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O Conde de Monte Cristo :: “Interpretar vilões é muito estimulante”, diz o ator Patrick Mille

Publicado por
Marcelo Müller

Patrick Mille nasceu em Lisboa, mas fez grande parte de sua carreira no cinema francófono. Em O Conde de Monte Cristo (2024) ele interpreta o icônico Barão Danglars, um dos principais algozes do protagonista do romance homônimo de Alexandre Dumas no qual o longa-metragem é baseado. Marinheiro invejoso e arrivista, Danglars é um dos conspiradores que levam Edmond à prisão e à desgraça. Escravocrata, o sujeito ascende na sociedade da época até se tornar nobre, banqueiro e dono de frota marítima milionária.

De passagem pelo Brasil para participar do Festival Varilux de Cinema Francês 2024, Patrick Mille conversou animadamente com o Papo de Cinema em bom português. Dispensando o tradutor, ele falou a respeito do fascínio por vilões e sobre a responsabilidade de interpretar um personagem imortalizado num dos clássicos da literatura francesa. O resultado desse Papo você confere agora.

É realmente mais saboroso para um ator interpretar um personagem malvado como o Danglars?
Ah, com certeza (risos). Desde criança sempre me interessei pelos personagens maus. Quando assisti a Star Wars pela primeira vez, meu personagem favorito não era o Luke Skywalker, mas o Darth Vader. Adoro esse tipo de figura. Para mim é uma coisa gostosa interpretar alguém muito distante de mim. Não estou dizendo que sou santo (risos). Mas gosto muito de ir ao encontro do lado obscuro desses personagens. Interpretar vilões é muito estimulante.

E há algo de especial na hora de compor um personagem antes imortalizado pela literatura?
Sim, claro. É um mito da literatura francesa. É como interpretar no teatro o De Guiche de Cyrano de Bergerac. Tratam-se de antagonistas muito interessantes que moram no inconsciente coletivo. É preciso ter a consciência de que grandes atores os interpretaram antes. Eu odiei profundamente o Danglars quando li O Conde de Monte Cristo na adolescência. Um homem horrível. Mas quando o Matthieu e o Alexandre me chamaram para esse papel, eu adorei (risos).

E não se trata de “passar pano”, como dizemos atualmente…
A minha proposta não é desculpar o personagem. Meu trabalho como ator, especificamente com esse tipo de figura, é compreender de onde vem essa maldade toda. Por que essa violência desmedida? Inventei uma infância muito violenta para o Danglars, ele trabalhando desde pequeno num barco. Então, fui criar um pouco desse background para melhor interpretar ele a partir dessa consciência.

Patrick Mille

Estamos diante de um filme que faz o público desejar a vingança, mesmo que depois ele perceba que isso corroeu o protagonista…
O público realmente deseja e adora a vingança. O protagonista é tipo um Batman, o justiceiro, aquele que repara a injustiça. Há duas violências no Danglars. Há a violência do marinheiro, do capitão, a violência física que pode matar. Ele é uma figura reptiliana. E depois há a violência social e econômica, que faz muitos estragos também. Estamos falando de um escravocrata que ganha dinheiro de maneiras escusas. Podemos fazer um paralelo entre ele e aquela figura que recentemente foi eleita como presidente dos Estados Unidos.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.