A vigésima edição do Vitória Cine Vídeo – o Festival de Cinema do Espírito Santo – começou na segunda-feira, dia 28 de outubro, celebrando a prata da casa. Em seis dias o festival irá apresentar, em oito mostras competitivas e/ou especiais, mais de 100 filmes diferentes, entre curtas, médias e longas-metragens. Se durante dezessete anos o evento se firmou como uma das principais janelas de exibição do que era produzido anualmente em obras curtas de todo o país, nos últimos dois anos abriu-se espaço também para trabalhos de maior duração, aumentando sua gama de atuação e também o impacto no cenário cinematográfico nacional. E o festival tem refletido também na própria produção audiovisual capixaba: em 2013, há trabalhos feitos no estado em todas as mostras apresentadas!
Inspirado por esse aumento da participação local, o Vitória Cine Vídeo começou com uma homenagem a um dos maiores nomes do cinema capixaba: Orlando Bomfim Netto. Mineiro de nascença, carioca de vivência e morador de Vitória há mais de trinta anos, Bomfim é, atualmente, vice-presidente do Congresso Brasileiro de Cinema. Já foi presidente do Departamento Estadual de Cultura, diretor da TV Educativa do Espírito Santo e fundador e primeiro presidente da ABD Capixaba. Após um discurso emocionado, em que até seu filho mais velho, que mora em Los Angeles, veio especialmente – à convite do festival – para parabenizá-lo, o cineasta apresentou sua mais recente obra, o documentário em curta-metragem Casaca.
A exibição, em caráter hors concours, abriu a Mostra Foco Capixaba, que ainda apresentou outros cinco curtas em competição. Casaca trata, num formato bastante didático, sobre um instrumento musical característico da região, vindo da tradição indígena e que hoje está incorporado à cultura popular. Bonito, bem ilustrado e com boa produção, não escapa do velho formato de reportagem com cabeças falantes, sem muita originalidade em sua apresentação, no entanto.
O mesmo pode ser dito dos outros dois curtas-metragens documentais a respeito de questões próprias do universo capixaba apresentados na mesma ocasião. O primeiro, Reikwaapa, até se destaca um pouco ao inserir passagens ficcionais no meio de sua narrativa, que aborda como os costumes dos índios tupiniquins e estão se perdendo de uma geração para outra. Já O Congueiro do Santo Preto, a respeito de uma festa popular muito conhecida por aqui, se perde pela longa duração, excesso de depoimentos e pouco conteúdo diferenciado. Ou seja, o interesse do espectador se esgota muito antes do final do filme.
Melhor sorte tiveram as estudantes Naiara Bolzan e Cristina Margon, que estreiam como realizadoras com Sinal Vermelho, sobre artistas de ruas que vivem de performances em sinaleiras e semáforos. A variedade dos entrevistados chama atenção, assim como a boa edição e escolha delicada da fotografia. Os poréns, aqui, se restringem à trilha sonora – melosa e pueril – e a um dos retratados que não se encaixa com os demais: uma estátua viva, daquelas que ficam em praças. Afinal, o ganho desse pode vir dos passantes, mas não dependendo do fluxo dos sinais verde, amarelo e vermelho, como os demais.
A Mostra Foco Capixaba foi completada com mais dois curtas de ficção, representando bem os extremos da noite: estes títulos responderam pelo melhor e pelo pior desta seleção. O primeiro foi Nêga do Ébano, de Valentina Krupnova, que na apresentação de sua obra já adiantou o desastre que estava por vir: “o final original era trágico, mas tive que alterá-lo porque a atriz principal exigiu que tivesse uma conclusão feliz para a personagem”, afirmou diante de uma plateia estupefata. De resultado constrangedor – houve diversos momentos de risos involuntários da plateia, tamanha a ruindade do que era visto – o filme se apresenta como uma versão black de Branca de Neve, com Maria Ceiça – vista em longas como Se Eu Fosse Você (2006) e Orfeu (1999) – como a moça sem rumo que acaba indo parar na casa de sete ladrões, e com eles participando de pequenos golpes. A falta de uma direção firme deixa tudo ainda pior do que se poderia imaginar.
No extremo oposto, a boa surpresa foi Fragma, de Eduardo Moraes. Rafael Primot (visto em longas como As Alegres Comadres, 2003) é um homem indo em direção a outro, interpretado pelo próprio diretor. O encontro dos dois desperta várias lembranças, algumas boas, outras ruins, muitas necessárias. Luiz Carlos Vasconcelos faz uma participação pequena, sem falas, mas marcante, apontando para uma conclusão impactante. Com apenas 12 minutos de duração, é um excelente exemplo de como um curta-metragem deve ser: direto, emocional, que saiba se comunicar através da imagem, acima de tudo. Foi o único filme digno de aplausos mais entusiasmados.
A primeira noite do Vitória Cine Vídeo terminou com o primeiro longa-metragem feito no estado a ser apresentado dentro da programação do festival em suas vinte edições: Mar Negro, de Rodrigo Aragão. O longa de terror estreou nacionalmente em maio, durante o Fantaspoa – Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre, e desde então já passou por mais de vinte festivais no Brasil e no exterior. E agora chega finalmente à sua terra de origem, tendo sido recebido com entusiasmo. Capítulo final da trilogia iniciada com Mangue Negro (2008) e A Noite do Chupacabras (2011), trata-se de uma história de terror realmente assustador, que em nada fica devendo aos seus paralelos hollywoodianos. Uma boa surpresa que deve marcar presença também na noite de premiação!
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Robledo, ser um opinador é muito fácil, mas às vezes é preciso tomar cuidado quando não se entende alguma proposta e fala o que vem à mente.
Um problema crítico da crítica, quando não sabe falar de música, usa termos rebuscados para esconder a incapacidade de análise mais profunda. "Menos olvido, mais ouvido", já diria o sábio poeta Augusto de Campos.