21° Vitória Cine Vídeo :: IV Mostra Quatro Estações

Publicado por
Willian Silveira

Era pouco depois da meia-noite quando o 21° Vitória Cine Vídeo iniciou a apresentação da IV Mostra Quatro Estações. A discussão da diversidade sexual fez renascer no interior da arquitetura neorrenascentista do Teatro Carlos Gomes um público interessado em ver e pensar a sexualidade no Brasil. Com um recorte a contemplar do Rio Grande Sul a Pernambuco, passando por Goiás, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro, a Quatro Estações fechou com qualidade a primeira noite do Festival.

 

Canto de Outono, de André Antônio
Sinestésico, embebido pelo mal du siècle brasileiro, exortando Baudelaire (mas com a dívida burguesa a Rimbaud), o curta de André Antônio apresenta e desperta a irrepreensível potência do cinema. A libertação do jovem protagonista – que se descobre, antes de tudo, porque se permite a descoberta – é feita através da exploração do som puro (da poesia e da trilha sonora) e da imagem – esta por vezes exibicionista e tantas outras generosa. A união resultou em um dos trabalhos mais impressionantes da noite.

 

Embaraçadas, de Paulo Sena
A gravidez, considerada um presente, não deixa de ser, no curta de Paulo Sena, também dúvida. Há uma relação muito forte entre as mulheres levadas à cena. O mais impressionante, porém, não está no discurso, no dito – certamente o ponto frágil do trabalho – mas, sim, no poder do movimento. Se o núcleo dramático pode ser questionado, o amor e a dança – em dois momentos inspirados – embalam o impacto de um mesmo desenho.

 

Linda: Uma História Horrível, de Bruno Gularte Barreto
Inspirado em um conto do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, Bruno Barreto compôs a canção de dor da noite. Em cena, um filho visita a mãe. A diferença entre os dois será visível no decorrer da conversa. Mas a tragédia os aproxima tanto quanto a solidão – esta última, a tragédia inata. O compasso com que a direção rege as atuações consagra certos momentos, mas aponta problemas de dinâmica. A fotografia acompanha com classe a tensão imposta. A velhice de um e a doença do outro levam ao público uma toada silenciosa e aflitiva.

 

O Olho e o Zarolho, de Juliana Vicente e René Guerra
A dupla Juliana e René trouxeram o filme mais urgente da noite. Urgente no sentido político e afetivo. Em cena, um casal de mulheres tem de lidar com o filho adolescente. Ou seja, lidar com a homossexualidade expandida para o outro – para o convívio do menino com os amigos e na escola. A conquista precisa ser em dois âmbitos, no público e no privado. Com um trabalho pouco convencional, o curta comunica o drama ao mesmo tempo em que aponta para a pressa da questão.

 

Uma Carta Para Heitor, de Larissa Fernandes
Beatriz desconfia que a resposta para os problemas da família se encontra fora de casa. Encontrar o pai verdadeiro pode soar como uma solução parcial, mas é uma solução. A menina sai, então, em busca de juntar as peças de um passado que os adultos parecem ter feito questão de separar. Vem pela direção de Larissa Fernandes o retrato mais singelo da Mostra. Abordar com leveza um tema delicado e profundo sem imprimir dimensões estranhas aos personagens é algo raro. Há uma medida exata a qual o cinema de Fernandes aponta e atinge: equilíbrio.

(Direto de Vitória, enviado pelo Papo de Cinema, veículo convidado do 21° Vitória Cine Vídeo)

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.

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