O primeiro crédito no cinema de Marília – ou apenas Miá – Mello no cinema foi como “Ex-Namorada 2”, na comédia Cilada.com (2011). De lá para cá se passaram apenas cinco anos, mas a situação mudou bastante para essa paulistana formada em publicidade que decidiu largar tudo para estudar atuação. A aposta arriscada parece ter dado certo, tanto que depois de estrelar como protagonista dois campeões de bilheteria – Meu Passado Me Condena (2013) e sua continuação Meu Passado Me Condena 2 (2015), que juntos levaram mais de 5 milhões de pessoas aos cinemas em todo o Brasil – ela agora marca presença em nada menos do que quatro filmes em 2016! E depois de ter namorado o ator e diretor Carlos Alberto Riccelli em Amor em Sampa e traído a melhor amiga em Uma Loucura de Mulher, ela agora surge como a grande novidade no elenco de Carrossel 2: O Sumiço de Maria Joaquina, uma das maiores apostas de público do ano. E tem mais Miá Mello vindo por aí neste ano. Confira a seguir a conversa inédita e exclusiva que tivemos com a atriz na última semana!
Miá, como surgiu o convite para você participar de Carrossel 2?
Foi uma situação bem curiosa, preciso confessar. Tinha recém voltado das férias, em janeiro, quando o pessoal da Paris Filmes me ligou para fazer a Didi Mel. E o mais engraçado é que recém tinha visto o primeiro Carrossel (2015) com a minha filha, e vi o quanto ela tinha gostado, como o filme era eficiente em se comunicar com esse público. Então, quando veio esse convite, falei na hora: “lógico”! Imagina, era a chance que eu estava esperando para ser a Rainha aqui de casa (risos). Mas depois, quando veio o roteiro e comecei a entender a personagem, é que me dei conta que talvez o resultado não fosse tão bom assim… Mas isso até me estimulou, sabe? Conversei bastante com a minha filha a respeito, expliquei o que eu faço como profissão, que é tudo uma ilusão, o que ser um personagem, que na verdade tudo é uma grande brincadeira. Mas é claro que estou bem curiosa quanto à resposta do público. Fico me perguntando: “será que vão gostar?” Será que vão entender as motivações da Didi Mel? Na real, acho que não corro risco de rejeição, afinal ela nem é tão má assim, é mais caricata em sua maldade. Só espero que não fiquem com raiva de mim (risos)!
Como foi entrar em um filme de sucesso? Foi difícil “ser a novata no time”?
Ah, isso é algo que sempre dá um fio na barriga, mas eles foram muito generosos comigo. A Rosanne Mulholland, que faz a Professora Helena, é a típica menina linda, super talentosa, e muito generosa! E ela podia ser super nariz em pé, pois aquele é o universo dela, fez parte desde o início e a presença dela é fundamental para o sucesso de todo esse projeto. Mas, pelo contrário, ela foi um amor comigo! A gente fez uma parceria muito forte no filme, cada cena que a gente dividia era um grande prazer. Mas a Didi fica quase que observando tudo à distância, ela que planeja tudo que acontece, e por isso nem sempre estive no centro da ação. Por isso chegou até a me pena de não ter mais cenas com as crianças O Paulo Miklos, por exemplo, amei filmar com ele, mas tivemos apenas uma ou duas cenas no filme! A Rosanne teve o papel mais fundamental, está há quase dois anos seguidos com os meninos, então o entrosamento entre eles era maior, claro. Mas isso foi muito legal também, pois para eles bastava ser amiga da Rosanne para ser deles também! Ela foi quase como uma mediadora, intermediando a minha chegada na turma, e isso foi muito legal! E assim, aos poucos, fomos conquistando essa confiança mútua, tanto eles comigo como eu com cada um deles.
Carrossel 2 é o seu terceiro filme nesse ano. Esse foco maior voltado ao cinema faz parte de uma estratégia de carreira?
Na verdade, faz parte dos ‘nãos’ que você vai dando na vida. Até apareceram alguns projetos de televisão, mas nada que me fizesse sentir desafiada, então acabei recusando. Fui falando alguns ‘nãos’ aqui e ali, e isso, quase sem me dar conta, acabou me levando para o cinema. Uma Loucura de Mulher foi uma parceria com a Mariana Ximenes, e ela é fantástica só por essa oportunidade já valeu a pena! É engraçado, porque ela é uma grande estrela, mas é também muito CDF, super entregue ao papel! Foi um grande exemplo, pois é o tipo de parceria que busco em cena. Não é à toa que o Fábio (Porchat) é meu par ideal, pois ele é bem assim, também! E ainda tem o Um Namorado para Minha Mulher, que filmei nesse ano e que deve sair em breve. Vi o primeiro trailer ontem, achei muito legal! E estou dessa vez ao lado da Ingrid Guimarães, que é outra atriz que admiro muito, então já valeu. Sem falar que foi mais uma parceria com a Julia Rezende, nossa diretora do Meu Passado Me Condena! Com a Júlia é assim, se ela me diz “Miá, vamos?”, Eu vou na hora, nem pergunto pra onde!
Como o Meu Passado Me Condena entrou na tua vida?
Então, a gente se conheceu quando veio o convite para fazer a série de tevê, no Multishow. Já tínhamos nos visto uma ou duas vezes, tanto com a Julia como com o Fábio, havia essa vontade de trabalharmos juntos, mas até então, nada. Foi o Fábio que me indicou, o Multishow gostou da ideia e me recomendou para a Julia, e não é que deu tudo certo? Duas temporadas de séries, dois filmes, dois anos no teatro! Temos uma química muito grande, e essa parceria traz uma mágica para o que estamos fazendo! A gente se dá muito bem, temos um modo de trabalhar muito parecido, então funciona. Ele é do trabalho, vai atrás, se empenha, é comprometido, está sempre interessado em fazer melhor, não se acomoda. Acho que é tipo ter uma irmão mais velho, que está sempre cuidando de você, sabe? Um cara no qual estou o tempo inteiro ligada, e mesmo separados a gente está atento ao outro. Cada vez que saímos desse conforto que a nossa parceria proporciona, percebemos os frutos que recebemos, pois estamos mais preparados para qualquer tipo de desafio. Para ter uma ideia, outro dia recebi um e-mail da Paris Filmes comentando o quanto estavam felizes com o meu trabalho. E o Um Namorado para Minha Mulher também é da mesma distribuidora! Ou seja, uma coisa leva à outra, o que é muito legal, é reflexo de um trabalho sério, e isso é o que mais me dá alegria! Faz parte dessa seriedade como encaro cada nova oportunidade que me é oferecida.
Voltando a Carrossel 2, sua personagem guarda uma das maiores surpresas da trama. Houve alguma preocupação em assumir um personagem que pode gerar tanta controvérsia?
Desde o começo fui explicando a quem me perguntava a respeito que ia fazer a vilã, mas que não seria algo óbvio. Tive longas conversas com a minha filha, pois ela tem apenas sete anos, queria que ela estivesse preparada. Fizemos uma preparação muito interessante com o Michel Dubret, que é discípulo da Fatima Toledo, e se encarregou de dar essa atenção maior ao elenco, com muito amor e carinho, sem a parte violenta do método. Foi fundamental, pois mesmo sendo um filme infantil, tudo foi levado muito a sério. Houve um trabalho de corpo, de resgate dessa raiva, desse rancor que a personagem sente, e isso se manifesta de todos os jeitos, não apenas nas ações e nos diálogos, mas também através da postura corporal, como anda uma pessoa tão egocêntrica, por exemplo. Tive que aprender a caminhar, pois sou o tipo de garota que por pouco não peço licença até para andar na rua, e para compor essa personagem precisei criar um olhar bem altivo, algo que não tenho, não faz parte de mim. Então, tive que tirar tudo isso que me tranca e criar algo novo, acima de tudo. Depois, no set, incorporando o fato de que estávamos em um filme infantil, vamos aos poucos indo para o lado mais caricato de cada situação. Até mesmo no humor, primeiro fazemos uso da verdade, e depois brinco com os exageros.
Você tem presença constante nas comédias nacionais, ao menos no cinema. Tens interesse em explorar outras possibilidades ou prefere se focar mesmo nesse gênero?
Com certeza tenho vontade de fazer outras coisas. Mas, se me pergunta, brigo com quem acha o humor um gênero menor. Afinal, é algo que exige muita inteligência, está ligado à sagacidade de cada um, está longe de ser algo fácil de se fazer. Fico muito honrada em fazer parte disso. Porém, é claro, quero fazer cada vez mais um personagem diferente um do outro. Sou uma atriz, não uma comediante. A Didi Mel, por exemplo, é bem diferente de tudo que já havia feito, um personagem e tanto, que me deixou muito feliz! Levei super a sério esse compromisso! Sempre considero isso, a importância que o personagem tem pra mim. Se chego à conclusão de que não vai me levar a lugar nenhum, se não me dá prazer, então caio fora. Pois é isso que busco, esses desafios.
Durante as filmagens, como foi se manter como Didi Mel?
Pois então, foi doloroso. Porque via eles se divertindo, e tinha que me manter à distância, não podia esquecer das motivações da personagem. Então preferi não me misturar muito, até para que eles sentissem esse distanciamento e levassem para a história. Mas desde o primeiro dia, quando cheguei no set, me receberam tão bem, começaram a gritar, fizeram festa! Não acreditei! Fiquei muito feliz! Já acompanhavam a carreira de vários, então foi emocionante para mim também. Ao mesmo tempo, tive que construir uma pessoa não agradável, que eles até gostavam, mas eu precisava manter uma linha, sem me envolver muito. Foi difícil, mas acho que acabou funcionando.
Você já havia participado de um set com tantas crianças?
Eu sei que se divertiram muito, mas, infelizmente, não filmei muito com eles. A Rosanne tinha mais contato. Fiquei impressionadíssima com o profissionalismo deles. Ao menos comigo, pois não tivemos tantas cenas juntos, não teve isso de bagunça! São crianças que com 11, 12 anos, são bem mais profissionais do que muito adulto que conheço! São comprometidos e profissionais como qualquer outro ator! Eu, nessa idade, tava brincando de bola no pátio! E ali tinham uns que saíam das filmagens e iam pra outro trabalho, com agenda cheia, era impressionante. Não eram crianças que davam trabalho no set, muito pelo contrário. No último dia de gravação, por exemplo, me aproximei mais deles, pois a malvada já havia ficado para trás, e falamos sobre sonhos, e isso me emocionou muito. Sabe, eles tem zero deslumbrado, com sonhos muito bonitos, coisas reais. Querem viajar, aprender uma nova língua, estão todos ali batalhando como qualquer um de nós.
(Entrevista feita por telefone direto de São Paulo em 11 de julho de 2016)