, com destaque para o drama Entre Nós (2013), em que apareceu ao lado de outros nomes de peso da sua geração, como Caio Blat, Julio Andrade e Paulo Vilhena. Mas ela agora está de volta, e com dois novos trabalhos. Está chegando nesta semana aos cinemas o intenso O Silêncio do Céu, recém premiado no Festival de Gramado, e nos próximos meses deve ser a vez de Aurora, de José Eduardo Belmonte. Sobre esses dois mais recentes trabalhos a atriz conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!

 

Carol, falando com o Marco Dutra, diretor de O Silêncio do Céu, ele comentou que quando surgiu a ideia de te ter no elenco deste filme, você foi bastante exigente em querer conhecê-lo, entender o projeto… como se dá o seu processo de escolha de cada trabalho?
Assim como qualquer um dos meus colegas, acredito que o primeiro passo é o roteiro ser bom. Isso é o que importa no começo, o que chama ou não a minha atenção de imediato. Mas tudo é importante. Preciso saber de que maneira as coisas irão acontecer, quais são as pessoas que estarão envolvidas, por exemplo. Uma série de coisas que procuro tomar conhecimento e que vão me ajudar a ficar mais animada ou não. Neste caso, o que me deixou muito excitada, desde o primeiro encontro, foi a história em si. A questão que já estava na sinopse e me deixou intrigada. Ali estava uma mulher que era estuprada por dois homens e que não reage, não dá sinais do quanto isso a marcou. Desde o primeiro momento em que ele, o Marco, me explicou a história que queria contar, fiquei muito seduzida pelo projeto. Mexeu comigo tentar descobrir em mim que tipo de mulher tem uma reação como essa, sabe? Ao mesmo tempo em que não tá nada explícito nos diálogos, vão ser os pequenos gestos e atitudes dela que começarão a mudar. E pensei que seria interessante investigar esse outro lado de uma personalidade que me pareceu muito interessante desde o começo.

 

E o que mais lhe atraiu em O Silêncio do Céu?
A Diana, na verdade, o tempo todo se mostra muito dúbia. Você não consegue saber o que ela está pensando logo de cara. É preciso observá-la com cuidado, se aproximar aos poucos e reparar em cada movimento dela. Mesmo ao ler o roteiro, o que procurei sublinhar na minha interpretação era esse modo dela, quase como num suspense. E nunca estar numa coisa só, sem ser óbvia. Tem sempre duas ou mais camadas no que ela faz, no que ela diz. Isso foi importante para mim, agir de forma que mantivesse esse mistério que já existia no roteiro. A Diana é uma personagem muito escorregadia, e foi isso o que mais me motivou.

Leonardo Sbaraglia, Carolina Dieckmann e Chino Darin - Foto: Anderson Borde
Leonardo Sbaraglia, Carolina Dieckmann e Chino Darin – Foto: Anderson Borde

Você conhecia o Leonardo Sbaraglia? Como foi trabalhar com ele?
Já o tinha visto em Relatos Selvagens (2014), que é um filme fantástico, um dos meus preferidos. Então já tinha uma ideia muito boa sobre ele. Encontrei o Leo em um momento extremamente especial da vida dele, após aquele filme incrível, um dos melhores que já vi. Ele estava muito feliz diante da carreira dele, e foi extremamente generoso comigo. Demonstrou um interesse e uma disponibilidade no nosso encontro fantásticos, além de ter me ajudado muito com a questão da língua. Foi a primeira vez, afinal, em que interpretei em espanhol. Acredito que conseguimos criar uma sensação de total intimidade entre nós, o que era importante para o filme, e foi fundamental ter colaborado com a parceria dele, que sempre se mostrou muito preocupado e prestativo comigo, colaborando principalmente nessa questão. Ter atuado ao lado dele foi uma experiência muito proveitosa pra mim, que nunca esquecerei. Ter estado com ele durante esse processo, e de forma tão generosa. Foi um colega maravilhoso, um dos melhores.

 

Esse é o seu primeiro projeto internacional, ao menos falado em outra língua e filmado em outro país, no cinema. O que essa novidade lhe representou em termos de desafio?
Tudo é sempre muito diferente. Cada novo trabalho, seja uma novela, um filme ou uma peça de teatro, representa um desafio novo que precisa ser descoberto. Quando fui filmar o Entre Nós, por exemplo, também fiquei muito tempo longe de casa, pois as filmagens foram no interior. Ou seja, não era em outro país, a sensação de ausência, de saudade de casa, estava presente. Sem dúvida alguma, a questão da língua foi a mais estranha nesse trabalho atual, mas tentei tirar o maior proveito possível disso, fazer que essas dificuldades se transformassem em prazeres, para que pudesse aproveitar o momento. E acho que funcionou.

 

A Diana é uma personagem que trabalha muito com os silêncios, sempre quieta, quase taciturna. Na televisão e no teatro, no entanto, é preciso ser mais expansivo. Foi preciso um preparo diferenciado para esse papel?
Tive apenas um mês de trabalho de mesa, de leitura do texto, contando com uma professora de espanhol que me orientou nas questões mais urgentes da língua. Não tivemos muito tempo antes para que fosse possível agir em espanhol e com a maior intimidade possível entre os personagens. Foi quase que de momento, por isso contou muito que esse encontro meu com o Leo funcionasse. Depois da leitura, fui para Montevidéu, no Uruguai, quando tivemos três ou quatro diárias que serviram muito mais para eu e o Leo criássemos uma intimidade. Era isso que o Marco queria, essa oportunidade de nós dois juntos para que ele expusesse o que queria com o filme. Não tivemos ensaios, pois a preparação antes das filmagens foi muito intensa, o que já serviu para nos colocar em sintonia com os personagens. O Marco também já tinha muitas certezas antes das filmagens, havia feito vários storyboards, suas orientações eram muito concisas, bem direto no que estava buscando, e isso ajudou muito no processo como um todo.

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Gosto muito de Onde Andará Dulce Veiga? e também do Entre Nós, cujo montador, o Lucas Gonzaga, foi meu colega de faculdade e é até hoje um grande amigo. Há alguma lembrança especial destas experiências?
Bem, acho que não tem muito mais coisa na minha ‘grande’ carreira cinematográfica (risos), né? Gosto muito desses filmes que você citou, assim como com O Silêncio do Céu. Tive sorte nesses três projetos, mas foram os que consegui fazer, pois às vezes é difícil conseguir conciliar. Eu tive sorte de ter recebido esses convites em momentos em que podia dizer sim, entende? No Entre Nós, por exemplo, destacaria essa coisa do filme de turma, com pessoas de uma mesma geração, criar uma unidade que foi possível ser canalizada em uma só energia. O mais especial foi isso, pois ali se criou uma turma de amigos que dura até hoje. Não é sobre um cara que rouba o livro do outro, é muito mais do que isso. Tem um carinho muito especial, de quem se identifica com o drama que estamos vivendo em cena. Já o Dulce Veiga foi outra pegada, pois eu era muito jovem. Lembro que quando fui convidada, a primeira coisa que fui atrás foi entender quem era o Guilherme de Almeida Prado, pois era realmente muito crua. O fato de ter aceito dizia muito da oportunidade de participar de um projeto diferente, de universo estético com o qual não estava acostumada. Já existia em mim um desejo de fazer coisas diferentes, aprender com essas experiências. Portanto, se pudesse citar uma coisa, seria essa entrega ao desconhecido, ao novo, sem preconceito.

 

Há pouco conversei com o Humberto Carrão, após a exibição do Aquarius (2016), e ele me comentou sobre o Aurora, o filme que vocês fizeram juntos e que ainda não estreou. O que pode nos adiantar sobre esse projeto?
Eu também estou super curiosa! (risos) Sei lá o que vai virar esse filme, foi uma experiência muito diferente de qualquer coisa que já fiz, não só no cinema, mas também em toda a minha carreira. O Belmonte, o diretor, tem um processo de criar intimidade imediata. É tudo muito orgânico. E também tinha a coisa do gênero, terror é uma linguagem muito pouco visitada pelo cinema brasileiro, e me estimulou fazer parte de algo assim.

 

Bom, O Silêncio do Céu está entrando agora em cartaz, após ter sido premiado no Festival de Gramado. Como está sua expectativa?
Tou na torcida, né? Tomara que seja bastante visto, chegue até as pessoas, pois no final é isso que importa. Esse foi um filme que fizemos com muito carinho, no qual tive muita entrega, e pelo qual tenho muito orgulho de ter feito parte. O que aconteceu em Gramado foi incrível, recebemos o Troféu Especial do Júri e fomos escolhidos como o Melhor Filme pelo Júri da Crítica, o que é uma responsabilidade incrível. Estou muito feliz, acho que não poderia ter sido melhor. E espero que o espectador perceba isso através da história que estamos contando.

(Entrevista feita por telefone em 13 de setembro de 2016)

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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