Nascido na pequena cidade de Mairi, no interior da Bahia, Aly Muritiba mudou-se para São Paulo em 1998, aos 19 anos, para cursar História na USP. Logo depois, foi para Curitiba, onde estudou Comunicação e Cultura, na UTFPR, e Cinema e TV, na Faculdade de Artes do Paraná. Acabou fixando residência na capital paranaense, e lá começou sua prolífica carreira de cineasta. O curta Pátio (2013) foi o único representante latino-americano indicado para a Semana da Crítica do Festival de Cannes daquele ano, enquanto que A Fábrica (2012) foi semifinalista na categoria de Melhor Curta de Ficção no Oscar 2013. Tarântula (2015) foi selecionado para a Mostra Horizontes do Festival de Veneza, tendo sido premiado nos festivais de Brasília, Vitória e Fantaspoa, em Porto Alegre. No formato longa, estreou participando do coletivo Circular (2011), ao lado dos realizadores Fábio Allon, Bruno de Oliveira, Adriano Esturilho e Diego Florentino. O drama foi premiado como Melhor Roteiro (escrito pelos cinco diretores) no Festival de Maringá. Esta foi a motivação que faltava a Muritiba para realizar seu primeiro longa-metragem sozinho: Para Minha Amada Morta (2015), cujo projeto foi premiado no Festival de Sundance, nos EUA, e estreou na mostra competitiva do Festival de Brasília, de onde saiu com seis candangos: Melhor Direção, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante, Fotografia, Direção de Arte e Montagem. E foi sobre esse tenso thriller que o cineasta conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!
De onde surgiu a ideia para a trama de Para Minha Amada Morta?
A ideia veio de situações cotidianas observadas entre amigos. Vez ou outra me deparava com sentimentos como posse, ciúmes, obsessão, sempre relacionados ao amor ou ódio. Conto um causo para ilustrar: certa feita, num bar, um amigo ficou extremamente chateado ao ver sua ex-namorada chegar no local com um novo namorado. Então começamos a falar sobre o assunto e um outro amigo confessa que morria de ciúmes do ex-namorado de sua namorada e que exigia, sem ser atendido pela moça, que esta se desfizesse de tudo que ela ainda tinha e que remetesse ao ex. A partir destas observações é que surgiu o plot do Para Minha Amada Morta, um drama que versa sobre amor, obsessão e perda.
O Fernando Alves Pinto é um ‘bicho de cinema’, como se diz, mas fazia tempo que não tinha em mãos um protagonista de peso. Você elaborou esse personagem com ele em mente?
Sim, é verdade. Sou grande admirador do trabalho que Fernando fez em Terra Estrangeira (1995) e ficava um tanto frustrado com certos papéis que davam a ele depois. Então decidi que um dia daria a ele um papel bacana, à sua altura. E então escrevi este personagem para ele.
Uma das forças do filme é o elenco. Como foi a escolha dos atores?
Eu não sou do tipo que gosta de fazer testes, então sempre que posso evito. Neste filme, todos os personagens vieram de convites, exceto o Lourinelson Vladmir. Eu já havia trabalhado com a Giuly Biancato e com a Michele Pucci, e a escolha da Mayana Neiva deu-se após uma longa conversa que tivemos acerca do tema do filme. No fim, pra mim o que importa é a empatia que sinto pela pessoa, o resto a gente constrói com trabalho.
Para Minha Amada Morta estreou no ano passado no Festival de Brasília, já se consagrando como um dos mais premiados daquela edição. Como você recebeu esse resultado?
Estava em trânsito para o Festival de San Sebastian, onde exibiria o filme. Fiquei apenas 2 dias no Festival de Brasília, então nem havia visto os outros filmes. Chegando em San Sebastian depois de horas de viagem, morto, fui dormir. Acordei no meio da madrugada com mil recados no telefone. Era a equipe comemorando os troféus Candangos recebidos. Fiquei muito contente, óbvio, e mais ainda pelos prêmios dados aos colaboradores do filme.
Você é um dos grandes nomes do cinema que está sendo feito hoje em Curitiba, mas na verdade nasceu na Bahia. Como você vê o atual cenário da produção cinematográfica nacional e as diferenças de cada região?
Vejo com muita excitação o fato de que a descentralização está tornando-se um fato. Não temos mais apenas filmes feitos no Rio, São Paulo ou Pernambuco ocupando as telas. Agora podemos ver os vários brasís representados no cinema. Isto é lindo e precisa ser aprofundado.
Para Minha Amada Morta não é um filme que segue caminhos fáceis. Como você tem percebido a reação do público, após sua exibição nas telas de cinema e em outros formatos, como nos serviços de streaming?
O público especializado, aquele que frequenta festivais, gostou muito do filme. Sinto que as pessoas se sentiram tocadas, perturbadas e instigadas pelas propostas contidas nesta pequena obra. No circuito de festivais o filme foi muito bem, mas o teste de fogo foi o encontro com o público, e esse sempre é o mais difícil. Mas, acima de tudo, estou muito feliz com o resultado e com tudo que Para Minha Amada Morta alcançou.
(Entrevista feita por email com o diretor)
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