No Mês do Orgulho LGBTQ, não seria suficiente apenas lembrar a presença de excelentes filmes sobre a temática de gênero e sexualidade. No mar de opções disponíveis em streaming e VoD, ajuda muito destacar alguns ótimos títulos e dizer onde encontrá-los. A redação do Papo de Cinema selecionou dez excelentes pedidas do Brasil, Estados Unidos, França, Espanha e Paraguai, em ordem alfabética, para ver ou rever. Viva todas as formas de amor e todas as formas de identidade!
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A Favorita (2018), de Yorgos Lanthimos
por Francisco Russo
No sempre complexo e muitas vezes traiçoeiro jogo de poder existente por trás da realeza britânica, seria o sexo uma peça essencial na arte do convencimento? Com certeza absoluta! O pulo do gato deste drama dirigido por Yorgos Lanthimos é situar tamanha intriga entre três mulheres, uma delas a rainha Anne, de forma a fazer com que lidem com o contexto e os homens à sua volta de forma extremamente hábil, buscando sempre conquistar ou manter o poder conquistado, custe o que custar. Leia a nossa crítica.
Disponível no Telecine Play.
As Herdeiras (2018), de Marcelo Martinessi
por Robledo Milani
O longa de estreia do diretor e roteirista Marcelo Martinessi é nada menos do que o um dos maiores sucessos de todos os tempos do cinema paraguaio. E não apenas por ter conquistado o prêmio inédito para o país de Melhor Atriz (para a incrível Ana Brun, uma verdadeira revelação) no prestigiado Festival de Berlim, mas também por ter conquistado mais de três dezenas de troféus ao redor do mundo – entre eles, os seis kikitos arrebatados no Festival de Gramado – e ter se revelado um inesperado campeão de bilheteria em sua terra natal, mesmo diante tanta controvérsia e polêmicas. E tudo isso diante da singela história de duas mulheres que, após uma vida inteira juntas, se veem separadas pela primeira vez. Chiquita (Margarita Irun) não se dá por vencida quando é colocada atrás das grades até a resolução de uma questão de impostos com o governo, mas será Chela (Brun) que terá pela frente um mundo a ser conquistado, não apenas diante de um novo amor (representado pela jovem Angy, vivida com empenho por Ana Ivanova), mas também no que diz respeito a sua autodescoberta. Com bastante cuidado, o cineasta dedica seu olhar a esses relacionamentos marcados pelo tempo e pela emoção com uma delicadeza singular. E a emoção que transborda na tela contagia inevitavelmente o espectador. Leia a nossa crítica.
Disponível no Telecine Play.
Carol (2015), de Todd Haynes
por Francisco Russo
Poucas vezes uma história de amor foi transposta ao cinema de forma tão bela e intensa quanto neste filme. Com uma narrativa clássica aliada ao preciosismo estético habitual do diretor Todd Haynes, Carol entrega ainda atuações radiantes de Rooney Mara e, especialmente, Cate Blanchett. Um filme belíssimo, que lida ainda com o preconceito inerente ao conservador Estados Unidos (não apenas) dos anos 1950. Leia a nossa crítica.
Disponível na Netflix.
Desobediência (2017), de Sebastián Lelio
por Marcelo Müller
O cineasta chileno Sebastián Lélio faz sua estreia no cinema de língua inglesa com esse filme sobre amores interditados no seio de uma comunidade judia ortodoxa. Ronit (Rachel Weisz) faz o velho trajeto de volta às raízes após a morte do pai. O cinema está lotado desses descendentes que somente se reconectam com raízes outrora refutadas após uma tragédia. Esse percurso tende ao acerto de contas. Mas o realizador latino-americano dribla com elegância determinadas convenções, se aproveitando das potencialidades de outras tantas. A “forasteira” é uma forma feminina incomum nesse universo fundamentado nas figuras masculinas. Sua impetuosidade logo se choca com a pacatez de Esti (Rachel McAdams), amiga de antigamente com quem teve um caso fortuito. Mas, ao contrário de quem apartou-se dos seus em busca de independência, a atualmente casada com um sujeito representante da cultura religiosa encarregada de perpetuar certas engrenagens enferrujadas decidiu permanecer e dançar conforme a música. Sintomaticamente, é esta quem mais se sente atraída pela possibilidade da transgressão, aqui encarnada no amor homossexual evidentemente condenado pelos dogmas. Um belíssimo filme de Lélio sobre as barreiras que o amor enfrenta pelas doutrinas que pregam a necessidade de amar sobre todas as coisas. Leia a nossa crítica.
Disponível na HBO.
Dor e Glória (2019), de Pedro Almodóvar
por Robledo Milani
Nada é de graça nessa vida, parece dizer o consagrado cineasta Pedro Almodóvar neste que é, provavelmente, o mais íntimo e confessional de todos os seus filmes. Ao escolher um dos seus atores prediletos – um sensacional Antonio Banderas, indicado ao Oscar e premiado no Festival de Cannes por esse desempenho, o melhor de toda a sua carreira – para viver uma versão de si mesmo em cena, Almodóvar deixa de imediato claro o quão disposto está em abrir seu coração e entregar todas as suas verdades, sejam elas quais forem, doe a quem tiver que doer – inclusive a si mesmo. O sofrimento que emana destes personagens é quase tangível, assim como as sensações de cada pequena conquista, seja o jovem que se gruda na mãe em uma noite abandonado em uma rodoviária vazia, ou o homem de uma certa idade que se vê mais uma vez enamorado pelo mesmo amor que acreditava ter perdido, mas que agora bate à sua porta como que disposto a lhe oferecer uma nova chance. Se ele irá aproveitá-la ou não pouco importa, pois apenas o saber que ainda há surpresas a serem descobertas parece ser o bastante para seguir em frente, não apenas vivendo, mas também criando. Pois a arte é tudo o que nos resta. Um filme absolutamente indispensável, não apenas aos fãs do cineasta, mas também a todos os admiradores do bom cinema de verdade. Leia a nossa crítica.
Disponível no Telecine Play.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), de Daniel Ribeiro
por Robledo Milani
Baseado no curta-metragem Eu Não Quero Voltar Sozinho (2010), o longa de Daniel Ribeiro não apenas amplia o universo proposto inicialmente, como também aprofunda muitas das questões levantadas durante a primeira aparição de Leo (Ghilherme Lobo, premiado como Revelação do Ano no Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro), Gabriel (Fábio Audi) e Giovana (Tess Amorim). O primeiro tem nos dois seguintes seus pontos de equilíbrio e sustentação: o rapaz é a descoberta do amor juvenil, e a menina é a melhor amiga que irá lhe dar o apoio necessário para atravessar esse período tão turbulento – mas que, assim como qualquer outro, também merece um final feliz. O roteiro – também premiado no Guarani – é sensível o suficiente para não forçar nenhuma das situações, dando espaço para que essas relações se desenvolvam com leveza e graça. O resultado é encantador. Escolhido para representar o Brasil na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar, foi premiado no Festival de Berlim e rodou o mundo, servindo também como um importante lembrete que o mesmo país que é capaz de eleger um governo tão retrógrado e perturbador como o atual, também consegue nos presentear com um título tão singelo e envolvente quanto esse aqui. Leia a nossa crítica.
Disponível na Netflix.
São Paulo em Hi-Fi (2013), de Lufe Steffen
por Bruno Carmelo
A maioria das produções de temática LGBT consiste em ficções, especialmente àquelas centradas em personagens gays de idades entre 18 e 40 anos. Por este motivo, é um prazer encontrar um documentário como São Paulo em Hi-Fi, voltado à comunidade de mais de 60 anos, com atenção especial a travestis e transgêneros, investigando as origens e as transformações do que viria a se tornar uma cultura gay tipicamente brasileira. Ao se focar na vida noturna paulistana dos anos 1960, 1970 e 1980, o cineasta aborda muito mais do que as casas noturnas, resgatando uma ideia de coletividade, a possibilidade de viver abertamente a sua sexualidade na época, as gírias, as roupas, os termos que caíram em desuso. Os entrevistados abordam com leveza as suas anedotas dos bastidores, seja as positivas (as melhores noitadas, os encontros amorosos) ou as negativas (a homofobia, a transfobia e a AIDS). A comunidade LGBTQIA+ contemporânea deve muitos a estas figuras corajosas que, em sua juventude, ousaram enfrentar as normas e ditar novas regras de comportamento. Ao escutar as vozes dos protagonistas invisibilizados (às vezes até mesmo dentro da comunidade gay e trans), percebemos a importância de resgatar e celebrar a sua memória. Leia a nossa crítica.
Disponível no Spcine Play.
The Normal Heart (2014), de Ryan Murphy
por Francisco Russo
O surgimento da AIDS não só provocou pânico como também elevou o preconceito já existente em relação aos homossexuais, expostos ainda mais devido à doença. Neste telefilme exibido pela HBO baseado em fatos, pode-se acompanhar um preciso e tocante panorama sobre este momento tão difícil e doloroso, seja pela ausência de informações precisas sobre a doença, o risco de ser contaminado ou mesmo a perda de pessoas queridas, que não resistiram às doenças decorrentes do vírus HIV. Leia a nossa crítica.
Disponível na HBO.
Tinta Bruta (), de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon
por Marcelo Müller
O longa-metragem dos cineastas Filipe Matzembacher e Márcio Reolon é uma minuciosa e envolvente investigação de personagem. Pedro, vivido com intensidade por Shico Menegat, carrega um peso enorme nas costas enquanto sofre para encontrar-se. Todo ato de agressividade é necessariamente condenável? É possível equivaler a violência do opressor e a do oprimido? Essas são questões propostas aos poucos, quando já nos achegamos desse jovem chacoalhado por vários conflitos, dos afetivos aos estritamente econômicos. Seu sustento vem de apresentações eróticas disponíveis a quem recompensá-lo via internet. Um rival o ameaça porque mimetiza esse personagem, fazendo igualmente uso de tintas neon para tornar os desnudamentos performáticos. A repulsa vira atração, os opostos se engendram num jogo amoroso demarcado por certas interdições e um vínculo que não encontra validade apenas na possibilidade de tornar-se duradouro. Assim como o vislumbre do corpo via webcam conforta os solitários momentaneamente, observar a perspectiva de um enlace sentimental se apresenta a Pedro como uma tábua salvadora. Mas, em Tinta Bruta não se trata de negar a aspereza do mundo, mas de entendê-la como intrínseca e tentar amainá-la. Leia a nossa crítica.
Disponível no Telecine Play.
Um Estranho no Lago (2013), de Alain Guiraudie
por Marcelo Müller
O lago, a faixa de areia e a floresta que aparta o cenário paradisíaco do resto do mundo (hostil) são geografias utilizadas pelo cineasta Alain Guiraudie à construção de um tablado de bem-vindas exceções. Nele não são necessários os pudores, homens podem livremente querer-se sem tantas preocupações, inclusive com a privacidade, esta convenção abolida entre aqueles que se reconhecem. Desejo e perigo se imiscuem com muita habilidade e intensidade nesse suspense que assim se desenha não somente a partir da deflagração do crime, até porque o filme está muito longe de substanciar estritamente o questionamento da contravenção supostamente cometida. O terreno pantanoso também diz respeito à maneira como o protagonista olha aquele que possivelmente infringiu uma norma pétrea da coletividade. A repetição da disposição dos carros na antessala desse refúgio, a nebulosidade da relação estabelecida com um estranho geralmente apartado dos demais, a volatilidade presente entre aquilo que se almeja e o flerte inadvertido com o abismo. Em Um Estranho no Lago não há lugar para vergonhas, a nudez masculina – ainda um tabu cinematográfico – aqui é explorada de modo desbragado, com o cineasta não se furtando de apresentar o tão escondido coito homossexual como um elemento encarregado de elevar as voltagens do conjunto. Leia a nossa crítica.
Disponível no Telecine Play.
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