A mostra Panorama Alemão 2013 percorreu quatro capitais brasileiras e segue em Porto Alegre, sua última parada, até a quinta-feira, dia 28 de novembro. Entre os dez longas e seis curtas-metragens que fazem parte da mostra, um dos destaques é Queda Livre (2013), dirigido por Stephan Lacant. Selecionado para a mostra oficial do Festival Internacional de Cinema de Berlim, o filme conta a história de um policial, pai de família, que se apaixona por um colega de trabalho. O elenco traz nos papéis principais os atores Hanno Koffler e Max Riemelt. E aproveitando a exibição do longa pelo Brasil – onde ainda não possui previsão de estreia no circuito comercial – o Papo de Cinema conversou com o diretor Stephan Lacant. Confira!
De onde você tirou a inspiração para a história de Queda Livre?
A história começou quando conheci meu co-autor, Karsten Dahlem, que era policial antes de se tornar roteirista e diretor. Ele me contou sobre suas experiências durante seu tempo nessa área profissional tão masculina. Os maus tratos com homossexuais faziam parte dessas experiências – um tema que realmente me interessa. Então, durante os três anos que levamos para escrever o roteiro, o foco da história mudou mais e mais, até se tornar um triângulo amoroso – Marc, dividido entre sua mulher grávida, Bettina, e seu colega, Kay.
Antes de Queda Livre você dirigiu curtas-metragens, documentários, filmes para TV e um longa-metragem, Fireflies (2006). Como esses trabalhos anteriores ajudaram a construir esse novo filme?
É difícil descrever. Cada filme foi bastante diferente e teve sua própria atmosfera e tonalidade. Mas quando vejo meus trabalhos anteriores, penso que fazem parte de uma evolução para simplificar os meios fílmicos e concentrar mais nos atores. E também no roteiro. Claro que a trama é importante para fazer a história andar, mas meu principal interesse está no desenvolvimento do personagem e em tentar chegar em algum tipo de âmago.
Queda Livre foi selecionado para o Festival de Berlim e foi exibido e premiado em diversos festivais. Como você considera essa recepção tão positiva ao filme?
É claro que é uma sensação ótima depois de tantos anos de trabalho árduo que as pessoas gostem do filme. E ele tem feito sucesso em salas de cinema, o que me deixa muito feliz, porque filmes dramáticos de arte normalmente não se dão muito bem nas bilheterias.
Você conhece o cinema brasileiro? Quais filmes já viu? O que achou deles?
Os que consigo lembrar agora são, por exemplo, Central do Brasil (1998) e, claro, Cidade de Deus (2002). Um filme brilhante. Lembro que fiquei completamente absorto quando saí do cinema depois de ver pela primeira vez. Um verdadeiro marco na história do cinema.
A temática gay ainda é acanhada no cinema brasileiro. Como ela é abordada em produções alemãs?
Não sei o quão grave essa questão é no Brasil, mas na Alemanha ainda é um problema – não apenas em áreas de dominação masculina, como o futebol, o exército, a polícia. Durante o desenvolvimento do roteiro, nós também fizemos muita pesquisa fora do corpo policial e descobrimos que a nossa chamada “sociedade liberal europeia” não é tão liberal no fim das contas em relação a homossexualidade. Mas, felizmente, nossos produtores Daniel Reich e Christoph Holthof encontraram parceiros corajosos para financiar o filme.
Você pretende continuar trabalhando com histórias que envolvem a homossexualidade nos seus próximos trabalhos? É um tema que lhe atrai?
Até agora não tenho um novo projeto que envolva homossexualidade. O assunto do meu próximo filme é religião. Em Queda Livre também era importante para mim, desde o começo, tentar deixar de lado esse pensamento estereotipado de categorias como “homossexual e heterossexual” – para mim, acima de tudo, o filme é uma história de amor. Nosso protagonista se apaixona por outra pessoa e termos como gay ou heterossexual não deveriam importar.
Como foi a escolha do elenco de Queda Livre? Como os atores encararam a responsabilidade de interpretar esses papéis com tanta paixão?
Foi claro desde o começo que Queda Livre seria um “filme de atores” e encontrar o elenco certo é absolutamente crucial para o filme funcionar. Então tivemos um longo processo de escolha para encontrar os atores certos para interpretarem os protagonistas. Depois de escolhermos Hanno Koffler para o papel principal, tentamos vários tipos de atores e ficamos muito felizes quando finalmente encontramos Max e Katharina para interpretarem Kay e Bettina. O entrosamento entre eles foi tão intenso que para os produtores e para mim ficou muito claro que com esses três atores nós havíamos encontrado o elenco perfeito. Eu fico muito feliz por ter trabalhado com atores tão talentosos e apaixonados.
(Entrevista feita por email desde Berlim em Novembro de 2013)
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Queda livre não é um filme necessariamente gay. Fala do amor que também pode ser entre dois homens. Filme lindo, atores perfeitos, pena o final não ser feliz. Mas nem tudo é perfeito. Parabéns !
realmente o trabalho do elenco de atores é perfeito: intimidade, sentimentos, emoções, conflitos, suspense, tudo é exprimido profundamente e realisticamente, e o pulso do filme tb é perfeito: o roteiro respeita os tempos e o desenrolar de uma história prototípica, tudo fala tb de uma ótima direção... Parabéns para o cinema alemão!