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Grazi Massafera surgiu no cenário pop brasileiro como integrante do maior reality show nacional: o Big Brother Brasil! O convite para participar da quinta edição do programa surgiu logo após ter sido eleita como Miss Paraná, em 2004. No BBB, ficou em segundo lugar, mas foi o que bastava para ir rumo a um estrelato ainda maior. No ano seguinte fez uma participação na novela Páginas da Vida (2006), papel que lhe rendeu os troféus de Revelação do Ano no Troféu Imprensa, no Prêmio Qualidade Brasil e no Prêmio Contigo TV. Na mesma época, marcou presença pela primeira vez na tela grande, aparecendo no infantil Didi, O Caçador de Tesouros (2006), ao lado de Renato Aragão. Uma outra oportunidade no cinema veio seis anos depois, com a comédia Billi Pig (2012), de José Eduardo Belmonte. Ainda que não tenha sido o sucesso que se esperava, este trabalho foi importante por marcar o início de uma parceria entre ela e o diretor, que considera seu grande parceiro. E os dois uniram forças mais uma vez no suspense Uma Família Feliz (2023), que teve sua primeira exibição no Festival de Gramado e chegou recentemente ao circuito comercial. Nós conversamos com a artista durante sua passagem pela serra gaúcha, e o bate-papo completo você confere a seguir:

 

Voltando ao cinema, após tanto tempo, com Uma Família Feliz. Com um título desses, tem como não estar satisfeita?
Ainda mais agora, falando com o Papo de Cinema, não é mesmo?

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Belmonte (diretor), Gianecchini, Massafera e Montes (roteirista), na pré-estreia de “Uma Família Feliz”

Puxa, a honra é nossa! Mas vamos lá: como foi a retomada dessa parceria com o Belmonte?
A gente descobriu que tem química, então ferrou, né? (risos) Tá sendo incrível esse reencontro, porque admiro muito o . Mas vou te contar, a primeira vez que me convidou, fui assistir a um outro filme dele, o A Concepção (2005), e levei um susto. Pensei comigo mesma: “quero trabalhar com esse cara não”. Fiquei bem assustada. Nem sabia o que estava fazendo da minha vida na época, qual seria a minha carreira, e daí chega esse cara cheio de ideia maluca… não era pra mim, não. O tem uma característica muito marcante, vai na profundidade absoluta dos personagens. Tem que ter uma disposição gigante pra trabalhar com ele. Pra mim, agora, foi delicioso. A gente não passa a vida inteira pra se conhecer e às vezes nem isso é suficiente? Os personagens dele são assim. Ele deixa isso acontecer no processo de ensaio, dentro do set. Fizemos esse filme em apenas vinte dias. E me pedia várias versões de uma mesma cena. Como é também montador, na hora da edição podia escolher qual havia ficado melhor.

 

Billi Pig e Uma Família Feliz são filmes com registros completamente diferentes: um é comédia, o outro é suspense. Mas e nos bastidores, o processo também foi distinto?
Mudou tudo. No anterior minha presença era muito lúdica, nem sabia ao certo o que estava fazendo. Era uma festa, estávamos brincando. Hoje, não. Dessa vez, foi um trabalho consciente que estávamos realizando. Algo profundo, que me consumiu. Foi gostoso, também, ter crianças no set, pois permitia manter as coisas num ritmo mais leve. Elas não sabiam o que estava acontecendo, e o teve muito cuidado com isso. Foi lindo o trabalho com elas. Teve esse respeito e essa fluidez. Era preciso, porque é um filme pesado. O Raphael Montes tem essa marca. É engraçado pois, ao mesmo tempo, está sempre muito entusiasmado. Nos acompanhou no set, e foi prazeroso estarmos juntos nessa montanha-russa. Mas teve seu preço: quando as filmagens acabaram, fiquei gripada!

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Grazi Massafera nos bastidores das filmagens de “Uma Família Feliz”

Uma das regras do cinema de gênero é evitar o óbvio. Como foi para vocês manter esse suspense até o final da trama?
Isso foi o mais difícil. Afinal, na televisão, você precisa mostrar tudo, o público espera por isso, pois é necessário para que se crie um vínculo, proporcione uma empatia com o personagem. E no cinema é diferente, pois você precisa esconder. Nesse filme, em particular, foi ainda mais delicado. Pra mim, portanto, foi o maior desafio. Alcançar essa sutileza de sentir, mas esconder, e ao mesmo tempo dar pistas sem se contradizer. E dentro do contexto que essa mulher vive. Ela passa por uma quase depressão. Há uma relação um pouco tóxica, do passivo-agressivo, com esse marido. São muitas camadas. Fiquei fascinada, mas também cansada. Chegava ao final do dia exausta. Quanto mais me exigia, mais surgiam coisas a serem propostas. Era trabalhar na eminência do fracasso, pois ele é criativo. Me tirando da minha zona de conforto. E me fazendo acreditar na minha própria intuição. Afinal, uma parte é razão, o que você constrói de forma consciente, mas o resto é intuitivo, você precisa confiar. Principalmente quando você está rodeada por pessoas que admira e confia. O é essa pessoa.

 

Uma Família Feliz depende muito de você, pois está presente em quase todas as cenas. Mas, ao mesmo tempo, não sozinha. Queria que falasse um pouco dessa parceria com o Reynaldo Gianecchini.
Giane e eu queríamos trabalhar juntos fazia algum tempo. Primeiro pensamos em teatro, algo que nunca fiz e que tenho vontade. Chegamos até a ensaiar, lemos coisas, e quase estreamos. Mas daí surgiu um outro projeto mais urgente, ele também teve um compromisso, e a coisa toda acabou adiada. Então, era isso, um desejo de trabalharmos juntos. Quando surgiu esse filme, foi ele que me ligou: “bora?”. E eu, na hora: “bora!”. A ideia era perfeita, ter esse casal publicidade, família Doriana, num filme que se chama Uma Família Feliz! E, na realidade, a intenção era mostrar o oposto dessa expectativa. Quando deu certo, virei pra ele e disse: “Giane, agora é com a gente”. Pois era muito diferente do que tínhamos pensado em fazer. Era uma fuga do óbvio.

 

Você é fã de filmes de suspense?
Desde criança, lá em Jacarezinho. Minha mãe sempre deixou, via junto conosco! Quando me mudei para o Rio e comecei a ter outras obrigações, não conseguia tanto estar na minha cidade, com meus amigos, e sofria porque não encontrava ninguém para ver comigo! Foi quando comecei a assistir sozinha. É um gênero que acho o máximo. Agora, que parte de mim que se conecta com essas histórias, também não sei. Mas acho incrível. Filmes como O Iluminado (1980), O Sexto Sentido (1999), os do Freddy Krueger, todos! O Exorcista (1973), nossa, esse é bom demais!

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Cena do filme “Uma Família Feliz”

Mas teve algum específico que serviu de inspiração para a tua personagem em Uma Família Feliz?
O Bebê de Rosemary (1968) é o primeiro que vem à mente, né? Tem aquele, Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011), que é incrível! Nossa, aquela mãe sofre o diabo, pelamordedeus! Boa Noite, Mamãe (2014), também é muito bom. Ah, não posso me esquecer de A Mão Que Balança o Berço (1992), que me marcou muito. E filmes brasileiros como O Lobo Atrás da Porta (2013) e Estômago (2007), não sei qual gosto mais. De uma certa forma, também me ajudaram nesse processo. A Fabiula Nascimento é uma das minhas inspirações enquanto atriz.

 

Se colocar no lugar dessa mãe foi difícil? Ou é só mais um dia de trabalho, que quando acaba, dá pra deixar de lado e voltar ao normal?
Depende. No nosso caso, foram vinte dias muito intensos. Não tinha tempo livre. Saía seis da manhã do hotel e voltava dez da noite, ficava o tempo todo imersa na personagem. As filmagens foram em Curitiba, não estava na minha casa. Vivi, de certa forma, um pouco dessa energia durante o tempo em que estive lá. Mas quando posso, tento ter um pouco mais de tempo, pois sei que é preciso sair às vezes e espairecer. Pra respirar, mesmo. O corpo não entende! Você tá bem e, de uma hora pra outra, fica criando uma série de emoções estranhas? Deve pensar: “essa mulher tá doida!” (risos)

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Grazi Massafera apresentando “Uma Família Feliz” no Festival de Gramado

Uma Família Feliz teve sua primeira exibição no Festival de Gramado de 2023, uma edição particularmente feminina, com muitos filmes estrelados por mulheres como Vera Holtz, Emanuelle Araújo, Ísis Valverde. Como foi ter participado?
Foi importante. Primeiro, por conta da minha trajetória. Olha onde comecei e onde estou agora! E também por essa oportunidade de estar ao lado dessas mulheres incríveis. Eu amo a Vera Holtz! Só de mostrar meu filme junto com o dela já é uma honra imensa! E por conta desse filme em especial, que é muito forte. Me entreguei por completo para que ficasse o melhor possível. Fiquei nervosa, mas também feliz, emocionada. Chorei na noite de exibição. Quando lembro, nem acredito que passei por tudo isso. São as melhores lembranças.

Entrevista feita ao vivo em Gramado em agosto de 2023

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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