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Nascido em 1964 em Brasília, Distrito Federal, Breno Silveira começou sua carreira no cinema como diretor de fotografia de filmes que marcaram o início da retomada do cinema nacional, como Carlota Joaquina: A Princesa do Brasil (1995), de Carla Camurati. Logo se associou à Conspiração Filmes, emprestando seu talento para filmes da produtora, como Eu Tu Eles (2000), de Andrucha Waddington, Bufo & Spallanzani (2001), de Flavio Tambellini, e O Homem do Ano (2003), de José Henrique Fonseca, entre outros. Mas se focar apenas na imagem não foi suficiente por muito tempo, e daí veio a vontade de se aventurar também como realizador. Seu primeiro trabalho na tela grande, após alguns documentários para a televisão, foi o extremamente bem sucedido 2 Filhos de Francisco (2005), que levou mais de 5 milhões de espectadores às salas de cinema, se tornando um dos maiores campeões de bilheteria do cinema brasileiro nos últimos 20 anos. E após dois longas de inspiração totalmente ficcional, Silveira está de volta ao universo das cinebiografias com Gonzaga: De Pai pra Filho, produção elogiada pela crítica que tem tudo para ser recebida com entusiasmo também pelo público. E foi sobre esse novo filme e sobre sua relação com o espectador que o diretor conversou, com exclusividade, com o Papo de Cinema. Confira!

 

Vamos começar pelo principal. O que conta Gonzaga: De Pai pra Filho?
Desde 2 Filhos de Francisco (2005) eu procurava por uma cinebiografia que tivesse dois elementos que considero fundamental para se tornar um filme de sucesso: um drama familiar intenso e envolvente e que se tratassem de personagens relevantes dentro do cenário nacional. Quando chegaram até às minhas mãos essas fitas, que continham o registro de quase 15 horas de conversas entre o Luiz Gonzaga e o filho dele, o Gonzaguinha, percebi que tinha encontrado algo muito importante, que não poderia ser ignorado. Ali ficava evidente como eles se desconheciam, como eram estranhos um ao outro. Eles viveram brigados por 25, 30 anos, e somente ali finalmente faziam as pazes. Achei isso tudo muito emocionante, essa história de abandono e de reencontro. Ao mesmo tempo, era um tema universal, que tinha esse poder da comunicação. Aí nasceu Gonzaga: De Pai pra Filho, que é um filme grande, com um orçamento de respeito, lançamento nacional, uma aposta importante de todos os envolvidos. Tenho certeza de que o público irá rir muito com os erros e acertos do Gonzagão, ao mesmo tempo em que irá se emocionar com o drama do Gonzaguinha. É para se apaixonar.

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Com Júlio Andrade, no set de Gonzaga: De Pai pra Filho

Qual a sua principal motivação em contar essa história?
Com esse filme estarei apresentando um Gonzagão e um Gonzaguinha que ninguém conhece. Acho que isso é o mais importante, mostrar um outro lado dessas figuras tão populares, tão conhecidas, mas que ainda assim tinham um lado distante de tudo isso. A história particular deles, a primeira paixão do Gonzagão, o que foi feito desse filho quando criança, a vida turbulenta que eles levaram. Sou da opinião de que cinema é conflito, é preciso ter algo a ser solucionado e que prenda a atenção do espectador. Em 2 Filhos de Francisco tinha essa coisa nova, essa história maravilhosa do pai e como a figura dele foi fundamental para o sucesso dos filhos. São acertos e erros, sempre sem desistir de tentar. E com o Gonzaga a gente tem a mesma coisa, um olhar pelos bastidores dessas vidas. Além de que também poderemos entender melhor muitas das músicas que ambos cantaram, como quando o Gonzagão canta Asa Branca, a gente finalmente fica sabendo o que ele estava querendo dizer.

 

Breno, você é conhecido por ser um diretor muito emocional, seus filmes costumam levar o público às lágrimas. Essa é uma diretriz do seu trabalho ou mera coincidência?
A emoção é muito importante para mim. Eu procuro por esses conflitos, por esse sentimento que domina, que envolve. Acho que o importante é que o espectador saia transformado do cinema, e penso que os meus filmes fazem isso. Mas é importante também que se vá ao cinema, que se dê uma chance ao cinema nacional. Faço um cinema de qualidade, que é premiado, que recebe elogios da crítica, e mesmo assim encontramos muita resistência em alguns lugares, como no Sul do Brasil. O Rio Grande do Sul é um dos piores mercados para a produção cinematográfica brasileira. O meu filme anterior, À Beira do Caminho (2012), ganhou o Festival de Pernambuco (Cine PE), fizemos um lançamento bastante amplo, fui até Porto Alegre, fizemos coletivas, pré-estreia, pra criar o maior barulho a respeito possível. E mesmo assim o retorno de bilheteria foi péssimo, um dos piores de todo o país. A impressão que fica nos realizadores é que há um preconceito dos gaúchos quanto ao cinema brasileiro, como se fossem países diferentes. E é tudo Brasil! O Gonzagão provou isso, fez sucesso de norte a sul! Aposto muito no Gonzaga: De Pai pra Filho e torço para que esse filme encontre seu público não só no nordeste, mas também na região Sul. Ainda mais que temos como protagonista um ator gaúcho, o Júlio Andrade, que é fenomenal. Espero que tudo isso colabore.

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Neste ano nós falamos com dois atores dos seus filmes, João Miguel e Júlio Andrade, e ambos lhe elogiaram muito, dizendo que você é um diretor de atores. Como é ter essa preocupação e dosar com outras responsabilidades, como o roteiro e todas as questões técnicas de um filme?
O Júlio Andrade é um fenômeno. Na minha opinião, a melhor interpretação de todo o filme é a dele, simplesmente fenomenal. Os filhos do Gonzaguinha, quando viram o filme, não resistiram de tanto chorar. Para eles, era como se fosse o pai deles que estava em cena. O que o Julinho faz não é interpretação, é reencarnação. E me deixou muito feliz deparar com um talento como esse e oferecer uma oportunidade como o nosso filme. Eu vim da fotografia, fui Diretor de Fotografia de filmes importantes como Carlota Joaquina (1994), Eu Tu Eles (1998), O Homem do Ano (2002). E o mais bacana é que a maioria desses eram  os primeiros filmes destes diretores, então aprendi muito com os erros deles, e também com os acertos. Aprendi a construir na prática. E se antes o meu barato era a fotografia, agora são os atores, é a interpretação. Procuro criar o melhor ambiente possível para que estes artistas mostrem o melhor de si. É na atuação que está, hoje em dia, o meu maior encanto.

 

Gonzaga: De Pai pra Filho é o segundo filme que lança neste ano, após o belo À Beira do Caminho. Como manter uma produtividade em alta no cenário brasileiro de hoje?
Isso foi mera obra do acaso. Não quer dizer, de forma alguma, que fiz dois filmes ao mesmo tempo no último ano, e que por isso que estão sendo lançados quase que ao mesmo tempo. É quase que o contrário. O À Beira do Caminho foi filmado quatro anos atrás, e por problemas familiares – minha esposa morreu – precisei abandoná-lo. Não conseguia olhar para o filme, me via muito na pele do protagonista vivido pelo João Miguel, sentia as mesmas dores que ele. Era muito dolorido. E com o Gonzaga: De Pai pra Filho foi o contrário, o filme seria para o ano que vem, mas foi adiantado para coincidir com o centenário do Gonzagão. Cinema no Brasil ainda é uma atividade muito difícil, muito cara, muito complicada. Cada novo filme que fica pronto é um esforço incrível, então é preciso ser comemorado.

 

Seu primeiro trabalho foi o campeão de bilheteria 2 Filhos de Francisco, que até hoje é uma grande referência, não só para o seu trabalho mas também para o cinema nacional como um todo. É muita responsabilidade para os próximos projetos? Tens medo que o Gonzaga sofra com essa comparação?
Não sofro com esse tipo de relação. Depois do 2 Filhos de Francisco até tentei fugir um pouco dessa área das cinebiografias, mas acabei me entregando com o tempo (risos). Vi várias, nacionais e estrangeiras, e é muito difícil fazer uma que seja realmente boa. Então é nisso que estarei me esforçando. Os meus filmes ficcionais, que eram menores, mais intimistas, tiveram um retorno muito limitado de público. Penso que o espectador está buscando se conhecer, encontrar esse país e reverenciar nossos ídolos, nossos heróis. Gonzaga faz isso, mostra dois nomes muito fortes da nossa cultura, mas com um outro olhar, acrescentando e envolvendo. E é também um filme mais aberto, mais feliz, mais engraçado, mais alegre.

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Com Chambinho do Acordeon, intérprete de Luiz Gonzaga

Como espera que o público receba Gonzaga: De Pai pra Filho?
Nossa, de braços abertos, da mesma forma que o Rei do Baião recebia seu público. Nosso filme tem tudo para fazer sucesso, seja no sertão, na Amazônia, em São Paulo, no Rio de Janeiro ou no pampa gaúcho. É uma história universal, que emociona e comove. O 2 Filhos de Francisco foi um filme que abriu mal, o espectador estava receoso, mas aos poucos foi descobrindo o filme e espalhando a notícia. Esperamos que o Gonzaga tenha esse tempo, que seja beneficiado pelo boca a boca, pois temos certeza que quem for vê-lo irá recomendar aos amigos, aos vizinhos. Acho que é importante melhorar, se aperfeiçoar, e considero Gonzaga: De Pai pra Filho o meu melhor filme.

(Entrevista feita por telefone – Breno Silveira estava no Rio de Janeiro – no dia 22 de outubro de 2012)

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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