Nascido em Moscou, capital da Rússia, quando essa ainda pertencia à União Soviética, em 17 de janeiro de 1970, o animador Genndy Tartakovsky é responsável por alguns dos maiores sucessos dos canais de televisão de desenhos animados. São criações dele personagens como o genial Dexter e seu laboratório, as Meninas Superpoderosas e o Samurai Jack, entre outros. Foi do traço de Tartakovsky que nasceu também o visual de Star Wars: Clone Wars, a série animada que durou de 2003 a 2005 e chegou aos cinemas em 2008. Mas tantos projetos na telinha o mantiveram afastado de um dos seus maiores sonhos: estrear no cinema. Isso está finalmente acontecendo agora, com o lançamento de Hotel Transilvânia, seu primeiro longa-metragem. E foi sobre esse novo projeto, sobre como foi trabalhar com Adam Sandler e as diferenças entre os públicos brasileiro e americano que conversamos nessa entrevista inédita e exclusiva para o Papo de Cinema, feita por telefone desde Los Angeles, onde Tartakovsky está para a maratona promocional de lançamento do seu filme, que chega aos cinemas dos Estados Unidos somente no final deste mês e, no Brasil, no dia 05 de outubro. Confira!

 

Olá, Genndy, tudo bem? É um grande prazer falar com você. Como estão as coisas por aí?

Ah, está tudo bem. Estamos nessa maratona de entrevistas, afinal o filme só irá estrear na semana que vem. Então está aquele nervosismo bom, sabe? E é muito bacana no meio disso tudo conseguir falar com alguém do Brasil, que é um lugar de onde só ouço falar o melhor. Quero muito um dia visitá-los.

Genndy Tartakovsky e os personagens de Hotel Transilvânia

Bom, eu que agradeço pela oportunidade em termos essa conversa. E vamos começar pelo princípio: o que você pode me adiantar sobre Hotel Transilvânia? De onde veio a inspiração para esse filme?

Olha, esse projeto ficou sendo desenvolvido por mais de um ano, então esperamos que tenha ficado muito bom. Eu gosto bastante do resultado, estou muito feliz, e estamos ansiosos para ver a reação do público, que achamos que será a melhor possível. Sempre gostei de lidar com personagens que fugiam do lugar comum, que ia contra a expectativa das pessoas, e por isso que pensei que fazer um filme sobre o Dracula, mas que fosse uma comédia para a família toda, poderia ser uma grande sacada. E o interessante aqui é justamente isso, temos o Dracula como pai de família, lidando com problemas que todo mundo conhece, mas dentro de um contexto completamente diferente. É uma visão bastante moderna e contemporânea. Foi justamente isso que nos deixou tão excitados com essa história.

 

Como surgiu a oportunidade de estrear no cinema com Hotel Transilvânia?

Na verdade eu estava trabalhando num outro filme, minha estreia seria com outro projeto. Mas seria algo muito mais caro, e tivemos alguns problemas de produção que acabaram o adiando. Foi quando abriu um espaço no cronograma da Sony Pictures, e daí me convidaram para apresentar uma ideia. Esse conceito de brincar com monstros sagrados, que já assustaram muita gente, mas vendo o inverso dessa situação, mexeu comigo. Foi quando pensei que poderíamos ter algo interessante para vários públicos.

Genndy e o elenco de Hotel Transilvânia

Como foi a seleção do elenco de dubladores originais?

Eu sou fã confesso do Saturday Night Live, e ter a oportunidade de trabalhar com esse pessoal era algo que buscava há muito tempo. Por isso fui direto atrás deles. O primeiro a ser contatado foi justamente o Adam Sandler, que adorou a ideia e embarcou logo no projeto. Com ele ao nosso lado, foi muito mais fácil conseguir outros talentos do programa, como Kevin James, Molly Shannon, David Spade e Andy Samberg, por exemplo. Eles são comediantes profissionais, que levam a comédia muito à sério. E acima de tudo são pessoas muito, mas muito engraçadas. Então foi divertidíssimo trabalhar com eles. Aprendi muito com cada um deles.

 

E o que você pode falar sobre o Adam Sandler? O personagem do Dracula foi desenvolvido com o ator em mente?

Sim, ele sempre foi a nossa primeira opção. O nosso Dracula seria o Adam Sandler desde o princípio, e o jeito do personagem se mover, suas feições e o modo de falar, tudo vieram dele. Afinal, Dracula é um astro, o maior de todos os monstros, e ninguém melhor do que Sandler para encarnar este tipo, não é mesmo? E ele é ótimo também porque apesar de todas as piadas e risadas, está sempre buscando as melhores situações, as melhores formas de se fazer rir. Ele analisa tudo, estuda muito o roteiro e está sempre com sugestões sobre como fazer melhor. Foi a melhor escolha possível e estamos muito felizes com o resultado.

Cena de Hotel Transilvânia

Como a sua longa experiência na televisão lhe ajudou nesse novo projeto?

Pois é, televisão e cinema são dois veículos bem diferentes. Hotel Transilvânia pode ser, de fato, o meu primeiro filme, mas estou nesse negócio há muitos anos, então conheço uma ou outra coisa que me ajudou nessa transição. As Meninas Superpoderosas, O Laboratório de Dexter, Samurai Jack e Star Wars: Clone Wars são apenas algumas das séries animadas com as quais estive envolvido anos, e acho que Hotel Transilvânia traz um pouco de cada uma delas. E tem outra coisa: na televisão nós temos que criar um novo episódio por semana, exige muito da nossa criatividade. E, se por acaso num programa sai um pouco abaixo das expectativas, temos a próxima semana para nos recuperarmos. No cinema isso não acontece, é apenas uma chance, uma oportunidade. Se não der certo, vai tudo por água abaixo e é preciso recomeçar do zero. Por isso que a cobrança – não só do estúdio, mas principalmente de nós mesmos – é muito maior.

 

Quais as principais diferenças de Hotel Transilvânia para outros filmes recentes de temática similar, como Monstros S. A. (2001) e ParaNorman (2012), por exemplo?

Acho que a principal diferença está no tom que empregamos na história. Veja bem, adoro estes filmes que você citou, principalmente o Monstros S. A., que é excepcional. Tudo o que a Pixar faz é genial, e temos muito o que aprender com aqueles caras. Mas com Hotel Transilvânia a gente quis ir por um outro lado, que tivesse, sim, o lado emocional, mas que em nenhum momento deixasse as piadas de lado. O nosso filme é muito engraçado. Não há nada realista, tudo é bastante exagerado, muito cartunesco. São caricaturas daqueles monstros que sempre ouvimos falar, e estão aqui reunidos para nos divertir.

Genndy no seu estúdio de trabalho

Um dos pontos centrais de Hotel Transilvânia é o romance que surge entre a menina vampira e o rapaz humano. Era uma intenção de vocês aproveitar esse exemplo e discutir questões mais sérias, como preconceito?

É claro que debater as diferenças entre as pessoas e outros problemas muito comuns na nossa sociedade, como bullying e racismo, é sempre importante. Mas não queríamos ser chatos com isso. Ninguém vai ver um filme como o nosso para ouvir um sermão. A questão está ali, são dois seres de universos bem distintos e que se querem, que se dão bem e que gostam um do outro. E por quê não pode ser assim em qualquer lugar? Isso é o que estamos dizendo, essa é a nossa mensagem. Não buscamos ser muito específicos, creio que o exemplo é suficiente. Há muitos detalhes que talvez pudessem ser melhor explorados, mas nosso objetivo aqui era passar o quadro maior, uma visão geral do todo.

 

Como ainda não vi o filme, não tenho como dizer se gostei ou não, mas pelos trailers disponíveis a impressão que se tem é que será mesmo muito engraçado…

Era exatamente isso que estávamos buscando. Sabe, ao assumir um projeto como esse, tínhamos duas opções, dois caminhos a seguir: assustador ou engraçado? Faríamos algo macabro ou apostaríamos na diversão? E foi nessa segunda linha que decidimos apostar. Hotel Transilvânia é para toda a família, é divertido para as crianças, com ótimas tiradas também para os adultos. Ninguém vai se assustar com o nosso filme. Mas talvez passe um pouco mal de tanto rir. Se isso acontecer, estaremos bem satisfeitos (risos).

Durante o lançamento de Hotel Transilvânia nos EUA

Hotel Transilvânia estreia somente no final do mês nos Estados Unidos, e no Brasil somente no começo de outubro. Como estão as expectativas?

Nossa, não poderiam ser melhores. Aqui nos Estados Unidos estamos por todos os lados, a Sony tem investido muito no nosso projeto. E o público tem reagido muito bem nas pré-estreias, todo mundo tem demonstrado um interesse grande em ir aos cinemas e conferir o que fizemos. O sentimento é ótimo. Estou muito satisfeito com tudo o que está acontecendo, e tenho certeza de que o público americano, assim como o brasileiro, irá gostar muito de Hotel Transilvânia. Ou ao menos é o que esperamos!

 

(entrevista realizada por telefone no dia 18 de setembro de 2012)

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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