Especialmente depois do emblemático movimento contínuo conhecido como Retomada, deflagrado nos anos 90, Fernando Alves Pinto se tornou uma figurinha recorrente no nosso cinema, sobretudo o independente, aquele que assume riscos. Em Pedro sob a Cama o ator interpreta Mariano, personagem que retorna à cidade natal após mais de uma década, pois disposto a conhecer o filho que nunca viu pessoalmente. Figura que parece carregar o mundo nas costas, o protagonista do longa-metragem de Paulo Pons se alinha a outros atormentados que Fernando viveu anteriormente nas telonas. Ator pouco associado à televisão, Fernando explica na breve entrevista a seguir, concedida durante o Cine Ceará 2017, o que o leva a escolher um trabalho em detrimento do outro e como foi o percurso que o instigou a aceitar a função de linha de frente de um projeto pequeno, centrado na difícil aproximação entre um pai de passado carregado e seu filho que, inusitadamente, passa a montar acampamento embaixo da cama do desconhecido que ajudou a lhe dar a vida. Confira a entrevista exclusiva com Fernando Alves Pinto.
O Mariano parece carregar o mundo nas costas, aliás, semelhante à boa parte dos seus personagens de cinema. Como é o processo de construção de uma figura como essa?
Os personagens mais dolorosos acabam ficando marcantes, sobretudo porque você se identifica de alguma forma profunda. Se dói ali, nele, em você pode doer em certo lugar também bastante específico. Essa identificação acontece sobremaneira com esse tipo de personagem. Quando algo está se movendo, comove, acontece a empatia. Todos têm coisas capazes de mover. É um papo de empatia. Respondi? (risos).
Quais são os teus critérios para a escolha de um papel?
Olha cara, acho que tenho sorte. Escolhi não fazer alguns filmes, claro, preferi fingir que não tinham me chamado (risos), mas aceitei boa parte dos convites. Pedro sob a Cama eu coloco nessa conta da sorte. Não conhecia o Paulo, mas me comoveu bastante o roteiro. Além disso, simpatizei muito com ele na nossa primeira reunião. Assisti posteriormente ao seu primeiro filme e confesso que não gostei muito. Mas acabou que o processo foi ótimo, embora curto, porque foram apenas duas semanas. E ficou lindo. Então, voltando ao critério, acredito que a providência divina me ajuda muito. Quando comecei a carreira, me convidaram para fazer televisão. Na época eu morava nos Estados Unidos e televisão lá não era uma coisa que os atores faziam por livre e espontânea vontade. Quando voltei ao Brasil, a Globo me convidou para uns projetos e não aceitei. Os anos passaram e a verdade é que apenas com cinema não dava para pagar o aluguel (risos). Porém, o fato de não ser originalmente um ator de televisão faz com que os convites feitos a mim não sejam tão padronizados, e sim um pouco mais alternativas e ousados.
Como foi a interação com o Konstantinos Sarris, jovem ator que precisa desenvolver uma relação de proximidade com o Mariano?
O Konstantinos é super talentoso. Fiquei muito contente porque a Karine Teles, uma grande amiga, disse que tinha acabado de fazer um filme com ele e que estava felicíssima com seu desempenho – Nota da redação: o filme em questão é Benzinho (2018). Fiquei bastante contente, até porque a Karine é uma das pessoas mais aptas e criteriosas que conheço. Konstantinos é um moleque gente boa e talentoso. Engraçado, com alguns parceiros a gente fica tão à vontade em cena. Foi assim. Ele é realmente um achado do Paulo, vai muito longe, sem dúvida.
(Entrevista concedida, ao vivo, no Cine Ceará 2017)
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