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Atuando desde os nove anos de idade, Marina Ruy Barbosa virou um rosto conhecido dos brasileiros. Mais que isso. Se tornou bastante familiar de todos, pois as plateias do teatro e os telespectadores literalmente testemunharam o seu crescimento físico e profissional. A menina se transformou em mulher, uma atriz de tarimba que agora começa a dar seus primeiros passos no cinema. Em Sequestro Relâmpago, novo longa-metragem de Tata Amaral, ela interpreta Isabel, garota que passa uma madrugada inteira sequestrada por dois bandidos com os quais se identifica de maneiras insuspeitas. Conversamos com Marina durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde o filme teve sua première, antes de chegar às salas de cinema no dia 22. Atrasada pelo trânsito da capital paulista, ela nos atendeu com a simpatia que lhe é peculiar, respondendo atentamente aos questionamentos e demonstrando claramente o orgulho de dar vida a essa figura atravessada por brutalidades concernentes à desigualdade social brasileira. Sem mais delongas, confira o nosso Papo de Cinema exclusivo com Marina Ruy Barbosa.

 

Como foi para você esse processo de construção de uma personagem que passa praticamente o filme inteiro com um alto nível de tensão?
Embora ela passe realmente o tempo inteiro tensa, há momentos de descontração, de tentar criar uma dinâmica de igual para igual, como se os três estivessem no mesmo barco. Se não fosse aquela situação, eles poderiam se dar bem. Acho a Isabel tão interessante e complexa. Mesmo naquele caos que ela está vivendo, encontra possibilidades de diálogo com os dois sequestradores. De alguma forma, se identifica, especificamente, com a dor deles. Claro que são circunstâncias e realidades diferentes, mas também há problemas relacionados à família. Os dois acham que a vida dela é perfeita. Foi um processo muito interessante encontrar os tons. A Fátima Toledo (preparadora do elenco) ajudou a acessar esses lugares de tensão. Amei trabalhar com ela. Adorei esse processo, que foi mega necessário.

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Imagino que tenha sido realmente um processo enriquecedor para você…
Durante a preparação, me vi em situações de extrema fragilidade e impotência, aliás, como toda mulher experimenta. Nesse filme, falamos sobre a violência de maneira forte. Essa jovem é resistente, pode dar a volta por cima, possui certo jogo de cintura. No sequestro há dois caras que não sabem exatamente o que estão fazendo. Eles não são necessariamente profissionais naquilo, então o risco é bem maior. A Isabel está lidando igualmente com destempero daqueles dois. Foi bom encontrar essa força, essa voz absolutamente feminina.

 

Ao ler o roteiro, o que te fez aceitar o papel, tendo em vista a sua agenda cada vez mais apertada?
Sou muito viciada em trabalho. Claro, sei dizer não ao que pouco tem a ver comigo, ou a algo que não me satisfaz como atriz, que provavelmente não me dará orgulho. Quando você tem uma equipe em quem confiar, como a Tata Amaral, a Fátima Toledo, o Guel Arraes, que aqui é coprodutor, as coisas ficam mais simples. Eu estava cercada de pessoas admiráveis e de confiança. Tinha muita vontade de fazer cinema. Não gosto de me acomodar. Defendo o fazer televisão, até porque é difícil para caramba, embora muita gente subestime. Gravamos 30 ou 40 cenas por dia, durante oito meses, sem saber o que vai acontecer. Então, na televisão é basicamente se jogar no escuro.

 

Já no cinema…
Filmes são obras fechadas, com começo, meio e fim. Isso ajuda a construir o personagem, a desenvolver uma curva para ele, algo que a televisão não te dá. Eu queria demais me desafiar, sair de uma tela e ir para uma telona e ver como seria. Tudo isso me levou a escolher o papel nesse longa-metragem brasileiro de qualidade, que não tem grande orçamento. Tenho bastante orgulho dele. O filme passa uma mensagem bacana e tem um sentido de existir.

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Como figura midiática, você tem noção da responsabilidade que recai sobre seus ombros, inclusive de atrair público para um filme relativamente pequeno como esse?
Todo trabalho que faço é por estar muito amarradona. Vivo isso desde os meus nove anos, com ótimas oportunidades. Sou feliz por descobrir tão nova o que queria fazer na vida. Me sinto responsável, aliás, cada vez mais, por tudo que faço e digo, pelas coisas nas quais me envolvo. Não pode ser tão vaidosa. Cada trabalho aceito é uma nova responsabilidade, aumenta o número de pessoas incluídas, há mais gente prestando atenção. Portanto, quero dar o meu melhor. Quero motivar as pessoas a saírem de casa para ir ao cinema. É necessário prestigiar a produção nacional. Importante saber administrar o tempo e fazer um pouquinho de cada coisa. Quero continuar nas minhas novelas e séries, mas não vou deixar o cinema de lado, porque fiquei apaixonada. Estou buscando o meu lugar no mundo, tentando me entender como atriz, cidadã e mulher. Vivo em constante inquietude.

 

(Entrevista concedida ao vivo, em outubro de 2018, na cidade de São Paulo)

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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