A Mostra Foco Capixaba tem lugar de destaque neste 21° Vitória Cine Vídeo. Em sua terceira edição, o recorte do curador Rodrigo de Oliveira cumpre uma dupla função: didática e divulgadora.
Para o público local, é o estímulo à produção cinematográfica, uma vez que contempla o justo reconhecimento dos nomes que trabalham para e pelo cinema. Por sua vez, os estrangeiros encontram na Mostra uma seleção que serve como introdução ao momento visual do Espírito Santo. Pela primeira vez, por exemplo, a seção conta com uma animação. A variedade temática e formal chama atenção por trazer um olhar que, independente das variações de estilo, dialoga diante da comunhão de um relicário comum – em especial, a potência da memória e o questionamento do visível.
Exibida como a primeira Mostra do Festival, a Foco Capixaba encontrou o Theatro Carlos Gomes abarrotado, na sexta-feira de abertura: pessoas sentadas; pessoas em pé; pessoas ocupando a entrada, o chão e as escadas do Theatro – pessoas. Todas com um interesse em comum, fazendo com que a lotação não fosse um problema, mas uma virtude.
Desfragmentos, de Melina Leal Galante
A história subsiste a tudo e a todos, impregnada no mais ínfimo espaço, como um deus silencioso. A partir de um local de pisos e azulejos abandonados, o documentário de Melina Galante propõe uma investigação digna da semiologia de Roland Barthes, ainda que evidentemente mais moderna, ágil e objetiva. A convicção de que os restos nos dizem mais sobre o que fomos e somos revela, de outra forma, o infinito de histórias possíveis no subterrâneo do que não é realizado.
Pássaro de Papel, de Léo Alves
A nostalgia é o futuro emoldurado. No trabalho de Léo Alves, o protagonista é um fotógrafo em busca da manutenção do passado. Uma família é recuperada e volta a habitar o mesmo espaço – talvez pela primeira vez em harmonia, quem sabe – na esfera redefinida da memória. Com traços de um olhar em que a delicadeza das imagens coabita com a contundência da recriação.
Pela Janela, de Diego de Jesus
A janela por que olha a personagem principal do filme de Diego de Jesus é um símbolo claro das dimensões do olhar. O visto e o não-visto, as configurações daquilo que está presente e do que está ausente – o olhar não é algo mais senão uma convicção. A envolver e confundir, a narrativa conflitante de Jesus – porque apenas o óbvio repele o conflito – estimulou o público, que lhe respondeu com uma das melhores recepções da noite.
Saia, de Davi de Jesus Cao
A polissemia que o diretor fez questão de explicar no palco, durante a apresentação da Mostra, incorporou todo o trabalho da animação de Davi. Substantivo e imperativo, Saia tem a força de um assédio visual, em que os movimentos, por mais inesperados que sejam, colocam em jogo uma nova realidade, inventiva e instigante.
Vitória F.C., de Vitor Graize e Igor Pontini
O cotidiano de um clube de futebol é o seu maior prêmio. Não porque as conquistas em campo foram poucas, mas porque o trabalho de Graize e Pontini redefine, na natureza do olhar, a hierarquia dos significados. No centenário do Vitória F.C., as vitórias em campo são coadjuvantes frente as conquistas diárias. Arqueologia sensível, transmitida através da precisão dos enquadramentos – a grama cortada, a fé, a mística do roupeiro – revela ao público a beleza insuspeita deste tipo estranho de troféu.
(Direto de Vitória, enviado pelo Papo de Cinema, veículo convidado do 21° Vitória Cine Vídeo)
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