Nascido no dia 16 de novembro de 1938, em Marrocos, Igaal Niddam viveu em Israel de 1948 até 1959, até se mudar para a Suíça, onde reside até hoje. Construiu sua carreira basicamente na televisão europeia, mas poucos lembram, no entanto, que seu primeiro trabalho como realizador foi com o elogiado Le troisième cri (1974), premiado como Melhor Roteiro no Festival de Sitges, Espanha. Agora, quase quarenta anos depois, ele retorna à tela grande com uma obra pessoal e potencialmente polêmica: Brothers, lançada internacionalmente em 2008, premiada em diversos festivais e que somente agora chega ao circuito comercial brasileiro. Neste meio tempo, Igaal trabalhou também como diretor de fotografia e como produtor, experiência acumulada que lhe conferiu autoridade suficiente para discutir a separação da religião do estado, fundamentalismo religioso e o próprio futuro de Israel enquanto nação independente. Foi sobre estas questões, sobre a carreira de Brothers e sobre sua relação com o Brasil que o Papo de Cinema teve essa conversa inédita e exclusiva feita por email diretamente da Suíça. Confira!
De onde surgiu a inspiração para o filme Brothers?
Este filme foi co-produzido com a televisão suíça, pois esta era a única maneira de se obter dinheiro de uma maneira mais simples e facilitada. Em Israel é tudo muito complicado, com muita burocracia. Ao mesmo tempo em que sou israelense, foi impossível encontrar dinheiro no meu próprio país. Nenhuma produtora local concordou em realizar um filme que possuía um tema tão problemático e potencialmente polêmico, sobre o fanatismo religioso em Israel e a separação entre Estado e religião. Minha sorte é que trabalho há mais de 25 anos para a televisão suíça e francesa! Então tive que investir meu próprio dinheiro para produzir Brothers, e assim o fiz pois pensei que era uma questão muito importante a ser discutida nos dias de hoje.
Brothers teve uma longa carreira por festivais de cinema ao redor do mundo. Como foi a recepção que o filme teve nestas exibições?
Para minha surpresa, Brothers foi convidado pelos mais importantes festivais internacionais, de Cannes a Berlim, de Locarno a Toronto, de Nova Delli até Buenos Aires, além de mais de uma dezena de outros festivais ao redor do mundo. O filme tem sido exibido também em todos os festivais judaicos nos EUA e na América Latina. A recepção por todos estes lugares tem sido ótima, e até o momento já ganhamos mais de 17 prêmios. Brothers já me fez dar duas vezes a volta ao mundo com o seu sucesso!
Como você espera que sejam as reações no Brasil ao Brothers?
Fui convidado por uma comunidade judaica em São Paulo para apresentar Brothers, há algum tempo. Na ocasião aproveitamos para debater o filme por uma semana em uma série de eventos. A sala estava cheia, com mais de 300 pessoas, e a conversa, a opinião das pessoas, foi tudo muito emocionante. Essa passagem teve um retorno tão bacana que a comunidade judaica do Rio de Janeiro também me convidou, logo em seguida, para mais quatro sessões, sempre com o mesmo sucesso. Tenho na memória uma excelente impressão do Brasil, e agora, com o filme finalmente entrando em cartaz aí no país de vocês, minha torcida é para que as reações sejam tão boas como quando eu estive por aí.
O que você realmente quer discutir com esse filme?
Brothers levanta uma série de perguntas, todas muito relacionadas com a constante preocupação em relação ao futuro do Estado de Israel. Para onde vai Israel? Qual a sociedade que este país está formando? O melhor é um estado laico ou religioso? Estas são algumas das dezenas de perguntas que todo mundo pede que sejam debatidas. Estou sempre falando sobre isso e creio que fiz um filme que, ao menos de alguma forma, está sendo útil.
(Entrevista feita por email no dia 08 de outubro de 2012)
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