Lana Condor nasceu no Vietnã. Ainda criança, foi adotada por um casal norte-americano. Desde pequena aprendeu a ver o mundo com olhos mais curiosos e inclusivos. Seu primeiro contato com as artes se deu aos sete anos, quando começou a ter aulas de dança. Aos 11, após morar em Chicago e em Washington, a família se mudou para Nova Iorque, onde continuou suas aulas de ballet, mas, por conselho dos pais, começou também a ter aulas de teatro. No meio de um curso na New York Film Academy, outra mudança, dessa vez para Los Angeles, e foi durante uma sessão de estudos para uma prova de História que descobriu que havia sido aprovada para o papel da super-heroína Jubileu em X-Men: Apocalipse (2016)! Com o sucesso desse filme, que arrecadou mais de US$ 500 milhões em todo o mundo, outras portas se abriram. Uma delas foi para ser a protagonista de Para Todos os Garotos que já Amei (2018), baseado numa série de livros de Jenny Han. Lançado diretamente na Netflix, se tornou um dos maiores fenômenos da gigante do streaming. Tanto que ganhou uma sequência – Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você (2020) – que estreou nesse ano! Aproveitando a passagem da atriz pelo Brasil para divulgar o segundo longa, o Papo de Cinema se encontrou com ela para falar sobre Lara Jean, sua paixão por Peter Kavinski e por John Ambrose e como lidar com a responsabilidade dessa personagem. Confira!
Em Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você, sua personagem, a Lara Jean, precisa lidar com duas paixões, uma bem distinta da outra. Como foi lidar com essas diferenças?
Sabe, é engraçado pensar nisso. Quando estávamos no meio das filmagens, havia uma piada entre nós que parecia que estávamos filmando dois filmes ao mesmo tempo, pois cada um dos meninos era muito diferente do outro.
Bom, o fato é que vocês estavam, realmente, filmando dois filmes ao mesmo tempo, não é verdade?
Bom, sim, teve isso também (risos). Filmamos Para Todos os Garotos 2 e o 3 juntos! Mas me refiro a esse aspecto específico, o que foi bastante confuso para mim. Um dia estava completamente concentrada no Peter Kavinsky, mas no outro já era com o John Ambrose. Por fim, havia também momentos em que era apenas a Lara Jean em cena. Eu, literalmente, ia para casa sem saber o que pensar. “Estou tão confusa”, era tudo o que passava pela minha mente. Os dois rapazes atuaram muito bem, a ponto de ter que compartimentá-los na minha cabeça. Acredito, ainda, que isso é algo que se percebe ao assistir ao filme. Quando filmávamos em Bellevue, na casa de repouso, a Fotografia intencionalmente organizava para que as cenas com John Ambrose tivessem mais movimento, fossem coloridas, com os personagens ocupados com afazeres o tempo todo. Já quando ela está com Peter, a coisa se torna mais íntima, basicamente com os dois no mesmo frame conversando um com o outro. Foi um desafio, mas acho que resultou em algo bonito de se ver.
O segundo filme parece ser mais centrado em Lara Jean do que o anterior. Você concorda?
Sim, concordo. Obrigado por essa observação. É engraçado mencionar isso, pois ela passa muito tempo ou com Peter Kavinsky, ou com John Ambrose, e às vezes sentia como se fosse necessário pensar mais nela, e não apenas nos rapazes. Talvez fosse algo que passasse pela cabeça dela. E nesse filme, portanto, é possível ouvir mais a voz dela, mesmo que seja através de diálogos internos, que percebemos apenas pelas expressões do seu rosto. Foi algo incrível de fazer, pois, enquanto atriz, sempre acreditei que Lara Jean tinha o que crescer e se desenvolver. Ela está tentando encontrar sua voz e seu espaço. Foi importante para mim ter esses momentos que permitissem que Lara Jean amadurecesse. Os meninos são incríveis, mas não pode ser tudo sobre eles, certo? No final do dia, o que realmente importa é acompanhar essa garota e o amadurecimento dela.
Vamos falar sobre o visual da Lara Jean. O que você acha do senso de moda dela?
Nossa, ela é muito mais estilosa do que eu (risos). No meu dia a dia, uso camisetas e calças de moletom, tudo confortável. Mas ela realmente se preocupa com seu visual e cada peça de roupa é bem escolhida. Foi uma surpresa quando nos demos conta que haviam garotas indo às lojas comprar as mesmas peças que a Lara Jean usa no primeiro filme! Com isso em mente, no segundo foi possível criar combinações mais acessíveis e que fossem fáceis de serem reproduzidas pelas fãs. Afinal, as admiradoras desses filmes são muito importantes para nós! Passei horas experimentando todos os tipos de roupas até encontrarmos as certas para Lara Jean. Por isso posso dizer que ela se esforça muito mais do que eu nesse assunto (risos). O estilo dela diz muito a seu respeito, é uma representação de tudo que está pensando e sentindo. Aquilo que não consegue organizar em palavras, expressa através das roupas.
Qual foi a cena mais difícil desse filme?
(pensando) Deixe ver… Acredito que seja a cena de Lara Jean com Genevieve. Foi difícil porque foi muito emocionante. Sabia que Emilija (Baranac, que interpreta a outra personagem) faria um ótimo trabalho, e eu precisava estar no mesmo tom. Essa sequência se passa na Casa da Árvore, e posso dizer que qualquer uma das cenas que filmamos por lá foram as que mais nos exigiram. Foram divertidas, mas, pelo fato de todos os personagens principais estarem reunidos num mesmo espaço, o que nunca havia acontecido até então, foi também um desafio organizar como isso seria mostrado na tela. Há ainda outra cena, que acho que nem entrou no filme, mas era com Trina (Sarayu Blue), a vizinha da casa ao lado, quando ela dá um conselho à Lara Jean sobre como uma jovem deve agir quando tem seu coração partido. Sabe, algo do tipo “sei que é horrível, mas você vai superar, é só deixar o tempo passar”. Foi uma pena que não esteja no corte final, pois me exigiu bastante emocionalmente, e penso que teria ficado bonita de se assistir.
Qual dos dois Lana Condor escolheria: Peter Kavinsky ou John Ambrose?
Uau, agora você me pegou. Nossa, é muito difícil escolher. Vou te contar um segredo: eu era do time do Jacob, na saga Crepúsculo. Portanto, creio que isso faz de mim parte do time do John Ambrose, correto? Portanto, provavelmente, nesse momento da minha vida, acabaria escolhendo o John Ambrose. Mas quando eu era adolescente… vai saber?
Por que você acha que Lara Jean acaba escolhendo Peter Kavinsky?
Porque eles possuam uma conexão que não pode ser desprezada. É algo forte, mais do que uma atração passageira, ou um flerte platônico. Além disso, são muito amigos. Há laços entre eles. Peter está presente, disposto a agradar Lara Jean, e é isso que ela procura, alguém que seja companheiro. Sem falar que foi o primeiro amor dela, e os dois mal começaram a explorar o que esse sentimento é capaz. No terceiro filme a relação deles vai atingir outro nível, e será incrível. Nesse ponto em que estão agora, ela precisa descobrir quais são as possibilidades que essa relação irá oferecer.
Lara Jean tem uma nova amiga nesse filme, Stormy. Como foi trabalhar com Holland Taylor?
Nossa, foi incrível! Ela é como uma lenda viva, adoro o trabalho dela. Lembro de, lá no começo da produção, ficar me perguntando: “quem irá interpretar Stormy, quem será que vão chamar?”. Afinal, é uma personagem muito importante no livro. E a Holland é perfeita! Ela foi exatamente o que eu esperava da Stormy! Mas quando me disseram que Holland Taylor havia sido escolhida, entrei em pânico! “Gente, ela é maravilhosa, não acredito que irei atuar ao lado dela”. E me ensinou tanto! Sobre atuação, sobre o que esperar dessa profissão. Nem acreditava que aquilo estava acontecendo!
Você esperava que Para Todos os Garotos que já Amei (2018) se tornasse esse fenômeno?
Nessa proporção? Nunca! Sabíamos que haviam leitores apaixonados, mas quando filmamos o primeiro nem distribuidora a gente tinha. Ou seja, não sabíamos nem se as pessoas iriam conseguir assisti-lo! Só o fato de que alguém estava interessado em comprar o nosso projeto já foi incrível! Quando isso começou, de fato, a acontecer, fiquei sem reação. Mudou tudo para mim. Mas, ao mesmo tempo, me passou uma segurança muito forte. Meu relacionamento com a minha família e com meus amigos, todos aqueles que já eram próximos, ficaram ainda mais fortes ao meu lado. As oportunidades que vieram depois, nunca imaginei que seriam possíveis. Por tudo isso, nem passava pela minha cabeça que poderia virar esse fenômeno.
Qual o significado para você, uma garota de origem asiática, ser escolhida para viver a protagonista de uma comédia romântica em Hollywood?
Significa tudo! Afinal, se outras garotas como eu estão agora me vendo nesse lugar, irão pensar que também podem alcançar seus sonhos. Esta é a linha de pensamento. Se você vê sempre o mesmo tipo de garota fazendo os mesmos papeis, como esperar por algo diferente? Por isso que é tão importante criar essas oportunidades. O que ouvi de outras meninas asiáticas, e não só nos Estados Unidos, mas pelo mundo todo, e o que elas sentiram ao assistir a esse filme, tem sido a experiência mais satisfatória de toda essa aventura.
Você concorda com o que Stormy diz, que “às vezes é importante beijar o homem errado para saber quem é o certo”?
Olha, 100%! Lara Jean é uma garota que está tentando descobrir o que gosta e o que funciona para ela. Como poderá ter certeza de alguma coisa se não experimentar? Por isso que beija o Peter, e também por isso que beija o John. “Ok, esse é bom… opa, esse não é tão bom quanto o outro…” (risos). É importante explorar as possibilidades para saber qual são as suas preferências. Então, absolutamente, a Stormy estava completamente certa. Não que seja preciso sair beijando todo garoto que surgir no seu caminho (risos), mas você precisa ter certeza do que está buscando.
Para Todos os Garotos 2 é, como o anterior, um filme para adolescentes. E um dos assuntos que aborda é o sexo entre jovens. Como foi lidar com essa questão?
Bom, tive muitas conversas com Jenny Han, a autora dos livros. Acho que é importante conversarmos sobre sexo. Ainda mais quando se trata de adolescentes. Lara Jean ainda é virgem, e queria mostrar para o público que, independente do que você decidir fazer com o seu corpo, com quem e quando, essa precisa ser uma escolha sua. Ninguém pode tirar isso de você. É preciso abrir espaço para esse tipo de diálogo, sempre com muita honestidade. Por isso que Lara Jean e Peter conversam a respeito. Nem sempre você está confortável, muitas vezes fica até com medo de abordar o assunto, mas faz parte da natureza humana. É óbvio que irão falar sobre isso, afinal, são adolescentes (risos)! Sinto orgulho do nosso filme, pois abordamos essa questão de uma maneira bonita, com respeito, honestidade e de uma maneira simples, sem rodeios. Ela não está pronta, o que também não quer dizer que no futuro não irá mudar de ideia.
Vocês pretendem aprofundar essa questão no terceiro filme?
Sobre o terceiro filme, ainda não está pronto, não sei tudo o que estará nele. Mas torço para que esse tema siga em debate. Afinal, faz parte do processo de ser um jovem adulto. Adoraria promover essa conversa. Temos que tomar decisões das quais nos orgulhamos, e saber que é uma escolha de cada garota, e de cada garoto também.
Você acha que o mais importante no mundo de Lara Jean ainda é a família dela?
Sabe… acho que sim. Ela sente falta da mãe. Havia uma cena que mostrava o quanto ela sentia saudades, porque perdeu a mãe muito nova. Era triste. Espero que, um dia, essas cenas possam ser vistas. A família é tudo para ela, tem uma relação muito saudável. Se sente segura ao lado das irmãs, e eu, particularmente, nunca tive irmãs, então a relação que pude criar com Anna Cathcart (Kitty) e Janel Parrish (Margot) foi especial. E Jenny Han é como se fosse uma irmã mais velha. Uma coisa é certa: vocês poderão ver mais sobre a família dela no terceiro filme.
Como foi para a Lana acompanhar o amadurecimento da Lara Jean nestes três filmes?
Sabe, faz apenas um par de anos que tudo isso começou, então ainda é muito recente. Mas o que sinto é que já ocupa um lugar muito especial na minha vida. Coloquei tudo o que podia nestes filmes. E fiz isso porque acreditava na história e por amar a Lara Jean. Cresci junto com ela, e foi muito especial. Acredito que, no futuro, quando olhar para trás, vai ser um reencontro comigo mesma. Quando terminamos as filmagens do terceiro filme, dizer ‘adeus’ foi difícil. Ela tem sido uma parte importante da minha vida, abriu tantas portas e a amo profundamente. Admiro a forma como ela vê o mundo. Mas, ao mesmo tempo, tenho orgulho de tudo o que fizemos e do nosso trabalho. Me importo com tudo o que alcançamos.
(Entrevista feita ao vivo em São Paulo em janeiro de 2020)
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