20250203 foto renata mizrahi papo de cinema

Os Sapos (2025) chega no próximo dia 06 de fevereiro aos cinemas do Brasil pela Livres Filmes. Baseado em experiências reais da roteirista Renata Mizrahi, ele foi precedido por um curta-metragem (com menos personagens, mas semelhante dinâmica) e uma peça de teatro que ficou mais de seis anos em cartaz. Abordando temas como dependência emocional, machismo e relacionamentos tóxicos a partir da chegada de uma mulher a uma propriedade no meio do mato, o longa estreia num momento em que esses assuntos estão sendo cada vez mais discutidos. Há muito ainda a percorrer para tais males serem erradicados, contudo, ao menos estamos falando mais deles.

Renata Mizrahi nos atendeu gentilmente para uma entrevista via zoom. Sem energia elétrica no seu apartamento (por conta de uma indisponibilidade da empresa encarregada do fornecimento do serviço), ela desceu à área comum do prédio e deu um jeito de nos atender, demonstrando que estava muito a fim de falar de processo criativo, da valorização da profissão de roteirista e de todos os elementos passíveis de discussão diante de Os Sapos. O resultado deste Papo de Cinema você confere logo abaixo, inclusive com uma síntese em vídeo.

Renata Mizrahi, autora de Os Sapos
Renata Mizrahi, autora de Os Sapos

OS SAPOS: RETOMAR A HISTÓRIA AGORA

“A peça ficou em cartaz de 2013 a 2019. Nesses seis anos houve um processo de entendimento de que aquilo poderia virar um longa. A peça seguia em cartaz enquanto eu transformava a história num roteiro de longa-metragem. Muitas coisas que fui melhorando no longa eu queria melhorar na peça (…) filmamos em 2021, ou seja, de lá para cá foram vários tratamentos. Era preciso atualizar algumas coisas para os termos atuais e, principalmente, aprofundar os personagens para eles não estarem tanto na superfície”. Renata disse que uma de suas preocupações era justamente diminuir a natureza verborrágica dos personagens e trazer as coisas mais para a ação.

Os Sapos mostra uma mulher caindo de paraquedas na dinâmica do relacionamento de um ex-colega de escola, logo confrontada também com a dependência de uma vizinha por seu namorado músico e possessivo. “Ao mesmo tempo em que atualmente damos nomes aos bois, o que é muito importante, temos uma corrente puxando para trás a fim de evitar que tenhamos certas consciências. Por uma questão de controle e comodidade. A bolha disposta a discutir sobre esses temas (dependência emocional e relacionamento tóxico) precisa trabalhar, pois estamos muito longe do ideal. Sou uma pessoa de classe média e das artes. Devo conhecer uma dez pessoas ao meu redor vivendo relações abusivas atualmente. A diferença em relação há alguns anos é que as pessoas têm mais consciência de onde estão, o que também não significa imediatamente que elas saberão como agir”.

Os Sapos, filme escrito por Renata Mizrahi
Os Sapos, filme escrito por Renata Mizrahi

OS SAPOS: FILME FEMININO QUE DIALOGA COM O MASCULINO

Os Sapos chama a atenção por ser escrito e dirigido por mulheres (Renata Mizrahi e Clara Linhart, respectivamente), por ter uma equipe técnica/criativa majoritariamente feminina e falar de temas imediatamente caros às mulheres (e a qualquer pessoa com algum grau de sensibilidade). No entanto, ele também estabelece um diálogo franco e possível com uma masculinidade cujos pilares históricos (felizmente) estão sendo colocados em xeque. “Não queremos cair na polarização. As mulheres também retroalimentam essas relações. A diferença é que cada um está num lugar diferente. A codependência faz sentido a partir de uma questão estrutural da sociedade. A mulher acha que somente é validada de tiver uma pessoa e o homem frequentemente permanece nessa posição de controle”, diz a roteirista.

A autora de Os Sapos prossegue: “O personagem Marcelo, que é semelhante a qualquer cara que a gente encontra na esquina, sabe que não é legítimo o que ele faz. No entanto, não sabe como sair disso (…) O Miguel Machowski, um grande roteirista, que atuou como consultor, foi uma figura fundamental para me ajudar a desenhar melhor os personagens masculinos. Aliás, por isso eu quis um homem, branco, hétero e cis para essa tarefa, para que tivéssemos o equilíbrio desejado (…) os próprios intérpretes dos homens do filme, o Paulo e o Pierre, falaram em debate que já reproduziram comportamentos semelhantes ao do personagem Marcelo”.

Os Sapos

OS SAPOS: A CENA FAVORITA DA ROTEIRISTA

Geralmente, não é de bom tom perguntar a uma mãe qual dos filhos é o seu favorito. No entanto, na nossa entrevista com Renata Mizrahi, achamos que cabia essa “saia justa”, pois Os Sapos tem diversos momentos que sintetizam de maneira interessante o que o filme está querendo suscitar com essas discussões a respeito de dependência afetiva e relacionamento tóxico. Então, perguntamos à Renata qual é a sua cena favorita do longa-metragem. Depois de demonstrar o desconforto típico de uma mãe repleta de filhos queridos, encabulada em ter de apontar o seu bibelô, ela afirmou:

“Há uma cena que me emociona particularmente. É a cena final com Paula e Luciana diante de uma fogueira comendo batatas. É um trecho curto. A Paula viveu aquela história toda, Luciana está acabada, mas as duas se agradecem mutuamente por estarem dividindo uma refeição. De alguma maneira, a Luciana entende que a presença da Paula lançou luz sobre o que ela sabe que não está legal (…) em princípio o ‘obrigado’ de uma a outra é pela batata, mas no fundo esse agradecimento uma importância que vai além da comida. Naquele momento, naquele ponto presente, duas mulheres comendo batata assada na fogueira, é algo muito forte”. 

OS SAPOS: A VISIBILIDADE DOS ROTEIRISTAS

“Minha comunicação com a Clara (a diretora) sempre foi de muita confiança e sinceridade. Temos uma relação aberta. Falamos das coisas legais e das não tão legais. Às vezes o filme vem do roteirista, mas acaba virando publicamente da direção. Muitas vezes esse profissional não é creditado em matérias, materiais de divulgação e nem nas primeiras páginas dos streamings. E isso é muito duro na vida do roteirista (…) desde o começo conversei com a Clara sobre isso. Ela sabia que neste caso eu era a alma da história”.

“Eu e a Clara tivemos uma relação de muita sinceridade. E essa nossa conexão acabou influenciando positivamente outras parcerias. Nossa relação é muito potente, de confiança e parceria em todos os sentidos. Existe um respeito mútuo muito grande entre a gente (…) todos os tratamentos do roteiro passaram por ela (…) quando a Clara fez a decupagem, ela me mostrou e eu opinei. Isso é muito raro”.

Na trama de Os Sapos, Paula (Thalita Carauta), uma mulher de 40 anos, chega à casa isolada no meio do mato para um reencontro de amigos, mas descobre que a confraternização foi cancelada. Presa no local até o dia seguinte, ela convive com Marcelo e sua namorada Luciana, além de um casal de vizinhos. À medida que as tensões aumentam, surgem reflexões sobre amor, autoestima e o impacto dos relacionamentos tóxicos. No elenco ainda constam Karina Ramil, Verônica Reis, Pierre Santos e Paulo Hamilton.

OS SAPOS: ENTREVISTA EM VÍDEO COM RENATA MIZRAHI

Oscar 2025

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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