Há meio século o público brasileiro se acostumou a acompanhar a carreira de um dos maiores nomes do nosso cenário artístico e cultural: Betty Faria. A atriz, que já foi dançarina, produtora e teve até seu próprio teatro, é a homenageada nacional do 20° Vitória Cine Vídeo, que acontece nessa semana na capital capixaba. Premiada em todos os mais importantes festivais de cinema do Brasil – e também no exterior – a estrela de filmes marcantes como Bye Bye Brasil (1980), Romance da Empregada (1987) e Bens Confiscados (2004) falou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira como foi esse bate-papo leve e emocionante, que apresenta até algumas importantes revelações!
Betty, você está sendo homenageada por um festival que, ao mesmo tempo, apresenta em sua programação o último trabalho de um dos seus grandes parceiros, o cineasta Carlos Reichenbach, no filme Avanti Popolo (2013). É uma feliz coincidência, não?
Com certeza. Vi o filme dele ontem e fiquei muito emocionada. Já tinha visto antes, em São Paulo, mas na primeira vez a emoção foi tanta que nem pude prestar muita atenção. Mas aqui em Vitória foi como se ele estivesse ao meu lado, nós dois juntos, como tantas vezes fizemos nessa vida. Carlão precisou morrer pra descobrir uma nova profissão – ele foi premiado como Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Brasília, veja só!
Como você recebeu esse convite para vir a Vitória receber essa homenagem?
Nossa, esse é o tipo de convite irrecusável. Ano passado recebi o Oscarito, lá em Gramado, que já foi incrível. E agora estou aqui em Vitória. É muito bom, me deixa muito contente. E este festival, pra mim, tem essa importância especial ao incentivar os novos cineastas, aqueles que estão começando, fazendo curtas, os animadores. Fazer cinema é muito difícil, muito duro, tudo muito complicado. Então tem que dar força para esse pessoal. Só assim, aparecendo, mostrando o trabalho deles, é que o público irá se motivar para ir às salas de exibição.
Este ano você voltou ao cinema com o Casa da Mãe Joana 2. Como foi essa experiência?
(Risos). Filme de amigos! Foi uma delícia! Só poder tomar café da manhã com o Wilker, com o Antonio Pedro, estar ao lado do Carvana, que é meu amigo de meio século… não tem igual. A minha participação foi fácil, não teve nenhum desafio, nada difícil. Sem essas coisas que jornalista adora apontar. Foi uma grande brincadeira. Me diverti apenas por estar lá, por ter sido lembrada. O fazer foi muito prazeroso. Faço uma governanta maldita, que fica se esgueirando por trás da porta… você viu?
Vi, claro.
Ah, ótimo. Então me diga o que achou, qual foi sua opinião, para eu ter um feedback…
Achei divertido. A sua personagem acaba sendo um contraponto àquele trio de picaretas, é a golpista querendo enganar os golpistas. Ofereceu ao filme uma unidade que fazia falta ao primeiro.
É uma participação pequena. Não chega a ser, exatamente, a inimiga deles, mas responde por uma parte da trama que é divertida. Ela tá sempre pelos cantos, com motivos escusos, sem revelar exatamente o que quer. É bom ouvir sua opinião. Gostei de saber. É assim que o artista cresce, ouvindo, tendo retorno.
Você tem uma galeria incrível de personagens nestes 50 anos de carreira. Tem algum que lembre com mais carinho, com mais emoção?
Nossa, tenho muitos. Tenho até medo de falar e esquecer de algum. Tive a sorte de ter feito personagens maravilhosos, com diretores fantásticos.
Certa vez você disse que o seu sonho é o cinema. Continua assim?
Eu adoro fazer televisão e cinema. Mas o meu sonho, aquele de infância, desde menina, sempre foi o cinema. Se me perguntam: “o que você gosta de fazer?”, a minha resposta é imediata: “gosto de ver filmes, de ir ao cinema!”. É o que me dá mais prazer. O cinema tem o sonho, tem a imaginação, a fantasia. Você entra em todas aquelas situações. Sou uma “cinemeira”, louca por cinema.
Você esteve também recentemente no teatro, com Shirley Valentine, que foi um sucesso. O teatro também é uma das suas paixões?
Essa peça foi uma consagração, viajei o país todo com ela. E meio que caiu no meu colo por acaso. Foi um trabalho bom, mas também muito difícil. A gente fica sozinha no palco, é algo que não quero repetir tão cedo. Não tenho vontade de fazer teatro agora. A Clarisse Abujamra, que é minha amiga e curadora do CCBB de São Paulo, me chamou para ler uma peça lá. E fiquei pensando qual poderia ser. Shirley Valentine acabou sendo sugerida pelo Guilherme Leme, que veio a dirigir. Eu achava muito grande, mas ele fez alguns cortes no texto original, e acabamos nos ajeitando. A vida me deu de presente.
Sem teatro no horizonte, teu foco será o cinema e a televisão?
Sim. Esse ano estou em crise vocacional teatral. Já recusei quatro convites para voltar aos palcos.
Ao receber uma homenagem pelo conjunto de sua carreira, é possível também fazer um balanço de tudo que já fez…
Estou adorando receber estas homenagens. Mas não parei, não. Que venham mais convites. Estou à espera deles. Quero fazer mais personagens, para receber ainda outras homenagens no futuro (risos)!
Você já foi premiada em Gramado, Ceará, Brasília, Havana, Cartagena, Huelva… qual a importância destes reconhecimentos?
É sempre um prazer, né? Isso tudo significa muito, muita gratidão por todas as pessoas que me deram prêmios, por todos os festivais.
E quais são teus próximos projetos?
Eu não falo sobre isso. Dá má sorte. Tem que esperar, ainda vem muita coisa boa…
(Entrevista feita ao vivo em Vitória no dia 31 de outubro de 2013)
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