Para um cineasta que não leva em consideração bilheteria, e sim a arte de fazer cinema como uma realização primordial e de importância quanto a sua linguagem e temática, o Festival de Cannes é a porta de entrada para seu filme. Não só aguardado por diretores e produtores, o festival também é um dos pontos mais esperados por qualquer cinéfilo que se preze. Para alguns é até mesmo mais importante que o Oscar. Reunindo a massa artística em peso, Cannes é o mais grandioso e famoso dos festivais de cinema e traz consigo também a fama de ser um termômetro do é feito em termos de cinema mundialmente. A expectativa que se cria em cima das produções que podem ser selecionadas é tão excitante para os europeus quanto os indicados ao Oscar são para o resto do mundo. Com isso, preparamos uma seleção de dez produções que gostaríamos de ver estrear na croisette francesa.
01. Sils Maria, de Olivier Assayas
Nada desconhecido do festival, o francês Olivier Assayas traz em sua mais recente empreitada a história de uma atriz (Juliette Binoche) que se encontra no auge de sua carreira internacional e logo é convidada a interpretar um papel na peça que a fez famosa há 20 anos. Porém, dessa vez, obviamente, ela não fará a jovem que havia interpretado e sim a co-protagonista de meia-idade. Com isso, a atriz é confrontada pela jovem intérprete hollywoodiana (Chloë Grace Moretz) que tomou para si o personagem que era seu e ainda com a sua própria mente e ego. No elenco ainda está Kristen Stewart, interpretando a assistente pessoal de Binoche.
02. Deux Jours, Une Nuit, de Jean-Pierre e Luc Dardenne
Jean-Pierre e Luc Dardenne também dispensam apresentações quando se trata de Cannes. Os irmãos e diretores já venceram a Palma de Ouro duas vezes, por Rosetta (1999) e A Criança (2005), e dessa vez parecem dispostos a tentar uma terceira vitória. Dirigindo a talentosa Marion Cottilard, os Dardenne trazem a história de Sandra, uma jovem mulher que é ameaçada a perder seu emprego e tem somente como escolha convencer seus colegas a doarem a ela o bônus que recebem nos salários. Filmado na Bélgica, como é costume dos diretores, a produção é dada como certa na seleção desse ano.
03. Cemetery of Kings, de Apichatpong Weerasethakul
Cannes é um dos festivais mais surpreendentes devido a sua abertura total a linguagem do cinema. E se existe alguém que andou desdobrando esse quesito é o cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul – ou somente Joe, como os americanos tem o costume de chamá-lo. Vencedor da Palma em 2010 pelo excelente Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, esse pode ser o retorno do cineasta ao festival. Como uma fábula tailandesa, Joe contará a história de uma unidade de soldados que é acometida por uma doença que provoca um sono profundo. Porta de entrada para a fantasia característica que o cinema de Weerasethakul traz. O Tim Burton da Tailândia, sem pesar na direção de arte.
04. Birdman, de Alejandro González Iñárritu
Depois do bem-sucedido Biutiful (2010), Iñarritu sumiu. Levou quase 4 anos para conferirmos um novo trabalho do mexicano, chegando agora com seu Birdman. Estrelado por Michael Keaton, o cineasta traz aqui a sua primeira comédia dramática. Na trama, Keaton representa o papel-título, um ator que certa vez interpretou um icônico super-herói (olha a referência ao Batman de 1989) e que precisa superar seu orgulho e problemas familiares ao passo que monta uma peça da Broadway para reviver os dias de glória. No grande elenco da produção estão nomes como Emma Stone, Naomi Watts, Edward Norton e Zach Galifianakis.
05. Maps to the Stars, de David Cronenberg
David Cronenberg parece ter gostado da parceria com Robert Pattinson. Escalando mais uma vez o ex-vampiro da saga Crepúsculo como seu protagonista, aqui o diretor canadense nos apresenta a história de diversas pessoas e seus egos desenfreados na selva que é Hollywood. No elenco ainda estão Julianne Moore, Mia Wasikowska e John Cusack. Cosmópolis (2012) pode ter sido apenas um gostinho da carnificina que Cronenberg enxerga no mundo moderno e Maps to the Stars vem para complementá-lo.
06. Knight of Cups, de Terrence Malick
Depois do seu elogiado A Árvore da Vida (2011), Terrence Malick não surpreendeu plateias com o seu exageradamente dramático e contemplativo Amor Pleno (2012), que seguia os mesmos moldes estéticos de sua produção anterior. Knight of Cups pode ser a redenção de Malick ao explorar um terreno ainda focado na temática de seus filmes anteriores, os relacionamentos, mas com um tom estético menos exagerado. A trama, estrelada por nomes como Natalie Portman, Christian Bale e Cate Blanchett, é mantida em sigilo, mas boatos indicam ser uma história sobre celebridades e excessos.
07. Trois Coeurs, de Benoît Jacquot
Reunir três gerações de atrizes francesas não é para qualquer diretor e produção. Mas para Benoît Jacquot, do ótimo Adeus, Minha Rainha (2012), essa reunião era mais que possível e poderia resultar em uma história instigante. No elenco, Charlotte Gainsbourg, Catherine Deneuve e sua filha, Chiara Mastroianni, fazem parte de uma trama surpreendente de encontros e desencontros envolvendo estações de trem e muitas reviravoltas. É a oportunidade de Jacquot retornar a competição oficial em Cannes, da qual não participa desde 1998.
08. Eden, de Mia Hansen-Løve
Casada com Olivier Assayas, o cinema de Mia Hansen-Løve em muito conversa com o universo cinematográfico do marido. Mas com uma filmografia que já iniciou forte após ganhar o prêmio do Júri da mostra Un Certain Regard em Cannes por O Pai dos Meus Filhos (2009), Mia não é em nada desconhecida no meio. Com um elenco que conta com atores de diferentes nacionalidades, aqui em Eden a diretora co-escreve o roteiro junto de seu irmão, que era DJ na França nos anos 1990. Greta Gerwig, sensação no ano passado por Frances Ha (2013), co-estrela a produção ao lado de Pauline Etienne e Brady Corbet.
09. Everything Will Be Fine, de Wim Wenders
Wim Wenders é um nome que possui um peso de uma filmografia tão impecável que dispensa qualquer pré-seleção a Cannes. Em seu novo filme, estrelado por James Franco e Rachel McAdams, o cineasta alemão se encontra contando a história de um escritor que acidentalmente atropela e mata uma criança. A pergunta que fica no ar é, como esse homem seguirá adiante depois de tamanha tragédia?
10. Mommy, de Xavier Dolan
O grande sonho de Xavier Dolan desde sua primeira seleção da mostra Un Certain Regard em Cannes é adentrar a seleção oficial e concorrer com os grandes autores do cinema mundial. Longe de ser um autor menor, Dolan provou nos últimos anos ter um cinema de identidade forte, mas que precisava certamente amadurecer. Em seu último trabalho, Tom na Fazenda (2013), o cineasta ignorou o festival francês e inscreveu seu filme apenas em Veneza, onde recebeu grandes elogios pela direção mais firme e sem grandes exageros estéticos. Aqui em Mommy, Dolan se volta ao tema que lhe rendeu atenção com seu primeiro longa, Eu Matei Minha Mãe (2009), contando sobre as relações entre pais e filhos. Em uma trama que parece beber dos melodramas de Douglas Sirk e Fassbinder, Dolan pode estar a um passo de finalmente se sentir legitimado por Cannes na seleção oficial.