Estrela da primeira série 100% brasileira desenvolvida pela plataforma de streaming Netflix – 3%, lançada em 2016 e com segunda temporada confirmada para 2018 – Bianca Comparato começou a fazer sucesso muito cedo: estreou direto no horário nobre da maior emissora nacional – sua primeira novela, já na Rede Globo, foi Senhora do Destino (2005), quando tinha apenas 20 anos. De lá para cá vieram outros projetos de sucesso na televisão e também no cinema – de Anjos do Sol (2006), longa premiado no Festival de Gramado, até Irmã Dulce (2014), em que interpretou a protagonista durante a sua juventude, cada personagem que defendeu representou um desafio diferente, compondo uma das filmografias mais interessantes dos jovens talentos nascidos no país. E agora ela está de volta às telas, ao lado de Johnny Massaro, na comédia (não muito) romântica Todas as Razões para Esquecer, trabalho de estreia do diretor Pedro Coutinho. E foi sobre esse trabalho que a atriz, direto dos Estados Unidos, conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!
O que lhe atraiu no convite para fazer Todas as Razões para Esquecer?
Quando o Pedro falou comigo e me fez o convite, a primeira coisa que fiz foi ler o roteiro. Esse é sempre o primeiro passo. E aconteceu que fiquei muito impressionada com a qualidade do roteiro que ele tinha escrito. Com os diálogos, principalmente. O trabalho do Pedro estava muito bem amarrado, havia uma qualidade na escrita que me causou uma impressão muito boa, me transmitiu segurança, entende? Senti que era algo que eu deveria fazer parte. Ao mesmo tempo, ele havia conseguido conciliar situações tristes e engraçados, com passagens divertidas e, paradoxalmente, também melancólicas. Estava tudo ali, no papel, apenas com a leitura me senti capaz de visualizar o filme por completo. Estava tudo muito bem expressado. E é muito raro quando isso acontece. Por isso, não poderia deixar passar essa oportunidade.
Como foi para você lidar com um papel que foge ao lugar comum. A Sofia, afinal, é uma personagem que poderia facilmente cair na antipatia, pois é quase a vilã da história?
Isso é algo muito engraçado, não é verdade? Já me disseram isso antes, mas, naquele momento, não chegou a passar pela minha cabeça em nenhum momento. Nunca a vi como uma ‘vilã’, por exemplo. Afinal, é uma relação de duas pessoas, os dois são responsáveis por ter terminado daquele jeito. E, acima de tudo, estamos falando de uma relação de amor super humana, muito delicada, com carinho de ambos os lados. Ninguém é responsável sozinho pelo “erro”, portanto. São coisas da vida, não há maldades dela ou dele. O legal é que a mensagem que o filme tenta transmitir é de crescimento, de amadurecimento de ambos os lados. A transformação que ele passa, principalmente, pois o foco do filme é no personagem masculino, é feita com muita sensibilidade. No meu ponto de vista, essa é a melhor coisa do roteiro.
Como foi ter o Johnny Massaro como parceiro de cena?
Ah, o Johnny… eu amo trabalhar com ele. A gente já se conhecia, aliás, antes desse filme. Fizemos um clipe junto, banda Alagoas, chamado 1981 (2015). Foi quando nos conhecemos. E nesse videoclipe, que é praticamente um curta-metragem, pois tem mais de 10 minutos e uma estrutura bem cinematográfica, já éramos um casal. Então ficou um gostinho de quero mais. Por isso ficamos super amigos de imediato com o convite para esse filme. Nem pensei duas vezes. O Johnny é um ator super talentoso, generoso, ainda muito jovem mas com um grande talento.
E atuar sob o comando do diretor Pedro Coutinho, como foi?
Ele foi muito seguro. Uma coisa muito legal que ele fez foi ensaiar antes. E isso só foi possível pois sabia exatamente o que queria e o que buscar em nós, os atores. É um estilo de trabalho que cai bem com o meu perfil de trabalho. Ele, a cada cena, começava propondo uma discussão antes, tudo muito racional, e partir das trocas entre nós íamos lapidando o texto junto. Depois partíamos para exercícios, e daí é que levantava a atuação. Ou seja, não era do nada, tudo era muito pensado com antecedência. Tivemos muitas afinidades. Ele é muito tranquilo. Foi tudo feito com pouco dinheiro, pouco tempo, mas muito divertido e prazeroso.
Você já ouviu história de gente que passou por situações semelhantes às que vemos no filme? Afinal, é mais difícil dar ou levar um fora?
Tive dois términos intensos. Então, a minha própria experiência foi suficiente para construir a Sofia. No entanto, acho que no final do dia não é uma questão de dar ou levar o fora. Afinal, mesmo quem verbaliza o problema que há no casal, não é somente um o culpado. É um negócio que já estava ruim para os dois. O Antônio, personagem do Johnny, se culpa muito, durante boa parte do filme, por não ter tomado uma atitude, apesar de ter sido a Sofia que decidiu terminar. É muito mais complexo do que apenas apontar culpados. E, no final das contas, é ruim para todo mundo. Mas também necessário, quando não há outra solução.
Você chegar a conferir alguma exibição do filme? Como o público tem reagido? O que espera agora com a estreia de Todas as Razões para Esquecer?
Tive na sessão de estreia, tanto na Mostra de São Paulo como no Festival do Rio, e ambas estavam lotadas. Foi muito bonito. É um filme que tem me impressionado muito. E isso a gente percebe principalmente nas redes sociais, com retornos, comentários, tudo muito bacana. Não há tantos filmes iguais a esse sendo feitos no Brasil. É uma comedia romântica de baixo orçamento, um modelo de cinema que combina com o sistema independente norte-americano, ou com as produções argentinas, pois é muito apoiada no roteiro e na direção de atores. Enfim, to bem impressionada com o resultado. Mas é aquela coisa, sabemos que é um azarão, fora da curva das opções mais populares. E, mesmo assim, o povo tá curtindo. Afinal, quem não consegue se relacionar com temas como esses?
E o que pode nos adiantar sobre teus próximos projetos?
Pois então, vou lançar mais três longas ainda nesse ano. É muita coisa, ao menos parece, falando desse jeito. Mas eles foram todos produzidos no decorrer dos últimos três ou quatro anos. Cinema é uma coisa demorada, tudo leva muito tempo, então deu essa coincidência deles saírem agora, quase que ao mesmo tempo. O primeiro, após o Todas as Razões para Esquecer, deve ser o Talvez uma História de Amor (2018), com o Mateus Solano, que tem uma pegada bem semelhante, também é uma comédia romântica. Depois deve vir a cinebiografia do Erasmo Carlos, que vai se chamar Minha Fama de Mau (2018) e tem o Chay Suede como protagonista. E por fim tem o Morto não Fala (2018), que é de terror, é outra história. É o primeiro filme do Dennison Ramalho, um cara que já fez vários curtas, é super premiado e super ligado no gênero. Este tem um elenco bacana, também, com o Daniel de Oliveira, Fabiula Nascimento e Marco Ricca, além de mim, é claro. Foram todos filmados nos últimos anos. Ou seja, vai ter Bianca Comparato para todos os gostos nos próximos meses (risos).
(Entrevista feita por telefone na conexão Brasil/Estados Unidos em fevereiro de 2018)
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