O belga Xavier Legrand era ator antes de dirigir o seu primeiro filme. Aos poucos foi encontrando novos caminhos e possibilidades diferentes de expressão também atrás das câmeras. O reconhecimento do talento nesta nova função veio com Custódia (2017), premiado como Melhor Filme, Atriz (Léa Drucker), Roteiro Original e Montagem no César 2019 – o Oscar do cinema francês. Desde então, esperava-se muito de seu próximo projeto como cineasta. E ele veio: O Sucessor (2023), um dos destaques do Festival Varilux de Cinema Francês 2024.
Na trama, feliz e realizado, Elias se torna o novo diretor artístico de uma renomada casa de Alta Costura francesa. Ao saber que seu pai, com quem não mantinha contato há muitos anos, faleceu de um ataque cardíaco, ele viaja para o Quebec, no Canadá, a fim de resolver questões da herança. Conversamos brevemente com Xavier Legrand na sua passagem pelo Rio de Janeiro. Muito suscinto nas respostas, ele falou sobre a relação com o livro no qual o filme se baseia (L’Ascendant, de Alexandre Postel), o método de trabalho e muito mais. Confira.
Como foi o seu primeiro contato com o livro que inspirou o filme?
Esse meu primeiro contato com o livro me deixou chocado e perturbado.
E o processo de adaptação? Há muita distância entre filme e livro? Pergunto isso, pois a trama que vimos tem soluções estritamente cinematográficas, então queria saber um pouco do processo de adaptação.
A linha principal do livro está ali, mas efetivamente há muitas diferenças se ele for comparado ao filme. No romance havia muitos temas apenas sugeridos e que decidi desenvolver no filme. Foi mais ou menos por aí.
O protagonista atende ao clichê do sujeito que volta para casa e precisa dialogar com seu passado. Então, partimos de uma familiaridade com ele e aos poucos as coisas ficam estranhas. A ideia era justamente deixar o espectador confortável e gradativamente tirar o chão sob os seus pés?
Com certeza a ideia era basicamente essa. No começo temos a volta do filho pródigo, essa figura absolutamente conhecida. E isso era importante para a jornada do protagonista e também para a do espectador quando as coisas começassem a ficar específicas.
O filme vai sendo tomado por uma sensação de morte, ganhando uma aura hitchcockiana. Aura essa manifestada pelo modo como você utiliza as espirais da passarela e da funerária. A inspiração de Alfred Hitchcock é consciente?
Era algo intencional, afinal de contas o personagem se encontra numa situação vertiginosa, ele perdeu o equilíbrio. Aliás, o comportamento da câmera também denota isso.
E como foi o trabalho com o ator que interpreta o protagonista, haja vista que muito do filme está no semblante dele?
A primeira coisa importante foi filmar em ordem cronológica. E, antes de começarmos a rodar, tratamos de construir o passado desse personagem, a relação pregressa com o pai, entre outras coisas. As sequências mais emocionais e emocionantes foram as mais exaustivamente ensaiadas, as mais preparadas, para evitarmos repetições desnecessárias, uma vez que elas eram cansativas para o ator.
E o que você está achando dessa vinda ao Brasil para o Festival Varilux de Cinema Francês?
É um privilégio trabalhar com cinema e ainda depois ter a oportunidade de dar a volta ao mundo para divulgar.
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