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Exibido no Cine Ceará de 2017, Pedro sob a Cama está prestes a chegar ao público brasileiro, mas não como de costume, ou seja, nas salas de cinema. Ele terá uma estreia diretamente no Canal Brasil, nesta terça-feira, 15. De certa forma, tal percurso diz muito sobre o atual momento do circuito exibidor nacional, instância com cada vez menos espaços para produções de baixo custo, sobretudo as que não tenham passado por mecanismos de fomento que garantam, inclusive, a distribuição nas telonas. O cineasta gaúcho Paulo Pons, há muito radicado no Rio de Janeiro, demonstrava já no evento cearense a ciência dessa conjuntura que acaba restringindo determinados filmes, exatamente como a sua nova produção estrelada por Fernando Alves Pinto. Pedro sob a Cama foi filmado em Pedro Osório, cidade natal de Paulo, e conta a história de um menino que passa a se esconder embaixo da cama do pai quando este retorna para conhecê-lo. Conversamos com Paulo Pons durante o Cine Ceará e trazemos aqui esse breve bate-papo em função da iminente estreia do filme na televisão. Confira:

 

Como surgiu a ideia do filme?
Quem lida com criação, quem escreve, tem ideias o tempo inteiro. Trabalho especificamente quando acredito que vou rodar, ao realmente decidir que farei alguma coisa. Há 10 anos comecei um projeto de cinema com quatro histórias dentro de um único filme. Esse esboço de longa-metragem não se desenvolveu na época. Em 2016, depois de cinco anos parado, resolvi voltar a filmar e, procurando uma ideia, me lembrei de um núcleo desse filme de quatro histórias. Depois desse tempo todo, ele ainda me interessava de tal maneira que resolvi fazer um longa inteiro sobre ele. Foi tudo muito rápido. Em uma semana já tinha roteiro. Ao longo do desenvolvimento descobri que existiam outros valores, por exemplo, a relação com o irmão. Como escrevo dirijo e produzo, o progresso da história acontece durante todo o percurso. Dos filmes que realizei, esse é o que levou mais tempo para maturar.

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E como foi esse retorno à sua cidade natal, Pedro Osório?
Duas coisas. Primeiro, e menos importante nesse caso: filmar no interior é sempre melhor, pois ganha-se muitas coisas, como a energia da equipe, já que todos saem juntos de casa para um objetivo único. Segundo: você recebe ajuda da própria comunidade. Percebemos que as pessoas têm mais disposição em auxiliar, até porque estão longe de grandes centros de produção audiovisual. Terceiro, e mais relevante aqui: sou dessa cidade. Aí as coisas ganham outro significado. O criador trabalha integralmente com a memória. No meu primeiro filme, Vingança, rodei cinco minutos em Pedro Osório e foi tão bom. Soube que um dia ainda faria um longa-metragem lá. Inicialmente, o roteiro de Pedro sob a Cama se passava no Rio de Janeiro, mas assim que terminei o trabalho de escrita pensei que se ao menos conseguisse apoio de alimentação e hospedagem levaria a produção para Pedro Osório. E conseguimos. A coisa fluiu de uma forma tão bonita que filmei na metade do tempo que precisaria para fazer no Rio de Janeiro. A casa onde o Pedro passa a morar com o pai é a mesma em que vivi até os meus 18 anos. Brinquei naquele piso em que o Pedro brinca. Então todos esses elementos agregam à emoção do diretor. Foi um processo muito especial.

 

E como o Fernando Alves Pinto embarcou no projeto?
O Fernando é o melhor ator de cinema que já conheci. Há algum tempo já pensava em trabalhar com ele. Acompanha seu trabalho desde antes de começar a fazer filmes. Ele foi a primeira escolha para o papel. A nossa dúvida era se Fernando se interessaria pelo filme, porque se trata do tipo de artista que precisa se apaixonar pelo roteiro, senão nada feito. Não há dinheiro que o convença a fazer algo. A história do Pedro acabou o cativando. Nos encontramos numa tarde em Porto Alegre. Expliquei as condições, falei que não tínhamos grana, e ele topou na hora, deixando para depois questões de ordem prática. Recebemos, inclusive, o presente de poder contar com a Letícia Sabatella, sua esposa. Eles comemoraram aniversário de casamento durante as filmagens.

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Como você encara a importância dos festivais para a difusão de longas com menor orçamento?
Para maioria dos filmes, é realmente a única chance de conseguir chegar a uma audiência específica, que não seja a composta de amigos e parentes. Um filme como nosso, independente, sem grandes aportes de dinheiro, se beneficia dos circuitos de festivais, pois eles acabam sendo uma janela preciosa, além de um momento imprescindível para que se discuta cinema. Isso é incrível. Uma pena que o mecanismo da sala de cinema tradicional esteja acabando. Temos de explorar as formas novas, tipo Netflix ou outros que vierem. Sinceramente, não tenho nem a expectativa de colocar o Pedro sob a Cama no cinema.

 

(Entrevista feita, ao vivo, no Cine Ceará 2017)

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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