Vivendo Helena, uma jovem defensora pública da cidade de Santos, a atriz Rita Batata protagoniza De Menor, longa da paulistana Caru Alves de Souza que vem angariando elogios por onde passa. E um dos pontos mais mencionados como essencial ao êxito do filme é justamente o desempenho de Rita, tanto no que diz respeito à faceta profissional quanto no que tange à esfera pessoal de sua personagem, principalmente na complexa relação com o irmão interpretado por Giovanni Gallo. O Papo de Cinema conversou com exclusividade com a atriz, para saber como foi o processo de construção de Helena e entender sua visão a respeito das questões sociais que De Menor aborda. Confira.
De que maneira De Menor surgiu na sua carreira?
Eu já tinha filmado com a Caru o curta O Mundo de Ulim e Oilut. Eu não sabia, mas naquela época ela já estava preparando o De Menor e (Caru me contou recentemente) desde o curta ela estava me “sondando” para talvez estar no longa. Fiz os testes para a personagem, a Caru tinha a difícil missão de achar essa dupla de atores que tivessem características físicas para serem irmãos e que também tivessem espontaneamente uma afinidade cênica, o que aconteceu quando fiz o teste junto com o Giovanni Gallo. Simbolicamente esse papel chegou para mim no momento em que eu completava 10 anos de carreira, já que filmamos em 2012 e eu comecei a trabalhar com 16 anos. Uma personagem com essa dimensão dramática e um filme conduzido por uma diretora generosa como a Caru, não é algo que bate à porta todo dia! Quando li o roteiro, fiquei muito feliz, me identifico com maneira que ele conduz a narrativa, De Menor é um trabalho que tenho grande afeto e carinho.
Você fez algum tipo de laboratório para viver Helena?
No filme a personagem tinha dois focos principais, a relação com o Caio na sua vida íntima, e sua vida profissional como defensora pública na Vara da Infância e Juventude. Eu pude fazer laboratório no Fórum de Santos, que foi fundamental para me inserir nesse universo. Assisti algumas audiências e tive o auxílio do advogado Thiago Souza, da Defensoria Pública do Fórum de Santos que, além de me ajudar com todos os termos técnicos, me permitiu observar a relação diária que ele desenvolve com os menores e seus familiares. Também foi muito enriquecedor observar as relações entre a promotoria, a defensoria e o juiz. Profissionalmente existe um distanciamento entre eles, mas são pessoas que estão ali todos os dias cuidando de outros seres humanos, diante de situações extremamente delicadas. No primeiro dia de audiências que eu assisti, voltei exausta para casa, eram diversos casos, mas em geral todos jovens em situação de risco, famílias desestruturadas, seres humanos à margem da sociedade, privados de educação e direitos básicos. Toda essa experiência foi construindo a espinha dorsal da Helena no âmbito profissional, já a relação com Caio é o estofo emocional da personagem. Tivemos a preparação de elenco da Marina Medeiros, com o Giovanni Gallo fomos construindo em sala de ensaio a relação dos personagens, mas desde sempre tivemos uma identificação pessoal. Tenho muito afeto pelo Giovanni, é um grande talento e se entregou ao personagem sem ressalvas. Outro ponto decisivo no filme, é Santos! Essa história se passa numa cidade praiana, a relação física é totalmente diferente de uma cidade urbana. O clima é quente e abafado, o corpo fica mais exposto, as roupas são mais leves, sensorialmente essa característica define muito a atitude dos personagens.
Sua personagem em De Menor é uma defensora em meio ao sistema judiciário que tende a ser carcerário e não reabilitador. Como vê essa situação na realidade?
Sinto que eu não tenho o conhecimento necessário para falar desse assunto com propriedade. Mas, do pouco que pude conviver com essa realidade, minha percepção é de que a criança ou adolescente que se encontra em conflito com a lei, necessita de cuidados básicos e, sem dúvida, o sistema que deveria acolher esse menor é muito precário e não oferece uma abordagem de ressocialização eficiente.
Acredita que o público, principalmente aquele mais ligado à tese de que “bandido bom é bandido morto”, ou seja, completamente contrário à sua personagem, vai aderir ao filme?
Para mim o filme fala de amor ao abordar a história da Helena com o Caio, não acho que ele aborda diretamente a questão da criminalidade. Nesse momento em que a questão da redução da maioridade penal está tão pulsante, o filme colabora para esse debate abordando a questão indiretamente, podendo sensibilizar o olhar da sociedade para essa questão que é tão frágil e que merece atenção e cautela
(Entrevista concedida por e-mail no Rio de Janeiro em Setembro de 2014)
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