Thalles Cabral é um nome em ascensão entre os jovens atores. Ele ficou amplamente conhecido do público ao interpretar o filho de Félix (Mateus Solano) na novela Amor à Vida. Também cantor, se sentiu atraído imediatamente pela história de um menino de apenas 16 anos que cometeu suicídio e deixou para trás um legado musical de importância reconhecida internacionalmente. Mesmo que não se achasse parecido com Vinícius, de codinome Yoñlu, Thalles queria fazer parte do projeto. Conversas com o cineasta Hique Montanari lhe forneceram a segurança necessária para assumir o protagonismo de Yonlu (2018), cinebiografia que foge ao convencional. Depois de um longo tempo de espera, agora essa sua estreia como figura central de um longa-metragem está prestes a chegar ao público. E ele recebeu o Papo de Cinema para esta conversa depois de uma sessão do filme na Mostra de Cinema de São Paulo de 2017. Confira o bate-papo exclusivo que tivemos com o talentoso Thalles Cabral.
Thalles, como foi o processo de construção do Yoñlu?
Sou músico, mas, no violão, uma negação (risos). Assim que o Hique falou que gostaria que eu tocasse no filme, comecei a ter aulas focadas exatamente nas músicas do Yoñlu. Quando conheci o trabalho dele, ainda estava na faculdade de cinema. Pesquiso bastante sobre a área, para conhecer gente nova, e aí topei com ele no YouTube. Depois, fui atrás de toda a discografia. É muito difícil conhecer a obra do Vinicius e não chegar à sua história de suicídio. Desde lá, pensava que isso daria um belo filme. O tempo passou, trabalhava com meu amigo Ismael Caneppele no roteiro de um longa, e nós conversávamos sobre o potencial cinematográfico da trajetória do Yoñlu. Mais tarde, quando o Ismael ganhou o edital para realizar o Música para Quando as Luzes se Apagam, chamou a minha atenção para outro projeto que também tinha sido contemplado. Era o Yonlu.
E como foram esses momentos iniciais de contato com o Hique Montanari?
Conversamos bastante quando nos encontramos pela primeira vez sobre como me sentia afetado pela história, mas não me imaginava interpretando o Yoñlu. Não acreditava que éramos parecidos fisicamente e isso, na minha cabeça, era muito forte, a ponto de bloquear qualquer possibilidade nesse contato inicial. Eu falava que o filme tinha de sair e que gostaria de fazer parte. Mais adiante, o Hique me disse que achava uma bobagem essa questão da semelhança física, que isso não era preponderante. Tanto que me convenceu.
Fora os momentos imediatamente anteriores ao suicídio, você constrói o protagonista com certa serenidade. Como foi esse processo?
O caminho mais fácil seria construir ele como um garoto essencialmente depressivo, para baixo, incorrendo numa estereótipo relativo ao suicídio. Conheci muita gente depressiva que tentou se matar e essas pessoas não davam indícios. Não as imaginaria como potenciais suicidas. Esse filme tem uma mensagem importante, a importância de termos um pouco mais de cuidado, de observar com atenção as pessoas ao redor. Não fazemos a menor ideia da luta que cada um trava. Como mostramos o protagonista no quarto, que era o lugar onde tinha completo domínio, ele estava, basicamente, sempre à vontade. O computador era esse portal que o permitia se sentir bem, se conectar a partir da sua persona digital.
E isso de ele construir máscaras cotidianas fica bem evidente…
Na cena com os pais, por exemplo, transparecem as máscaras que ele usava. Tem aquela conversa das espinhas, do ingresso para o show que ele supostamente comprou. O Yoñlu vai dando pequenas pistas de evolução naquela cena, muito bonita, da leitura da redação para a sala vazia. Ele tem o completo domínio do que está fazendo, banca aquele texto. As máscaras não são utilizadas no quarto ou com o terapeuta. Era um garoto com muito argumento, travava diálogos realmente consistentes. Sobre esse momento final de desespero, conversamos bastante. Discutimos como isso seria demonstrado.
E essa responsabilidade de estrear já como protagonista?
Sorte de minha estreia com protagonista ser num filme tão significativo. Sinto bastante orgulho dele. Na nossa carreira existem vários projetos e é muito legal quando a gente consegue vestir a camisa, mesmo, de um deles. Não tem nada mais triste do que assistir a uma peça de teatro ou a um filme que tem zero para dizer. Aqui é completamente o contrário, pois a gente aborda assuntos importantes, necessários de serem discutidos.
(Entrevista concedida ao vivo, na Mostra de São Paulo, em novembro de 2017)