Nascido na cidade de Santos, litoral paulista, no dia 03 de janeiro de 1979, Paulo Eduardo Oliveira de Vilhena Moraes – ou apenas Paulo Vilhena, como se tornou conhecido nacionalmente – é um rapaz de fala mansa, bastante reflexivo, bem diferente da imagem pública que tem cultivado desde a adolescência, de visual rebelde e provocador. Seu primeiro grande sucesso popular foi com o seriado juvenil Sandy & Junior (1999). De lá para cá esteve em mais de dez novelas e especiais na televisão, cinco peças de teatro e algumas participações bem diversificadas no cinema, desde produções infantis como Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida (2004) quanto a cinebiografia roqueira O Magnata (2007). Mas, ao mesmo tempo em que segue apaixonado pelo surf e por esportes radicais, também está começando a fazer escolhas mais maduras e complexas em sua carreira. Um bom exemplo é o drama Entre Nós, de Paulo Morelli, atualmente em cartaz em todo o Brasil. E foi durante o lançamento deste mais recente trabalho que o Papo de Cinema conversou com o ator, que falou sobre esta e outras boas experiências que já teve no cinema. Confira!
Como você recebeu o convite para participar de Entre Nós?
Quem primeiro chegou até mim foi o próprio Paulo Morelli, o diretor. Ele me chamou para uma conversa, e nos encontramos num restaurante aqui no Rio. Foi quando me contou da ideia de filmar numa locação só, dividido em duas fases, com um período anterior e um reencontro depois, com esta passagem de tempo e as mudanças decorrentes nestes personagens. Seriam poucos atores, e isso me interessou bastante, pois com uma estrutura mais enxuta seria possível vislumbrar uma dramaturgia maior, mais intensa. O filme fala essencialmente sobre o ser humano, sobre essas pessoas e como se relacionam, o que pode servir de exemplo para todos nós. Recebi o convite com o maior prazer, foi uma grande honra ter sido lembrado para um papel como esse. E, assim que o elenco ia sendo formado, meu entusiasmo crescia, pois trabalhar ao lado destes artistas, que são também meus amigos, foi fantástico. Entre Nós tem um elenco muito justo e íntegro, e acho que essa é sua maior qualidade.
Quem é o Gus e o que ele tem de semelhante com você?
O filme fala de um rito de passagem, de jovens que sonham com o futuro e como se defrontam com essas expectativas uma década depois. E todo mundo já passou por isso, então é claro que tenho um pouco de Gus na minha própria trajetória. Porém lidamos de modo diferente, ele é mais pacato, talvez não tenha tido tanta sorte. Quando estamos dando os primeiros passos em nossas vidas entramos literalmente em ebulição, com vontade de crescer e de conquistar nossos objetivos. Minha imaginação ia longe, sempre tive muitos sonhos. Mas à medida que o tempo vai passando, estes desejos devem permanecer, mas algumas coisas eventualmente irão se contrapor a eles, e para isso devemos estar preparados. É algo do dia a dia, de conquistar cada vitória e não se deixar abater. Graças a Deus, na minha vida pessoal, posso dizer que sou realizado, tenho um bom emprego, uma família maravilhosa, amigos fieis. E esse não é exatamente o caso do Gus, ele está passando por uma fase de frustração, então foi importante trazer esse sentimento à tona.
Você já viveu situações semelhantes às enfrentadas pelo Gus?
Sim, com certeza. Nos relacionamentos amorosos, nas escolhas profissionais, até na hora de fazer um cordeiro (risos), não dá pra dizer que a gente acerta sempre. Mas sou muito feliz em poder afirmar que tenho bons amigos, e não são poucos. Creio que amigos de verdade podem ser contados numa mão, mas eu preciso das duas. Então sempre tive muita força ao meu lado, que é justamente o que Gus está precisando neste momento em que o reencontramos, dez anos depois.
Vocês passaram muito tempo juntos durante as filmagens. Alguma história engraçada dos bastidores para nos contar?
Foi quase como um acampamento de férias. Ficamos juntos por duas semanas direto, só ensaiando, experimentando os personagens, conhecendo seus limites e a dinâmica entre eles. Dormíamos juntos, fazíamos todas as refeições juntos, foi muito divertido. Uma verdadeira imersão naquele lugar maravilhoso. Isso foi fundamental, pois assim conseguimos sair da nossa intimidade de atores e criar a atmosfera daqueles amigos que iríamos dar vida. Eu só tenho boas recordações, nada de complicado, nos demos todos muito bem uns com os outros. A convivência era incrível, e tenho na memória dias realmente especiais, tanto do lado profissional como pessoal. E estávamos, também, em uma casa que era um paraíso, com um cenário mágico, em São Francisco Xavier, no interior de São Paulo. Nunca irei esquecer.
Seu filme anterior a Entre Nós havia sido As Melhores Coisas do Mundo, em 2010. Por que tanto tempo afastado do cinema?
O cinema no Brasil está acontecendo com maior volume, e isso é muito bom. Mas esse boom está se dando também no teatro, na televisão, e às vezes acaba sendo complicado conciliar a agenda. Isso não quer dizer que não queria fazer cinema, pelo contrário. Adoro cinema, talvez seja o meio que nos possibilite relaxar melhor, realmente entrar dentro dos personagens. Mas sou contratado da Rede Globo, então tem o dia a dia com gravações, ensaios de novas peças… Prezo muito estar sempre trabalhando, não consigo ficar parado. E no cinema a gente tem que esperar que surja o convite certo, no momento apropriado. Muita coisa tem que encaixar. Meu processo é muito cuidadoso, e se a televisão é algo da rotina, no teatro e no cinema não quero ter pressa, prefiro escolher com calma algo que realmente me apaixone. Roteiros que me arrebatem é a minha busca. Exatamente como aconteceu com o Entre Nós.
O que você espera que o público encontre em Entre Nós?
Acho que esse filme vai por uma lacuna diferenciada dentro da cinematografia nacional. Temos aqui um suspense, combinado com thriller, e também um forte drama psicológico. Não é uma comédia passageira, é algo mais intenso, que exige mas também oferece mais em troca. Espero que o espectador se veja na tela, reconheça nossa essência, se identifique com essa história, mas sem se afastar dos valores que prezamos. O filme trata bem dessas questões íntimas que são próximas a qualquer um, que fazem parte das nossas vidas, como a perda da inocência, o sucesso profissional, e fidelidade e a amizade. Temos aqui seres humanos normais, sem nenhuma anomalia. São pessoas comuns, porém únicas em suas características. Assim como cada um de nós.
(Entrevista feita por telefone direto do Rio de Janeiro em 25 de março de 2014)
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