Após uma bem sucedida passagem pelos cinemas, Os Estagiários (2013) está sendo lançado agora no Brasil em DVD e Blu-Ray. Aproveitando a ocasião, o Papo de Cinema publica com exclusividade no Brasil um bate-papo inédito com os atores Vince Vaughn (também co-roteirista) e Owen Wilson, ambos protagonistas dessa história sobre dois quarentões desempregados que decidem recomeçar suas carreiras profissionais num ambiente completamente inusitado: o Google! Em home vídeo o filme apresenta material inédito, como reveladores comentários em áudio do diretor Shawn Levy e o especial Uma Segunda-Feira Qualquer, um making of de quase 20 minutos sobre os bastidores da produção. A edição em Blu-Ray apresenta ainda conteúdos exclusivos, como cenas excluídas e trailer. Confira abaixo o que os astros tem a dizer sobre essa comédia que arrecadou quase US$ 100 milhões nas bilheterias de todo o mundo!
Por que vocês decidiram fazer um filme sobre o Google?
Vince Vaughn: Bom, o filme não é sobre o Google. Primeiro comecei uma pesquisa, e seja lá como acabamos chegando lá – o que foi ótimo. Senti que a economia estava muito assustadora e difícil. Muitos amigos meus, escritores, jornalistas ou pessoas que trabalham com vendas me passaram essa sensação. Não é apenas que estivessem perdendo seus empregos, mas que o tipo de trabalho que estavam fazendo, a procura por eles estava sumindo, o que tornou tudo mais intimidante. Olhamos para os mais jovens e há um medo real do mercado de trabalho. Não há um otimismo como costumava ter, de empolgação sobre o que se fazer. E o filme tem sido tão bem recepido pelo público porque é engraçado. Mas é, na verdade, um filme sobre o nosso tempo. É sobre quando você sente que a vida te colocou em um lugar, e está tentando seguir sonhando, achar algo. Acho que tem algo de vencedor sobre esses dois caras que estão dispostos a começar de novo na linha inicial de uma indústria que não é familiar para eles. Querem ter algum significado na vida ou se sentir empolgados com alguma coisa. Então estão dispostos a começar do início. Havia um tipo de pressa e seriedade naquela entrevista. Mas acho que o que realmente ajuda o público a acreditar é quando nós dissemos que estivemos no liquidificador e aqui estamos. Há algo de ganhador nisso.
Owen Wilson: Bom, comigo tudo começou com o convite do Vince. Nós nos divertimos muito trabalhando juntos em Penetras Bons de Bico (2005), e quando ele teve essa ideia, pareceu uma boa chance de trabalharmos juntos novamente.
Atores se preocuparam em não se repetirem e não copiar uns aos outros…
VV: Eu não sou tão familiar. Não sei se alguém tinha ideias de usar isso. Acho que não teria problema. Mas me deixaria temeroso. Não sei o que aconteceria se alguém tivesse algo interessante para fazer e houvesse uma demanda para isso. Acho que as pessoas veriam. Mas que sempre haverá uma causa para novas histórias.
OW: Há um interesse natural pelo Google. E parte disso é por causa da maneira que ele entrou na consciência das pessoas e hoje faz parte do nosso vocabulário. É, literalmente, um verbo. Sempre chama atenção algo que é um grande sucesso. Há histórias feitas sobre a empresa, porque as pessoas ficam curiosas sobre como se faz esse trabalho. E, mesmo tendo feito o filme lá, ainda não sei responder a essa pergunta (risos).
Que tipo de concessão tiveram que fazer para o filme?
VV: Na verdade, não muitas. Foi interessante, porque o Google é um mecanismo de busca que é tudo. Não é como se eles vendessem produtos. Primeiro olhei em volta e me perguntei qual indústria está prosperando hoje em dia. É a indústria tecnológica. O Google, obviamente, vai muito bem. Não é apenas que estivesse crescendo economicamente, mas as pessoas adoram seus trabalhos. Eles inventam coisas, são criativos. Sentiam que estavam fazendo o mundo melhor. E esse é o nosso ponto de vista. Quantas vezes ouvimos da maneira mais simples que uma criança de 22 anos inventou um aplicativo e ganhou uma fortuna? Parecia tão estranho em relação ao que um herói do dia-a-dia é. E tem o lance do campus, querem um ambiente onde as pessoas possam se divertir, o que é completamente oposto à mentalidade na qual cresci. Ninguém se importava se você estava feliz. Parecia um contraste legal em relação ao que esses caras são. Gostei também de poder trabalhar com essas pessoas mais jovens. Nós vemos eles de um jeito e vice-versa. Você percebe que eles têm medos. Estão nervosos sobre entrar no mercado de trabalho. E é mais sobre o ser humano quando a vida te coloca em uma posição que é difícil de tentar.
Isso pode lembrar alguns dos seus filmes anteriores…
VV: Com certeza! Poderia ser um término em Swingers: Curtindo a Noite (1996), de uma maneira parecida, já que a namorada deixa ele. Quem sou eu no mundo dos namoros? Então ele tem que sair e tentar de novo. É o que está acontecendo com a economia agora. Essas são as indústrias que estão crescendo, que são muito diferentes do que a gente viu. O Google é apenas o pano de fundo. O filme realmente não é sobre o Google. Essa é a indústria na qual eles estão recomeçando. Se esse fosse um filme sobre uma linha de roupas que estivesse estourando na indústria da moda, não sei se você estaria necessariamente tentando vender uma marca em particular, mas tentando entrar num mundo que está sendo bem sucedido. E as pessoas que não sabem aquela linguagem e têm que começar de novo e tentar achar um caminho para entrar nela.
OW: Não sei se Os Estagiários tem muito a ver com como seria a real experiência de trabalhar no Google. O Google é o pano de fundo para contar a história que o Vince criou, que é uma comédia, claro, mas que também é um pouco sobre ter outra chance para fazer sua vida ter algum sentido.
O pessoal do Google pediu para ler o roteiro antes de qualquer aprovação?
VV: Sabe, eles foram ótimos. Fomos sozinhos até eles, eu e o Owen. Não tinha mais ninguém. Sandra Smith, que trabalha comigo, costumava trabalhar nessa indústria, então me preparou mais ou menos sobre como seria o encontro. E eles foram muito legais. Acho que muitas pessoas devem ligar para eles. Eu só disse que achava que era uma boa ideia usá-los como pano de fundo e ter vendedores que acham que se você não pode vencê-los, junte-se a eles. É aí que tudo aconteceu. Eles viriam com um conjunto diferente de habilidades e tentariam conseguir um emprego. Então foi menos específico, foi apenas o pano de fundo. Esse era o lugar para brincar.
OW: Foi nessa primeira visita que eles nos apresentaram ao Chang. E o trabalho dele é apenas estar lá como um guru espiritual para o Google. Peguei seu cartão e mantivemos contato por um tempo. E eu apenas gostava da sua energia, é tão positiva.
Quanto tempo vocês ficam online por dia?
OW: Eu diria que menos de uma hora.
E o que costuma olhar na Internet?
OW: O site da ESPN é algo que normalmente vejo antes de ir para a cama, sempre que não assisto a televisão. Sempre pensei “uau, a internet é interminável”, afinal é infinito o que você pode ver. Mas daí entro nela e fico meio paralisado.
VV: Uma das coisas que achei interessante foi o Club Med ou os resorts com tudo incluso, como o Sandals, porque tem muitas coisas para fazer. Você tem que conseguir fazer seu trabalho também. Existe algo que as pessoas estão fazendo e que é pioneiro e que parece ter muito sucesso em volta e muita curiosidade. Então, como todo mundo, eu acho que fiquei interessando em ir até o Google e ver o que acontecia. E fiquei surpreso com tudo.
Qual foi a última coisa que você procurou no Google?
OW: Procurei a batalha mais sangrenta da Guerra Civil na noite passada. Foi meio macabro.
VV: A última coisa que procurei foi, provavelmente, algum placar de esporte. Os meus Blackhawks estão no jogo 1 contra o Kings hoje. Então, estou perdendo esse jogo.
O senso de humor de vocês está evoluindo?
VV: Não saberia dizer. Quer dizer, acho que Swingers: Curtindo a Noite (1996) é muito bem estruturado. E Pura Adrenalina (1996) tinha seu próprio jeito. Acho que isso é o que Owen e eu temos em comum. Nenhum de nós é realmente um comediante, desesperado por risadas. Somos ligados mais à escola de atores de personagem. Acho que cada coisa tem seu tom e seu propósito. Você acha sua própria maneira de se divertir com isso. Então se tornou uma colaboração mútua entre nós. E o Owen é um ótimo roteirista. Algumas das coisas mais engraçadas do filme são coisas que ele criou. E a maior coisa, para mim, foi localizar aquele tema que não é específico para nós, mas é sobre o nosso tempo. É, na verdade, sobre o que está acontecendo agora.
OW: Não diria que o Google nos deixou intimidados, mas sim ‘estimulados’. Mas não sou um bom estudante de matemática ou ciências. Provavelmente me sairia melhor em inteligência emocional. Se você vai bem nesse departamento, normalmente consegue se dar bem com alguém que tem muito mais cérebro para matemática ou ciências.
Inteligência emocional?
OW: Sim, diria que é o meu ponto forte.
Como você se mede em inteligência normal?
OW: Eu não sei, teria que conferir no Google.
É difícil fazer algo novo em Hollywood?
VV: É quase como se viessem até nós somente nos oferecendo sequências. E existem muitas sequências e franquias. Os estúdios querem fazer algo só se há chance de uma sequência. E é legal ter algo que é original sendo lançado e que é sobre algo.
O que vocês sabiam previamente sobre esse tema?
VV: Bem, era importante ter o Google no centro da história, porque de um ponto temático, é como a fantástica fábrica de chocolates ou o Mágico de Oz. É um lugar que parece mítico. E é uma linguagem que você não fala, uma oportunidade. Então, para mim, realmente era como se você deixasse um mundo comum com John Goodman em vendas e baseball, que é coisa de cidade pequena e familiar, e fosse para a Califórnia, o que, na América do Norte, sempre é simbólico da Corrida pelo Ouro ou de oportunidades, apesar de que não seja mais tanto. Mas sempre pareceu dessa maneira. Então era muito importante tematicamente. Corrida pelo Ouro, Califórnia, Vale do Silício, oportunidades.
OW: O que aprendi com esse filme foi que gosto de estar no norte da Califórnia. Acho que gostaria de viver em São Francisco.
Por que você gosta de São Francisco?
OW: Porque é uma cidade real, de uma maneira que Los Angeles não é. Mas não é como Nova Iorque. Anda é Califórnia. E tem ótimos restaurantes, pessoas educadas e interessantes.
Foi também uma oportunidade de reinvenção?
VV: Claro, reinvenção, a habilidade de começar de novo, de dizer “ok, bem, acho que talvez não conheça essa área. Mas talvez se começar do início… Estou disposto a tentar”. Acho que é algo que se vê muito em imigrantes chegando em um país novo, e muitas vezes são formados em alguma coisa, são bem educados, e mesmo assim precisam fazer outras coisas porque é onde a oportunidade está. Acho que isso é um triunfo, no fim das contas, como pessoa. É o que o personagem do Owen diz para o Dylan. No fim das contas, o que importa é alguém que realmente quer ser sério e responsável, ao contrário de agir como se tivesse tudo solucionado.
Foi difícil convencer o Will Ferrell a participar do filme?
VV: Não, o gatão ficou feliz em participar. Meu próximo filme é com o Will. Vamos fazer um filme juntos em agosto chamado Daddy’s Home.
Duas palavras sobre esse novo filme?
VV: Duas palavras: “muito engraçado”. O Will interpreta um cara que conhece uma garota. Ela tem dois filhos e ele trabalha para a estação de rádio de rock The Wave. É um cara muito responsável. Eles estão felizes, casados, e então o ex-marido aparece, o que é um problema. E esse sou eu. Eu sou o ex-marido.
E você, Owen, pode nos falar um pouco sobre seu novo filme com Wes Anderson?
OW: É com o Ralph Fiennes no papel principal. É um ótimo elenco, que conta ainda com Willem Dafoe, Edward Norton, Adrien Brody, Jason Schwartzman, Jeff Goldbum, muita gente. É um roteiro ótimo sobre um porteiro dos anos 30, durante uma guerra. Mas é uma guerra inventada, não é a Segunda Guerra Mundial.
Lealdade parece ser muito importante com você e com quem trabalha. O que nesses artistas em particular atrai esse tipo de relação?
OW: Acho que é sobre trabalhar com pessoas com quem você se sente confortável ou que você admira o trabalho. Na verdade, semana que vem começo um filme do Paul Thomas Anderson. Ele fez filmes que são interessantes, bons. Amo aquele que ele fez com o Adam Sandler, Embriagado de Amor (2002).
Foi o mesmo que aconteceu com o Vince Vaughn? Quero dizer, obviamente Penetras Bons de Bico foi um empreedimento completamente diferente, mas essa reunião em Os Estagiários foi como jogar bola com o cara alto de novo?
OW: Sim, nós nos divertimos, e foi muito confortável. Muito fácil.
Vocês já foram estagiários?
VV: Eu nunca fui. Tive empregos diferentes, mas nunca fui estagiário. Gosto do jeito que fazem no Google, porque as pessoas podem realmente participar e fazer parte do trabalho. Não é como em Hollywood, que têm estagiários às vezes. E só os usam para fazer atividades burocráticas. E eles fazem pelo privilégio de ter a chance de estar perto de coisas. Aqui os estagiários são pagos, o que acho ótimo. Mas também participam e começam a trabalhar nas tarefas reais.
Vocês consideraram a possibilidade de utilizarem uma empresa falsa no filme?
VV: Eu não queria isso. É melhor para os propósitos que queríamos abordar que fosse um lugar real. O ponto de vista do filme realmente era, tematicamente, ir para um lugar que parecesse interessante. Como é esse lugar, a fábrica de chocolates pegando as pessoas do mundo comum e levando-as para o mundo extraordinário, pessoas com quem você pode se identificar, e percorrer com a Dorothy e ir através de Oz, ou o menino que te leva pela fábrica de chocolates. E também ver pessoas dando os primeiros passos, mesmo que sejam mais velhas e tenham que começar e ganhar seu espaço, isso realmente se tornou o motor do filme.
O que é engraçado para vocês? O que os fazem rir?
OW: O que me faz rir? Vou te dizer o que realmente é uma das coisas que mais me fez rir, é o Ricky Gervais no programa Life’s Too Short. A esquete em que o Liam Neeson entra e diz que ele estrear na comédia e faz mais tombos e imitações. Se você procurar no Google ou no YouTube, é muito engraçado. O Will Ferrell sempre me faz rir. O Zero Mostel, no filme Primavera para Hitler (1967), é muito engraçado.
Vejo que, para você, há sempre uma parceria importante. Seus filmes cresceram com você, e é importante para comediantes sobreviverem a isso. Porque alguns não conseguem?
OW: Sim. Bem, sou sortudo de trabalhar consistentemente desde que fiz Pura Adrenalina (1996). Então, não houve um super plano ou um cálculo sobre o que fazer. Foi apenas seguir o que me interessava ou o que tive a sorte de ser oferecido ou apenas minha sensibilidade.
Vince, você quer escrever mais?
VV: Sim, sempre escrevi de tempos em tempos. Separados pelo Casamento (2006) foi ideia minha e o escrevi. Se algo me inspira e acho que é interessante, então gosto de fazer. E as vezes é legal, como em De Repente Pai (2013), que fiz com o Ken Scott. Ele é um cineasta muito talentoso. Às vezes é legal apenas ir e ser ator e fazer isso. É divertido tentar seguir coisas nas quais você está interessado.
Você comprou os direitos de Risk Agent?
VV: Risk Agent não era para mim. Minha produtora fez isso. Mas já me ofereceram muitos filmes de ação, e não fiz nenhum deles. Mas faria um, não sei porque não aconteceu até hoje. Tenho um projeto que tem um pouco de ação e que farei ano nos próximos meses. Mas o que importa sempre é a história, é preciso achar algo interessante para fazer ou uma maneira de fazer. Mas esse foi divertido de trabalhar porque realmente gostei do otimismo e do espírito geral da história. São as coisas pequenas, para mim, que fizeram esse filme muito divertido de trabalhar.
Tiveram que fazer algum tipo de preparação especial para Os Estagiários?
OW: Não fiz nenhuma real preparação além de ler e reler o roteiro, ensaiar algumas cenas e ver se tínhamos ideias para melhorar algumas coisas.
Gostaram de trabalhar com esses atores tão mais jovens?
OW: Gostei, claro. Eles são de uma geração diferente, e alguém que é 20 anos mais novo que você tem referências culturais muito diferentes.
VV: É sempre contagiante estar perto de atores mais novos, porque são muito entusiasmados. São empolgados apenas por estarem ali. Há algo de muito infantil no que fazemos nessa indústria, e que é divertido. É legal estar perto de pessoas mais jovens que são muito ligadas nisso, que são empolgadas em vir trabalhar. E é sempre bom estar perto desse entusiasmo, com certeza.
Como você descreveria o Owen como ator e colega?
VV: O Owen é um ótimo ator. Ele realmente é e o acho muito real. E isso pode ser enganoso porque ele é muito natural. É um cara muito talentoso. E também é vulnerável. Ele é muito pé-no-chão, e ao mesmo tempo engraçado e esperto. Mas, acima de tudo, extremamente autêntico.
Owen, li que você gostou de ser o Hansel em Zoolander (2001), com o Ben Stiller.
OW: Foi muito divertido. Só não gostei de toda aquela coisa de caminhar, porque não sou uma pessoa que é confortável dançando na vida real. Você nunca vai ver eu me soltar na pista de dança. Então aquilo foi um pouco estressante, ter que fazer aquilo, lembro do Ben indo até o meu trailer e dizendo “vamos lá, você tem que fazer isso”. Porque eu estava muito chateado de ter que fazer aquilo.
Isso é clássico.
OW: Sim, funcionou, me comprometi, só tive que esquecer meu orgulho (risos).
Desde criança você sabia que queria ser ator ou pensava em fazer algo diferente?
OW: Sim, sempre quis ser ator. Eu gosto de atuar. Mas seria divertido fazer papéis diferentes e tentar coisas diferentes.
Você trabalharia no Google?
OW: Sim, eu trabalharia no Google.
(Entrevista traduzida por Pedro Henrique Antunes e com edição e adaptação de Robledo Milani)