Em Paraíso Perdido (2018), Júlio Andrade interpreta Ângelo, sujeito marcado pela saudade de um amor que se foi. Ele é a força motriz afetuosa do longa-metragem de Monique Gardenberg, aquele que filtra as barbáries, as possíveis controvérsias e dificuldades, demonstrando carinho, por exemplo, tanto ao sobrinho ameaçado pela homofobia quanto à filha em crise por conta da gravidez não planejada. Júlio é uma figura e tanto, constantemente chamado para criar personagens densos, com múltiplas camadas. Aqui ele dá vida a esse homem que transita no limiar entre a fábula e a realidade. O ator, bem como o restante da equipe do longa-metragem, nos atendeu para este Papo de Cinema um pouco antes da sessão noturna de pré-estreia de Paraíso Perdido. Júlio, que não havia assistido ao filme ainda, estava visivelmente cansado, fruto de uma extenuante jornada de gravações que começara às 5h30 da manhã e que, segundo ele, foi marcada por cenas emocionalmente difíceis. “Passei o dia inteiro chorando”, disse o artista, se referindo aos trabalhos da série Sob Pressão. Sem mais delongas, confira o bate-papo com o ator Júlio Andrade.
O que lhe atraiu no roteiro de Paraíso Perdido, na possibilidade de viver o Ângelo?
Primeiro, a história da Monique e a oportunidade de trabalhar com essa grande diretora. Ela queria muito que eu fizesse o filme. Segundo, o roteiro. Era uma coisa diferente de tudo o que costumo fazer, dentro de um universo de música e arte. Realmente é algo que ultimamente não tenho feito. Meus personagens são geralmente densos. Vi a possibilidade de atuar num âmbito mais leve, interpretando um cara que vive da música, mas que, o mesmo tempo, é marcado por uma dor. Ângelo é um sujeito triste por conta do passado. Todavia, quando sobe no palco, se transforma, vira artista. Isso me atraiu bastante. Há muitas figuras assim na vida, aqueles músicos que tocam em bares, felizes para caramba, sem necessitar da fama.
Seu personagem é um elo afetuoso entre a fábula e a realidade. Como você encara a maneira do filme tocar em questões cotidianas?
Realmente o filme aborda questões atuais, mas partindo daquele universo leve, não lidando com esses problemas de um jeito radical. Tudo o que acontece ali está dentro da normalidade, até as coisas mais absurdas. Essa percepção ocorre justamente porque existe diálogo, amor, e o afeto que você mencionou. Construí o Ângelo em cima disso, mesmo. Ele está ali, custe o que custar, para defender os seus, não importando o que aconteceu antes.
Quais suas lembranças mais vívidas do set?
O set era muito musical. Seu Jorge, Erasmo Carlos, todo mundo ali cantando. Subir no palco com uma guitarra para tocar e soltar a voz é algo que faço na vida, mas nunca num filme. E a Monique é uma pessoa maravilhosa, bastante carinhosa, além de chique e dona de extremo bom gosto. A tudo o que ela propunha eu dava meu “Ok”, porque realmente me senti em boas mãos. O set foi bem leve. E como eu precisava fazer um trabalho assim! Estava necessitado de me alimentar desse meio regado a afeto e música. O trabalho da Monique tem um apelo lúdico, então você já entra querendo fazer diferente. Era possível brincar com esse universo.
E como foi contracenar com Erasmo Carlos?
Foi maravilhoso, cara. Maravilhoso. Temos uma música juntos, tocamos nos bastidores. Mandei um vídeo para minha mãe e ela amou (risos). Escuto Erasmo, tenho vinis dele, então encontra-lo no set foi incrível. Ele me pedia dicas. E ele arrasou, se jogou, se entregou totalmente.
Qual a sua relação com a música brega, o fio condutor do filme?
Minha relação é total. Sou fã de música brega. Ela é tão genuína, tão nossa, não é? A música brega está em todas as regiões, do norte ao sul. Curioso, desconhecida várias das músicas que cantei no filme. Passei, obviamente, a conhecer e gostar. Tenho realmente uma coleção de música brega. Aliás, sou fã de música popular brasileira. Gosto de tudo que há no Brasil.
(Entrevista concedida ao vivo, no Rio de Janeiro, em maio de 2018)
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