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Uma Carta para Ferdinand :: “É bacana quando se faz um filme que tenha a ver com a História do seu país”, celebra Cristiana Oliveira

Publicado por
Francisco Russo

Cristiana Oliveira nunca foi de fazer muito cinema, como ela própria admite. Apenas nos últimos anos é que foi enfim mordida pela sétima arte, emendando um filme atrás de outro, dos mais variados estilos. A partir de 25 de junho será a vez da comédia de fundo histórico Uma Carta para Ferdinand enfim chegar ao público, via streaming, em uma trajetória diferente do planejado mas trilhada devido à pandemia de COVID-19.

Nesta entrevista, Cristiana traz detalhes sobre Mela, uma personagem que, por mais que tenha poucas cenas, foi criada especificamente para a atriz. Confira!

Como surgiu o convite para atuar em Uma Carta para Ferdinand?
O Fábio Cabral (diretor do filme) é meu amigo há anos e logo quando me convidou já me interessei, porque sou uma pessoa completamente apaixonada por História. No que diz respeito ao meu país, já me interesso. Não conhecia propriamente a história da Francisca, mas conhecia a do príncipe, filho do rei Luís Felipe, que teve uns casos muito engraçados quando veio visitar Dom Pedro I. Tem toda uma história que ele seria apaixonado por uma cortesã na França, mas aí veio para o Brasil e acabou casando por interesse, com a dona Francisca, e deu estas 25 léguas de terreno em Joinville.

Já conhecia mais ou menos a história deles, mas não a de Joinville. Então o Fábio me disse que iria enviar o roteiro, achei super engraçado. Foi quando ele me disse que havia uma personagem que seria citada apenas, mas achava que poderíamos fazer umas cenas legais comigo. Tem todo um lado lúdico, de uma paixão que foi platônica para o Frederico [Bruestlein]. Eu não iria participar muito, mas seria uma participação especial. Claro, fui lá e gravei em dois dias. Foi muito legal porque já havia ido a Joinville, mas não havia reparado na riqueza cultural que a cidade tem. É bacana quando se faz um filme que tenha a ver com a História do seu país.

 

Então foi uma participação especialíssima! Se era uma personagem que apenas seria citada, ela se materializou no filme apenas para que você a interpretasse.
Na verdade, foi uma homenagem. A Mela seria só citada, mas o Fábio achou que deveria dar uma atenção maior a ela, até para mostrar o lado mais romântico do Frederico. Antes seria apenas a história dele com o Tonico, que é o personagem do Ferrugem, uma coisa que tinha a ver com a História mas ao mesmo tempo tinha mais a ver com este lado engraçado, essa coisa do passado aparecer no presente. Tem outra coisa interessante, que no cemitério de lá estão enterrados o Frederico, a Mela e o marido dela. O mais engraçado é que os três estão enterrados juntos.

 

Dona Flor e seus dois maridos total, ou quase.
Exatamente! Mas não existe qualquer prova de que eles tiveram algum affair ou algo do tipo, foi só platônico. Aí tem uma parte do filme super bonita, que é quando o Frederico traz pro presente uma carta que ele não teve coragem de entregar quando ela era viva, então ele vai ao cemitério para deixar esta carta em cima do túmulo dela. Isso na ficção, claro!

Cristiana Oliveira e Clemente Viscaíno, intérprete de Frederico Bruestlein

 

Uma Carta para Ferdinand inicialmente iria para o cinema, o filme chegou a ter pré-estreia em Joinville, mas por causa da pandemia acabou migrando para o streaming. Você acredita que isto será benéfico ao filme?
Fico muito feliz que o filme vá agora para o streaming, ainda mais neste momento em que as pessoas não estão podendo ir aos cinemas. Não sei dizer se será benéfico, pois não sei dizer como será o futuro próximo do Brasil neste quesito público, como teatro, cinema, espetáculo, shows. Esta foi uma decisão tomada para que não ficasse sem data de lançamento. Como já houve a pré-estreia, talvez ficasse uma coisa esquisita se demorasse muito tempo para lançar.

Por exemplo, fiz um filme há dois anos, uma comédia com o Rodrigo Sant’anna, Os Suburbanos: O Filme. É a história que precede a série de TV. Fizemos e era para ser lançado no mesmo ano, aí veio a crise da cultura, a Ancine teve milhões de problemas com distribuição, um monte de comédias sendo lançadas e tendo um público alto… Acabou não sendo lançado até hoje! Mas não houve pré-estreia, imagina se tivesse ocorrido! Se teria criado uma expectativa para o público e aí não estrearia. A alternativa neste momento é o streaming mesmo.

 

Ao longo da sua carreira você fez muita TV e pouco cinema, por mais que nos últimos dois anos tenha feito cinco filmes (Uma Carta para Ferdinand, os já lançados Eu Sou Brasileiro e O Corpo É Nosso e os ainda inéditos Os Suburbanos: O Filme e Borderline). Por que isto aconteceu?
Não sei explicar o porquê. Acho que de uma produção fui passando para outra e por aí vai. Eu me dei muito bem com o cinema, era um universo que desconhecia. Tinha feito apenas dois filmes, Os Trapalhões e a Árvore da Juventude (1991) e Gatão de Meia Idade (2006), e nunca mais fiz. Aí surgiu esta onda de me chamarem pra fazer. Recebi para outros filmes também, mas de personagens que não tinha gostado. Com meu tempo de carreira, estou em um momento em que quero desafios. A personagem que fiz em Eu Sou Brasileiro, por exemplo, foi super bacana. Era uma mulher de 60 anos, descuidada, viúva, estava com 10 kg a mais… Hoje prefiro aceitar uma personagem que me dê um desafio, que saia da mesmice. Poderia até ter feito personagens as quais já estava habituada, tinha feito em novelas, só que o cinema era um desafio para mim.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.

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